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Lição 2: Preparação para a Entrada na Terra (Josué 2:1-24)

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Introdução

Em termos humanos, quão difícil era a tarefa com que se confrontavam Josué e o povo, no que dizia respeito a entrar na terra de Canaã? Quais eram alguns dos obstáculos que Josué e o povo enfrentavam? Enquanto líder, Josué tinha de lidar com suceder a um líder como Moisés e liderar um grupo de pessoas teimosas e de cerviz endurecida. Todos juntos, enfrentavam cidades fortificadas, gigantes e um Jordão inundado. Tudo aquilo que Josué e o povo eram chamados a fazer, humanamente falando, estava muito além das suas capacidades - desde a travessia das águas transbordantes e turbulentas do Jordão até à conquista do povo feroz, poderoso e ímpio que ocupava a terra.

Independentemente destes obstáculos, acreditando nas promessas de Deus, aplicando os princípios da Palavra de Deus e contando com a presença da Sua pessoa, Josué seguiu corajosamente em frente, enviando em segredo dois homens para espiarem a terra, a fim de recolherem a necessária informação estratégica e táctica de que qualquer comandante militar precisaria com vista a planear uma estratégia bem-sucedida para tomar a terra.

Josué Envia os Espiões (2:1a)

1a E enviou Josué, filho de Nun, dois homens, desde Sitim, a espiar secretamente, dizendo: Andai e observai a terra, e a Jericó.

Poderíamos perguntar por que enviou Josué os espiões. Era isso necessário caso confiasse verdadeiramente no Senhor? Afinal de contas, não prometera Deus a Josué que lhe daria sucesso? Por que não se limitou a seguir em frente, sabendo que, de alguma forma, Deus providenciaria o que fosse necessário? De facto, a batalha era do Senhor… não era?

Para esta acção, Josué tinha como precedente a liderança e exemplo de Moisés – acção esta que resultava do próprio comando de Deus em Números 13:1-2. Por aplicação, Josué estava a viver e a agir segundo os preceitos da Escritura, conforme lhe fora ordenado em 1:7-8.

Embora Josué tivesse a promessa da salvação de Deus, não fora instruído quanto à forma como Deus derrotaria os inimigos que enfrentavam. À imagem de um líder militar prudente, limitava-se a recolher informação concernente à disposição das defesas inimigas, à condição da sua moral e a outros factores importantes em qualquer campanha militar. Além disso, não era suposto que presumisse do Senhor. Deveria confiar implicitamente no Senhor mas, em paralelo com tal confiança, cabia-lhe usar os recursos que Deus lhe dera: o trino, os homens e a sabedoria que fora adquirindo. Veja Mateus 4:6-7.

Princípio: A fé na provisão do Senhor não deverá nunca levar a presumir dos decretos ou acções soberanas de Deus, dos nossos sentimentos intuitivos ou das nossas vontades e desejos. A fé olha para os princípios aplicáveis da Escritura, recolhe a informação ou factos necessários para tomar decisões sensatas e, depois, baseando-se em princípios bíblicos e nos factos conhecidos, segue em frente, confiando na provisão e orientação do Senhor (compare com Lucas 14:31). Caso o Senhor deseje intervir de forma miraculosa como fez em Jericó, fantástico – mas não devemos presumir dos Seus caminhos soberanos.

Porquê o secretismo? Obviamente, os espiões deveriam introduzir-se na terra em segredo, tal como os espiões normalmente fazem. Aqui, a referência ao secretismo estava relacionada com o povo de Israel. Josué não informou as pessoas de que enviaria espiões. Neemias procedeu de modo similar quando inspeccionou Jerusalém. Josué estava a agir em nome dos propósitos de Deus e do melhor interesse do povo. Lembrava-se do malvado relatório dos espiões da geração precedente e da maneira como este desencorajara o povo. As pessoas são pessoas, e ele não pretendia que colocassem desnecessariamente os seus olhos sobre os problemas.

