Existem, obviamente, numerosas formas para se abordar o estudo da Bíblia: Sintética – uma visão global da Bíblia como um todo, a fim de proporcionar uma compreensão da mensagem geral; Analítica – o processo de ver a Bíblia versículo a versículo, para obter um conhecimento em profundidade; Tópica ou Doutrinal – o estudo da Bíblia de acordo com os seus múltiplos tópicos e doutrinas, e Simbólica – um estudo das diversas imagens ou padrões encontrados na Bíblia, particularmente no Antigo Testamento, que retratam a verdade do Novo Testamento. A abordagem sintética ou de visão global é extremamente útil para o estudante iniciado ou para aqueles que nunca realizaram um estudo do género. A abordagem sintética não só nos permite contemplar o panorama geral ou ver toda a floresta, mas também ajudará a compreender os detalhes numa fase mais avançada do estudo da Bíblia.
Chamamos a isto uma análise breve porque este estudo é mais uma abordagem em casca de noz aos livros do Antigo e Novo Testamentos. O objectivo centra-se em proporcionar ao leitor termos, versículos, temas ou propósitos-chave em cada um dos livros, em conjunto com uma breve descrição do seu conteúdo.1
Artigo original por J. Hampton Keathley III, Th.M.
Tradução de C. Oliveira
J. Hampton Keathley III, Th.M., licenciou-se em 1966 no Seminário Teológico de Dallas, trabalhando como pastor durante 28 anos. Em Agosto de 2001, foi-lhe diagnosticado cancro do pulmão e, no dia 29 de Agosto de 2002, partiu para casa, para junto do Senhor.
Hampton escreveu diversos artigos para a Fundação de Estudos Bíblicos (Biblical Studies Foundation), ensinando ocasionalmente Grego do Novo Testamento no Instituto Bíblico Moody, Extensão Noroeste para Estudos Externos, em Spokane, Washington.
1Algumas das ideias e o plano utilizados nesta Análise de cada um dos livros da Bíblia (autor e título, data, objectivo e tema, versículo(s)-chave, etc.) são similares e retirados de outros materiais, tais como Briefing the Bible, J. Vernon McGee, Zondervan, Grand Rapids, 1949; A Popular Survey of the Old Testament, Norman L. Geisler, Baker Book House, Grand Rapids, 1977; “Old Testament Survey”, Alban Douglas, notas de aulas, Prairieview Bible College; e Talk Thru the Bible, Bruce Wilkinson e Kenneth Boa, Thomas Nelson, Nashville, 1983.
O Novo Testamento é um registo de eventos históricos, os eventos da “boa-nova” da vida salvadora do Senhor Jesus Cristo – a Sua vida, morte, ressurreição, ascensão e a continuação da Sua obra no mundo –, que é explicada e aplicada pelos apóstolos que Ele escolheu e enviou para o mundo. É também a concretização daqueles acontecimentos há muito antecipados pelo Antigo Testamento. Para além disso, é história sagrada que, ao contrário da história secular, foi escrita sob a orientação sobrenatural do Espírito Santo. Tal significa que se encontra, à semelhança do Antigo Testamento, protegida de erro humano e que possui autoridade divina para a Igreja, nos dias de hoje e através da história da Humanidade, até que o Senhor regresse.
A nossa Bíblia está dividida em duas secções, às quais chamamos Antigo e Novo Testamentos, mas o que significa isto exactamente? A palavra grega para “testamento”, diaqhkh (latim testamentum), significa “vontade, testamento ou aliança”. Utilizada em ligação com o Novo Testamento, “aliança” é a melhor tradução. Como tal, refere-se a um novo acordo feito por um grupo, no qual outros poderão entrar caso aceitem a aliança. Usada em referência às alianças de Deus, designa uma nova relação na qual os homens podem ser recebidos por Ele. O Antigo Testamento ou Aliança é primariamente um registo da interacção de Deus com os israelitas, baseada na Aliança Mosaica concedida no Monte Sinai. Por outro lado, o Novo Testamento ou Aliança (antecipada em Jeremias 31:31 e instituída pelo Senhor Jesus, 1 Co. 11:25) descreve o novo acordo entre Deus e os homens de todas as tribos, línguas, povos e nações que aceitarem a salvação tendo por base a fé em Cristo.