Princípio: Por vezes, é sensato da parte dos líderes fazerem o necessário de modo a manterem os olhos do seu povo fixos no Senhor e nas Suas promessas, em detrimento de nos problemas. A necessidade é de encorajamento mútuo. Em algumas circunstâncias, temos de enfrentar os problemas, mas devemos aprender a fazê-lo através dos olhos da fé na pessoa, promessas, princípios e propósitos de Deus. Este era um assunto de discrição e de orientação de Deus mediante estudo e conhecimento do que seria melhor nesta situação particular. Por vezes é bom chamar a atenção de todos para os problemas, outras vezes não é (compare com Neemias 2:4-17).

Repare que o texto diz “e a Jericó”, o que nos mostra que Josué estava particularmente interessado nesta cidade. Porquê? Jericó ficava a apenas cinco milhas (cerca de oito quilómetros) do outro lado do Jordão, e era uma das fortalezas mais formidáveis da terra. Conquistar esta cidade não só lhes daria uma base forte na terra, como também fragmentaria literalmente as forças dos cananeus – ao irromperem pelo meio de Canaã, os israelitas levantariam obstáculos às suas linhas de comunicação e abastecimento. Tal providenciaria um efeito desmoralizador adicional sobre os restantes habitantes.

Princípio: Novamente, isto ilustra a forma como, após orarmos por sabedoria (Tiago 1:5), termos de inspeccionar e avaliar as nossas próprias circunstâncias: onde estamos, para onde precisamos de ir, o chamamento de Deus nas nossas vidas, os nossos dons e talentos, as nossas fraquezas, impedimentos e as situações e forças que enfrentamos. Depois, com base nessa informação, estabelecemos planos, metas e objectivos, em paralelo com prioridades, e atacamos o problema em concordância, enquanto confiamos na intervenção e direcção de Deus (veja Provérbios 16:1 ss). Comece pelas coisas mais importantes e trabalhe nelas uma a uma. Tal inclui a nossa vida pessoal (necessidades espirituais, físicas e educacionais), vida familiar (relações, necessidades espirituais em família, etc.), vida eclesiástica, vocação pessoal e assim por diante.

Os Espiões Recebidos por Raab (2:1b)

1b Foram, pois, e entraram na casa de uma mulher prostituta, cujo nome era Raab, e dormiram ali.

Raab é mencionada oito vezes na Escritura (Josué 2:1, 3; 6:17, 23, 25; Mat. 1:5; Hebreus 11:31; Tiago 2:25); em seis dessas ocorrências, o seu nome é acompanhado por um substantivo descritivo específico. Sabe qual é? É “meretriz”. Por que iriam os homens ter com uma meretriz? Poderemos aprender alguma coisa deste acontecimento?

Tal facto tem criado problemas a muitos. De forma a remover tal este estigma – afinal, o nome dela aparece listado entre os antepassados do Salvador em Mateus 1:5 -, já foi mesmo argumentado que não seria uma meretriz, mas somente uma “estalajadeira”.

Um expositor, Pink, admite que ela tenha sido uma meretriz, mas é evidente que isso o incomoda. Ele disse: “Foram divinamente guiados até àquela casa em particular, embora não seja provável que no início estivessem pessoalmente conscientes desse facto”. Algumas linhas à frente, acrescenta: “A casa na qual se haviam abrigado pertencia a uma meretriz, de nome Raab: ainda que já não praticasse o seu negócio malvado, fora anteriormente uma mulher de má fama, estigma que ainda a perseguia”. 1

A menos que Pink assuma de 2:9 ss que a declaração de fé de Raab abrangia a compreensão da Lei e respectivos estatutos, não vejo suporte bíblico para esse argumento, mas apenas um preconceito quanto à possibilidade de Deus usar uma mulher assim e de a trazer até Si enquanto ainda trabalhava como meretriz. É quase como se ela tivesse de limpar o seu acto antes de poder ser salva ou de Deus conseguir operar no seu coração.

Josefo (Antiguidades dos Judeus, livro V, capítulo 1, 2) procurou ilibar os espiões de qualquer suspeita de ficarem na casa de uma prostituta, chamando a Raab “estalajadeira” (compare com a nota de margem na Nova Versão Internacional). Contudo, “estalajadeira” e prostituta” eram sinónimos naquela cultura (compare com o Theological Wordbook of Old Testament, p. 246). A casa de Raab era o único lugar onde os homens poderiam ficar com alguma esperança de permanecerem indetectáveis e onde lhes seria possível recolher a informação que procuravam. Para além disso, a casa dela providenciava uma forma fácil de fuga, já que se localizava no muro da cidade (v. 15). Não há indicação de que Raab fosse uma prostituta do templo. 2

Provavelmente, os dois espiões conheceram-na na mesma rua onde talvez praticasse o seu ofício; ou quiçá, ouvindo falar deles, estivesse à sua procura fingindo angariar clientes, de acordo com o costume de uma meretriz ou mesmo de uma estalajadeira (compare com Provérbios 7:6-23). Por esta altura, ela começara a crer que o Deus de Israel era o verdadeiro Deus; porém, ao viver nesta cultura totalmente decadente, é improvável que conhecesse bem a Lei de Moisés.

Raab poderá ter identificado os homens como forasteiros e, por causa do estado de alerta de toda a cidade – motivado pela possibilidade de espiões -, bem como das suas convicções acerca do Deus de Israel, terá concluído que eram israelitas, convidando-os para sua casa, por motivos de protecção e expressão da sua fé, mas não de negócio.

Esta ocorrência ilustra maravilhosamente a graça de Deus. Ele não faz distinção de pessoas. Aceita-nos e perdoa-nos, não por causa do que somos ou do que poderemos ser, mas sim pelo Seu Filho, por causa do que Ele faria e que agora faz e fará através daqueles que confiam n’Ele e agem na fé. Não importa o que fomos ou costumávamos ser. O que interessa é Jesus Cristo, o que Ele fez, e se vamos ou não colocar n’Ele a nossa confiança.

Isto também aponta para o controlo soberano de Deus sobre os assuntos dos homens e para a forma como dirige os passos dos que confiam na Sua provisão ou procuram conhecê-Lo melhor. Deus actuara no coração de Raab; conhecia a sua fé, a sua ânsia quanto a conhecê-Lo e quiçá tornar-se parte do Seu povo; por isso, Deus operou soberanamente, juntando os espiões e Raab para protecção dos primeiros e bênção da segunda.

Deus poderia ter tornado os espiões invisíveis, ferido as pessoas com cegueira ou recorrido a anjos, mas escolheu antes usar dois homens e uma mulher, caminhando pela fé com coragem para agirem segundo as suas convicções – Ele optou por utilizar as circunstâncias mais normais da vida.

Princípio: De modo a confiarmos no Senhor, estaremos nós
à procura de milagres, do sensacional, pedindo experiências fora do normal antes de sairmos e confiarmos n’Ele? Ou estaremos dispostos a sair rumo às situações normais da vida, confiando em Deus para que nos use e dirija às pessoas comuns cujos corações tocou?

Repare que Josué é uma combinação interessante entre o miraculoso e o comum.

O Rei É Informado e Questiona Sobre os Espiões
(2:2-3)

2 Então deu-se notícia ao rei de Jericó, dizendo: Eis que esta noite vieram aqui uns homens dos filhos de Israel, para espiar a terra. 3 Pelo que enviou o rei de Jericó a Raab, dizendo: Tira fora os homens que vieram a ti, e entraram na tua casa, porque vieram espiar toda a terra.

Estes versículos indicam que toda a cidade se encontrava em alerta, tendo os espiões sido reconhecidos e vistos a entrar na casa de Raab. O facto de o rei não se ter limitado a derrubar a porta e a invadir a casa poderá ter sido uma questão de hospitalidade oriental. Mesmo nesta cidade decadente, havia um grande respeito pela hospitalidade. De facto, Unger diz: “O costume oriental concede um respeito quase supersticioso aos aposentos de uma mulher”. 3

O rei terá assumido que os espiões estavam com Raab. Tal como nos tempos modernos, na antiguidade as prostitutas estavam frequentemente envolvidas em actividades secretas. O rei esperava que Raab cumprisse o seu dever patriótico e entregasse os espiões. O antigo código penal de Hamurabi contém a seguinte provisão: “Se conspiradores se encontrarem na casa de um dono de taberna, e estes conspiradores não forem capturados e levados à corte, o dono da taberna deverá ser condenado à morte” (S.R. Driver e J.C. Miles, The Babylonian Laws [Oxford: Clarendon, 1956], 2:45).4