A antiga aliança revelava a santidade de Deus no padrão justo da lei e prometia a chegada de um Redentor; a nova aliança mostra a santidade de Deus na justiça do Seu Filho. Portanto, o Novo Testamento contém aqueles escritos que revelam o conteúdo desta nova aliança.
A mensagem do Novo Testamento centra-se na (1) Pessoa que se entregou a Si mesma para a remissão dos pecados (Mt. 26:28) e no (2) povo (a Igreja) que recebeu a Sua salvação. Assim, a salvação é o tema central do Novo Testamento.1
As designações Antiga e Nova Alianças foram, portanto, aplicadas em primeiro lugar às duas relações que Deus estabeleceu com os homens e, depois, aos livros que contêm os registos destas duas relações. “O Novo Testamento é o tratado divino cujos termos permitiram que Deus nos recebesse, rebeldes e inimigos, na paz Consigo Mesmo”. 2
No tempo do Novo Testamento, Roma era a potência mundial dominante, reinando sobre a maior parte do mundo antigo. Ainda assim, numa pequena cidade da Palestina, Belém de Judeia, nasceu aquele que mudaria o mundo. A respeito desta Pessoa, o apóstolo Paulo escreveu: “Mas, ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o Seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei (isto é, à Antiga Aliança)” (Gl. 4:4). Mediante meios especiais e maravilhosos, Deus preparou o mundo para a chegada do Messias. Vários factores contribuíram para esta preparação.
A preparação para a chegada de Cristo é a história do Antigo Testamento. De todas as nações, Deus escolhera os judeus para serem um bem valioso, enquanto reino de sacerdotes, e uma nação santa (Êx.19:6). A este respeito, começando com a promessa que Deus concedera aos patriarcas, Abraão, Isaac e Jacob (Gn. 12:1-3; Rm. 9:4), deveriam ser os guardiães da Palavra de Deus (o Antigo Testamento [Rm. 3:2]) e a via para o Redentor (Gn. 12:3; Gl. 3:8; Rm. 9:5). Portanto, o Antigo Testamento estava cheio de Cristo e antecipava a Sua vinda como Salvador sofredor e glorificado. Para além disso, estas profecias proporcionavam detalhes não só numerosos, mas também muito precisos acerca da linhagem do Messias, local de nascimento, circunstâncias em torno da data do Seu nascimento, vida, morte e até ressurreição.
Embora Israel tivesse sido desobediente e levado para o cativeiro em consequência do julgamento de Deus face à sua dureza de coração, mesmo assim Deus trouxe de volta à sua terra natal um resto do povo setenta anos depois, conforme prometera em preparação para a chegada do Messias. Mesmo que quatrocentos anos tivessem passado desde a redacção do último livro do Antigo Testamento, e apesar do clima religioso ser de aparências e hipocrisias farisaicas, pairava no ar o espírito de antecipação Messiânica, e um resto procurava o Messias.
É altamente significante que existisse, no tempo de Cristo – aquele que viera para ser o Salvador do mundo e que enviaria os Seus discípulos até aos confins da terra, a fim de proclamarem o Evangelho (Mt. 28:19-20), – aquilo que A. T. Robertson chamou de “um discurso mundial”.3 Tal resultava das conquistas e aspirações de Alexandre, o Grande, filho do Rei Filipe da Macedónia, que, mais de 300 anos antes do nascimento de Cristo, percorreu o mundo antigo, conquistando nação após nação. O seu desejo consistia num só mundo e numa língua comum. Na sequência das suas vitórias, estabeleceu a língua grega como lingua franca, a linguagem comum, e a cultura grega como padrão de vida e pensamento. Embora o seu império tenha sido de curta duração, a difusão da língua grega persistiu.