Raab Mente e Esconde os Espiões
(2:4-7)

4 Porém, aquela mulher tomou a ambos aqueles homens, e os escondeu, e disse: É verdade que vieram homens a mim, porém eu não sabia donde eram. 5 E aconteceu que, havendo-se de fechar a porta, sendo já escuro, aqueles homens saíram: não sei para onde aqueles homens se foram: ide após eles, depressa, porque vós os alcançareis. 6 Porém ela os tinha feito subir ao telhado, e os tinha escondido entre as canas do linho, que pusera em ordem sobre o telhado.7 E foram-se aqueles homens após eles, pelo caminho do Jordão, até aos vaus: e fechou-se a porta, havendo saído os que iam após eles.

Nestes versículos, Raab esconde os espiões, mente no intuito de proteger os soldados e envia os oficiais do rei numa busca vã. Uma vez que agir de outro modo era um acto de traição punível com a morte, o rei acreditou na sua lealdade e não ordenou que a sua casa fosse revistada.

Neste ponto, seria útil focar dois versículos no Novo Testamento e um no Antigo:

Hebreus 11:31 Pela fé, Raab, a meretriz, não pereceu com os incrédulos, acolhendo em paz os espias.

Tiago 2:25 E, de igual modo, Raab, a meretriz, não foi, também, justificada pelas obras, quando recolheu os emissários e os despediu por outro caminho?

Josué 6:17 Porém, a cidade será anátema ao Senhor, ela e tudo quanto houver nela: somente a prostituta Raab viverá, ela e todos os que com ela estiverem em casa; porquanto escondeu os mensageiros que enviámos.

Por que é que Raab foi salva? Porque acreditava no Deus de Israel. Esconder os mensageiros foi uma manifestação da sua fé. Tratou-se de uma ilusão calculada a fim de os proteger, à semelhança de muitas pessoas piedosas que esconderam judeus em países europeus durante a Segunda Guerra Mundial.

Primeiramente, o que Raab fez foi uma questão de fé. Ela passara a crer que o Deus de Israel era verdadeiramente “Deus em cima nos céus e em baixo na terra” (2:11), pertencendo ao Hall da Fama no capítulo da fé.

Em segundo lugar, a fé de Raab, que lhe deu convicções fortes a respeito de Deus, levou-a a agir segundo a sua fé a ponto de colocar em jogo a sua própria vida. Ela sabia que Israel atacaria eventualmente a cidade, uma vez que o seu Deus era o Deus verdadeiro, e desejava ser salva e tornar-se parte da nação. Não sabia muito sobre o Deus de Israel, as Suas leis de justiça ou o caminho da salvação, mas estava ciente de que Ele era o Deus supremo. 

E quanto à mentira de Raab? Seria justificável? Será que a Escritura a perdoa? A maioria dos comentadores aprova a sua fé, mas desaprova a sua mentira. No fundo, aprovam que tenha escondido os espiões, mas não que contasse mentiras. Por exemplo:

O Dr. Campbell escreve: “Desculpar Raab por ceder a uma prática comum é perdoar o que Deus condena… A mentira de Raab foi registada, mas não aprovada. A Bíblia aprova a sua fé, demonstrada através de boas obras, mas não a sua falsidade.” 5

O Dr. Unger escreve: “É óbvio que a mentira de Raab era moralmente incorrecta.” 6

Pink concorda e diz: “Ela falhou quanto a confiar plenamente no Senhor, e o temor do homem trouxe uma armadilha. Aquele cujos anjos feriram os homens de Sodoma com cegueira (Gén. 19:11) e que matara os cinquenta homens enviados para prenderem o Seu profeta (2 Reis 1:9-12) poderia ter evitado que os oficiais encontrassem os espiões.” 7

Mas estará isto correcto? O que era suposto que ela dissesse? “Se acham que eles estão aqui, entrem e revistem a casa.” Note, por favor, que se tratava de uma questão de guerra.

Em 6:17, Josué explicou que Raab foi poupada por ter escondido os espiões, agindo como aliada. Sejamos honestos. Quando vai de férias, deixa uma luz acesa ou programa a sua televisão para ligar à noite, a fim de dar a impressão de estar em casa quando, na verdade, não está? Fazemos isto de modo a enganar os intrusos, embora não seja verdade.

Repare no que diz o Expositors Bible Commentary (Comentário Bíblico Expositors): “Raab mentiu tanto no que fez quanto no que disse. A ilusão era uma importante estratégia de guerra. A espionagem seria impossível sem tal elemento. Ao esconder os espiões, Raab aliou-se a Israel contra o seu próprio povo. Foi um acto de traição!” 8

Em preparação para o Dia D na Segunda Guerra Mundial, deixamos propositadamente os alemães acreditarem que íamos invadir a França em Calais, creio, quando a nossa intenção consistia em invadir as praias de Omaha e Utah em Cherbourg, França.

A Declaração de Fé de Raab
(2:8-13)

8 E, antes que eles dormissem, ela subiu a eles sobre o telhado; 9 E disse aos homens: Bem sei que o Senhor vos deu esta terra, e que o pavor de vós caiu sobre nós, e que todos os moradores da terra estão desmaiados diante de vós. 10 Porque temos ouvido que o Senhor secou as águas do Mar Vermelho diante de vós, quando saíeis do Egipto, e o que fizestes aos dois reis dos amorreus, a Séon e a Og, que estavam dalém do Jordão, os quais destruístes. 11 Ouvindo isto, desmaiou o nosso coração, e em ninguém mais há ânimo algum, por causa da vossa presença, porque o Senhor, vosso Deus, é Deus em cima nos céus e em baixo na terra. 12 Agora, pois, jurai-me, vos peço, pelo Senhor, pois que vos fiz beneficência, que vós, também, fareis beneficência à casa do meu pai, e dai-me um sinal certo, 13 De que dareis a vida ao meu pai e à minha mãe, como também aos meus irmãos e às minhas irmãs, com tudo o que têm, e que livrareis as nossas vidas da morte.

Primeiramente, vemos a confiança e convicção de Raab quanto ao poder do Senhor. De alguma forma, sabia do que havia ocorrido no Mar Vermelho e mais tarde, bem como que tal resultara do poder soberano do Deus de Israel. O que dividira o Mar Vermelho não fora meramente produto do engenho de Israel ou algum capricho da natureza.

Aplicação: Isto recorda-nos que as nossas vidas não devem limitar-se a ser diferentes; deve existir algo nelas que aponte para Deus como a razão pela qual são distintas nas coisas que fazemos e dizemos – tais como ir à igreja, a nossa preocupação com outras pessoas e suas necessidades e o nosso testemunho específico, que confere um motivo para a esperança dentro de nós (1 Pedro 3:15-16).

Em segundo lugar, vemos a confiança e convicção de Raab no Deus de Israel (Javé) como o único Deus verdadeiro, que reina sobre o céu e sobre os assuntos dos homens na terra. A sua declaração no versículo 11 – “…porque o Senhor, vosso Deus, é Deus em cima nos céus e em baixo na terra” – é mais do que a constatação de que o Deus de Israel fosse uma divindade. A ideia é de que Ele – e apenas Ele – É o Deus verdadeiro, envolvido nos assuntos da terra e dos homens.

Aplicação: Tal recorda-nos o envolvimento de Deus nas nossas vidas. Ele É o Deus soberano que mantém unidas todas as coisas pela palavra do Seu poder, que actua nas nossas vidas. Será que vivemos à luz deste facto?

Terceiro, vemos a confiança e convicção de Raab quanto ao julgamento iminente do seu povo e ao seu desejo de ser salva, aliando-se ao Deus de Israel (vs. 13). Repare em “Agora, pois…”, que indica que este pedido resultou do seu conhecimento, convicção e fé relativamente ao Senhor.

Em quarto lugar, vemos nos versículos 12-13 que não estava somente preocupada consigo mesma. A sua preocupação incluía a sua família ou agregado familiar. Este é o plano número um de Deus para o evangelismo – a nossa rede familiar, de amigos e colegas de trabalho.