É relevante que o discurso grego se tenha tornado um só em vez de muitos dialectos, ao mesmo tempo que o poderio romano se espalhava pelo mundo. A língua difundida pelo exército de Alexandre no mundo oriental persistiu após a divisão do reino e chegou a todas as partes do mundo romano, inclusive à própria Roma. Paulo escreveu à igreja de Roma em grego e Marco Aurélio, Imperador Romano, escreveu as suas Meditações... em grego. Era a língua não só das cartas, mas também do comércio e da vida quotidiana. 4
O importante é que Deus estava a trabalhar na preparação do mundo para uma língua comum, que era um veículo ímpar de comunicação clara e precisa, a fim de proclamar a mensagem do Salvador. Em resultado, os livros do Novo Testamento foram escritos na língua comum da época, o grego koiné. Não foram escritos em hebraico ou aramaico, embora todos os escritores do Novo Testamento fossem judeus, à excepção de Lucas, que era gentio. O grego koiné tornou-se a segunda língua de praticamente toda a gente.
Mas Deus não acabara de preparar o mundo para a chegada do seu Salvador. Quando Cristo nasceu na Palestina, Roma dominava o mundo. A Palestina encontrava-se sob o poder romano. Acima de tudo, Roma destacava-se pela insistência na lei e ordem. Com o reinado de César Augusto, a mais longa e sangrenta guerra civil da história de Roma terminara finalmente. Em resultado, foi colocado um ponto final a mais de 100 anos de guerra civil, e Roma ampliara vastamente as suas fronteiras. Para além disso, os Romanos construíram um sistema de estradas que, com a protecção providenciada pelo seu exército, que as patrulhava com frequência, contribuiu grandemente para o grau de facilidade e segurança com que os viajantes se podiam deslocar ao longo do império romano. Augusto foi o primeiro romano a usar a púrpura e coroa imperiais, enquanto governante exclusivo do império. Era moderado, sábio e atencioso para com o povo, tendo trazido um tempo grandioso de paz e prosperidade, fazendo de Roma um lugar seguro para viver e viajar. Tal introduziu um período denominado “Pax Romana”, a paz de Roma (27 A.C. – 180 D.C.). Graças a tudo o que Augusto alcançou, muitos diziam que, quando nasceu, nasceu um deus. Foi nestas condições que nasceu Alguém que era e é verdadeiramente a fonte da verdadeira paz pessoal e paz mundial duradoura, versus a paz falsa e temporária que os homens podem proporcionar – não importa quão sábios, bons ou excepcionais. Também era verdadeiramente Deus, o Deus-Homem, em vez de um homem chamado Deus. A presença da norma e lei romanas ajudou a preparar o mundo para a Sua vida e ministério, a fim de que o Evangelho pudesse ser pregado.
Marcos 1:14-15. Depois que João foi preso, Jesus dirigiu-se para a Galileia. Pregava o Evangelho de Deus, e dizia: “Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; fazei penitência e crede no Evangelho”.
Antes de se analisar o Novo Testamento, também seria bom ter uma imagem global do estado da esfera religiosa quando o Salvador entrou em cena e a Igreja foi enviada ao mundo. À medida que for lendo a citação de Merrill Tenney, repare na grande similaridade com o mundo actual. A mensagem do Salvador revelada no Evangelho é como uma lufada de ar fresco depois de estar fechado numa sala cheia de fumo.
A Igreja Cristã nasceu num mundo cheio de religiões concorrentes que podiam diferir largamente entre si, mas possuíam uma característica comum – a luta para alcançar um deus ou deuses que permaneciam inacessíveis. À excepção do Judaísmo, que ensinava que Deus Se revelara voluntariamente aos patriarcas, a Moisés e aos profetas, nenhuma fé podia falar com certeza acerca da revelação divina nem de algum verdadeiro conceito de pecado e salvação. Os padrões éticos em voga eram superficiais, apesar do ideal e discernimento de alguns filósofos e, quando discursavam a respeito do mal e da virtude, não tinham nem o remédio para um, nem a dinâmica para produzir a outra.