Aplicação: Quão preocupados e focados estamos naqueles que nos rodeiam – orando pela salvação, procurando conhecê-los e amá-los e, eventualmente, partilhando o amor de Cristo?

Os habitantes da terra encontravam-se aterrorizados. Três vezes neste capítulo, o verbo “desmaiar” é usado para descrever o estado emocional ou a moral das pessoas (vss. 9, 11, 24). Mental e emocionalmente, eram um povo vencido. Deus já entregara nas mãos de Israel o povo de Jericó. Há quanto tempo seria este o caso? Desde que haviam ouvido falar dos eventos no Mar Vermelho (2:9-11).

A questão que se coloca é a seguinte: teria Israel conhecimento disto? Com a excepção de Moisés, Josué e Caleb, os israelitas recusaram acreditar na promessa de Deus; em vez disso, permitiram que o relatório negativo dos dez espiões fizesse desmaiar os seus corações, pois focavam os problemas em detrimento do seu Deus.

Repare na ironia aqui presente: os nativos contemplavam o Deus de Israel e tremiam nas sandálias. Já os israelitas, que tinham testemunhado as obras poderosas de Deus vez após vez, olhavam para os seus problemas em lugar de para Deus, estando aterrorizados na descrença.

Atente nas passagens seguintes:

25 Depois, voltaram de espiar a terra, ao fim de quarenta dias. 26 E caminharam, e vieram a Moisés e a Aarão, e a toda a congregação dos filhos de Israel, no deserto de Paran, a Cades, e, tornando, deram-lhes conta a eles, e a toda a congregação, e mostraram-lhes o fruto da terra. 27 E contaram-lhe, e disseram: Fomos à terra a que nos enviaste; e verdadeiramente mana leite e mel, e este é o fruto. 28 O povo, porém, que habita nessa terra, é poderoso, e as cidades fortes e mui grandes; e também ali vimos os filhos de Enac. Os amalequitas habitam na terra do sul; e os heteus, e os jebuseus, e os amorreus habitam na montanha; e os cananeus habitam ao pé do mar, e pela ribeira do Jordão. (Números 13:25-29).

26 Porém, vós não quisestes subir; mas fostes rebeldes ao mandado do Senhor, nosso Deus. 27 E murmurastes nas vossas tendas, e dissestes: Porquanto o Senhor nos aborrece, nos tirou da terra do Egito, para nos entregar nas mãos dos amorreus, para destruir-nos. 28 Para onde subiremos? nossos irmãos fizeram com que se derretesse o nosso coração, dizendo: Maior e mais alto é este povo do que nós; as cidades são grandes e fortificadas até aos céus; e também vimos ali filhos dos gigantes. 29 Então eu vos disse: Não vos espanteis, nem os temais. 30 O Senhor, vosso Deus, que vai adiante de vós, ele por vós pelejará, conforme a tudo o que fez convosco, diante dos vossos olhos, no Egipto; 31 Como, também, no deserto, onde viste que o Senhor, teu Deus, nele te levou, como um homem leva seu filho, por todo o caminho que andastes, até chegardes a este lugar. 32 Mas nem por isso crestes ao Senhor, vosso Deus, …” (Deuteronómio 1:26-32).

Aplicação: Quão similar a nós é a situação descrita! Independentemente de tudo, quer se trate da picada de um mosquito ou do ataque de um leão, temos de aprender a manter os nossos olhos no Senhor e longe do problema (veja Hebreus 12:1-2).

A Resposta dos Espiões (2:14)

14 Então aqueles homens responderam-lhe: A nossa vida responderá pela vossa, até ao ponto de morrer, se não denunciardes este nosso negócio, e será pois que, dando-nos o Senhor esta terra, usaremos contigo de beneficência e de fidelidade.

Manter-se calada a respeito da sua presença e recusar-se a prestar informação sobre eles seria uma prova da sua fé no Senhor e da boa vontade relativamente ao povo de Deus (compare com Mateus 25:24 ss).

O Cordão de Escarlata  
(2:15-21)

15 Ela então os fez descer por uma corda, pela janela, porquanto a sua casa estava sobre o muro da cidade, e ela morava sobre o muro. 16 E disse-lhes: Ide-vos ao monte, para que, porventura, vos não encontrem os perseguidores, e escondei-vos lá três dias, até que voltem os perseguidores, e depois, ide pelo vosso caminho. 17 E disseram-lhe aqueles homens: Desobrigados seremos deste teu juramento que nos fizeste jurar. 18 Eis que, vindo nós à terra, atarás este cordão de fio de escarlata à janela por onde nos fizeste descer; e recolherás em casa, contigo, o teu pai, e a tua mãe, e os teus irmãos, e a toda a família do teu pai. 19 Será, pois, que, qualquer que sair fora da porta da tua casa, o seu sangue será sobre a sua cabeça, e nós seremos sem culpa; mas qualquer que estiver contigo, em casa, o seu sangue seja sobre a nossa cabeça, se nele se puser mão. 20 Porém, se tu denunciares este nosso negócio, seremos desobrigados do teu juramento, que nos fizeste jurar. 21 E ela disse: Conforme às vossas palavras, assim seja. Então os despediu; e eles se foram; e ela atou o cordão de escarlata à janela.

Mesmo antes de partirem, os espiões confirmaram o seu acordo com Raab: primeiramente, a sua casa deveria estar identificada com um cordão de escarlata pendurado da janela. Em segundo lugar, ela e a sua família teriam de permanecer dentro da casa durante o ataque à cidade. Por último, os espiões deixaram claro que ficariam livres do juramento de protecção para com Raab caso a mesma denunciasse a sua missão.

Esta história é muito parecida com a salvação experienciada no decurso da última praga que Deus trouxe sobre o Faraó e o Egipto, ao matar o primogénito de cada lar, mas poupando os israelitas graças ao sangue do cordeiro Pascal, com o qual os dois umbrais e o lintel das suas casas haviam sido borrifados. Embora não tenha sido identificado como tal, é provável que o cordão de escarlata fosse uma imagem de Cristo.

Nos dias de Noé, havia segurança e abrigo para aqueles que entravam pela porta da arca. No Egipto, a segurança e o abrigo eram obtidos por aqueles que se reuniam atrás das portas aspergidas com o sangue do cordeiro Pascal. Para mim e para si, também há segurança e abrigo do julgamento eterno – mas apenas se entrarmos pela porta certa: Jesus Cristo. Como Ele disse em João 10:9, “Eu sou a porta: se alguém entrar por mim, salvar-se-á.”

George Whitefield, o eloquente pregador do Grande Despertar na América do Norte (1738-40), discursou uma vez sobre o texto “A Porta Estava Fechada”. Encontravam-se na congregação dois jovens arrogantes e desrespeitosos e, por acaso, um foi ouvido a dizer ao outro, em tom zombeteiro: “E se a porta estiver fechada? Outra será aberta.”

Mais adiante no sermão, o evangelista disse: “É possível que esteja aqui alguém descuidado e presumido, que diz ‘Que importa que a porta esteja fechada? Outra será aberta!’.”

Os dois jovens entreolharam-se, alarmados!

“Sim, outra porta será aberta”, concluiu Whitefield. “Será a porta da cova sem fundo – a entrada para o Inferno.” 9

O Retorno e Relatório dos Espiões(2:22-24)

22 Foram-se, pois, e chegaram ao monte, e ficaram ali três dias, até que voltaram os perseguidores, porque os perseguidores os buscaram por todo o caminho, porém não os acharam. 23 Assim, aqueles dois homens voltaram, e desceram do monte, e passaram, e vieram a Josué, filho de Nun, e contaram-lhe tudo quanto lhes acontecera; 24 E disseram a Josué: Certamente o Senhor tem dado toda esta terra nas nossas mãos, pois até todos os moradores estão desmaiados diante de nós.

Josué e os homens de Israel viram nas palavras e acções de Raab uma evidência clara da providência soberana e bênção do Senhor. Repare na confiança deles: “Certamente o Senhor tem dado toda esta terra nas nossas mãos, …”. Existem nesta passagem algumas lições óbvias:

(1) Demonstra a preocupação e obra de Deus para salvar uma pessoa ou família que confie n’Ele (compare com 2 Pedro 3:9). Lembra-nos que Deus conhece os corações dos homens e nos conduzirá a eles se estivermos disponíveis. Também nos ensina que a obra de Deus deve ter lugar em ambos os extremos.

(2) Demonstra a protecção e provisão de Deus em favor dos Seus servos, capacitando-os a cumprir a sua vocação e objectivo independentemente das circunstâncias. A única coisa capaz de nos impedir de realizar a vontade de Deus e de cumprir o nosso chamamento é a nossa própria descrença.

(3) Demonstra a forma como a nossa fé deve levar à acção e ministério em benefício de outros. Raab disponibilizou-se a ajudar quer os espiões, quer a própria família (João 1:35-51; 4:28-29, 39).

(4) Demonstra como a misericórdia e graça de Deus ultrapassam a Sua ira através da cruz. Raab era Amorita e, de acordo com a lei de Moisés, não poderia haver piedade nem alianças com os nativos – apenas julgamento (compare com Deut. 7:2). Através da sua fé genuína, tornou-se uma excepção.

(5) Raab constitui um tipo e testemunho do propósito de Deus quanto a salvar os gentios que, embora sem esperança no mundo (Efésios 2:12), podiam aproximar-se de Deus e serem participantes com Israel, mediante a fé em Cristo.

(6) Raab providencia uma lição ao contrastar notavelmente com Israel e demais habitantes de Jericó. Isso transforma-se num aviso contra o endurecimento do coração naqueles que vêem e ouvem, mas falham no que toca a responder pela fé. Escutar não é suficiente. Repare na aplicabilidade deste conceito:

Relativamente a Israel:

1 Temamos, pois, que, porventura, deixada a promessa de entrar no seu repouso, pareça que algum de vós fique para trás; 2 Porque, também, a nós foram pregadas as boas novas, como a eles, mas a palavra da pregação nada lhes aproveitou, porquanto não estava misturada com a fé naqueles que a ouviram. (Heb 4:1-2).

Relativamente a Jericó:

9 E disse aos homens: Bem sei que o Senhor vos deu esta terra, e que o pavor de vós caiu sobre nós, e que todos os moradores da terra estão desmaiados diante de vós. 10 Porque temos ouvido que o Senhor secou as águas do Mar Vermelho diante de vós, quando saíeis do Egipto, e o que fizestes aos dois reis dos amorreus, a Séon e a Og, que estavam dalém do Jordão, os quais destruístes. 11 Ouvindo isto, desmaiou o nosso coração, e em ninguém mais há ânimo algum, por causa da vossa presença, porque o Senhor, vosso Deus, é Deus em cima nos céus e em baixo na terra. (Josué 2:9-11).

Relativamente aos discípulos:

52 Pois não tinham compreendido o milagre dos pães; antes, o seu coração estava endurecido. (Marcos 6:52).

Relativamente a nós:

7 Portanto, como diz o Espírito Santo, se ouvirdes, hoje, a sua voz, 8 Não endureçais os vossos corações, como na provocação, no dia da tentação no deserto, 9 Onde os vossos pais me tentaram, me provaram, e viram, por quarenta anos, as minhas obras. 10 Por isso me indignei contra esta geração, e disse: Estes sempre erram em seu coração, e não conheceram os meus caminhos. 11 Assim jurei, na minha ira, que não entrarão no meu repouso. (Hebreus 3:7-11).

Texto original de J. Hampton Keathley, III.

Tradução de C. Oliveira.


1 Arthur Pink, Gleanings in Joshua, Moody Press, Chicago, 1964, p. 54.

2 Frank E. Gaebelein, General Editor, The Expositor's Bible Commentary, New Testament, Zondervan, Grand Rapids, 1976-1992, versão electrónica.

3 Unger’s Commentary on the Old Testament. Vol I, Génesis –Cantares de Salomão, p. 285.

4 Expositors Bible Commentary, electronic version.

5 Joshua, Leader Under Fire, Donald Campbell, p. 19-20.

6 Unger’s Commentary on the Old Testament, p. 285.

7 Pink, p. 59.

8 Expositors Bible Commentary, versão electrónica.

9 Donald K. Campbell com Jim Denney, No Time For Neutrality, A Study of Joshua, Discovery House, 1994, p. 36.

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