Mesmo no Judaísmo, a verdade revelada fora obscurecida, quer pela incrustação de tradições, quer por negligência...
O paganismo e todas as religiões afastadas do conhecimento e fé na Palavra de Deus originam sempre uma paródia e uma perversão da revelação original de Deus ao homem. Retêm muitos elementos básicos da verdade, mas distorcem-nos em falsidade prática. A soberania divina torna-se fatalismo; a graça transforma-se em indulgência; a justiça torna-se na conformidade com regras arbitrárias; a adoração transforma-se num ritual vazio; a oração torna-se uma súplica egoísta; o sobrenatural degenera em superstição. A luz de Deus fica obscurecida por lendas fantasiosas e completa falsidade. A consequente confusão de crenças e valores deixava os homens à deriva num labirinto de incertezas. Para alguns, a conveniência tornou-se a filosofia de vida dominante; pois, se não é possível haver uma certeza definitiva, não podem existir princípios permanentes que orientem o modo de agir; e, se não existem princípios permanentes, uma pessoa deve viver tão bem como for possível, tirando partido do momento. O cepticismo prevalecia, já que os velhos deuses haviam perdido o seu poder e não tinham aparecido novas divindades. De cada canto surgiram numerosos novos cultos, que invadiram o império e se tornaram os caprichos dos ricos diletantes ou o refúgio dos desesperadamente pobres. Os homens haviam perdido em larga escala as noções de júbilo e de destino que faziam a existência humana valer a pena.5
O Novo Testamento é composto de vinte e sete livros, escritos por nove autores diferentes. Com base nas suas características literárias, são frequentemente classificados em três grupos principais:
As duas tabelas que se seguem ilustram a divisão e focam-se nesta classificação tripla dos livros do Novo Testamento. 6
Livros do Novo Testamento |
||||||
História |
Epístolas |
Profecia |
||||
Mateus
Marcos
Lucas
João
Actos |
De Paulo |
Gerais |
Revelação |
|||
Mais cedo, durante as viagens missionárias |
Mais tarde, após a prisão em Jerusalém |
Tiago
Hebreus
Judas
1 Pedro
2 Pedro
1 João 2 João 3 João
|
||||
Gálatas
1 Ts. 2 Ts.
1 Co. 2 Co.
Romanos |
Primeira detenção
Colossenses
Efésios
Filémon
Filipenses |
Libertação
1 Timóteo Tito |
Segunda detenção
2 Timóteo |
Uma Visão Global quanto ao Ponto Central |
||
Históricos |
Os Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas, João |
Manifestação: Contar a história da vinda do Salvador, Sua pessoa e obra. |
Actos: Os Actos do Espírito Santo através dos apóstolos |
Propagação: Proclamar a mensagem do Salvador que veio. |
|
Epistolares |
Epístolas: Cartas para igrejas e indivíduos. De Romanos a Judas |
Explicação: Desenvolver o significado pleno da pessoa e obra de Cristo e da forma como deveria afectar o percurso do Cristão no mundo. |
Profético |
Revelação: O apocalipse do Senhor Jesus Cristo. |
Consumação: Antecipar os eventos do fim dos tempos e o regresso do Senhor, o Seu reino final e o estado eterno. |
Conforme observado na classificação prévia, a ordem dos livros do Novo Testamento é mais lógica do que cronológica. Como Ryrie explica,
Primeiro vêm os Evangelhos, que registam a vida de Cristo; em seguida Actos, que fornece a história da difusão do Cristianismo; depois as epístolas, que mostram o desenvolvimento das doutrinas da Igreja juntamente com os seus problemas; e, finalmente, a visão da segunda vinda de Cristo, em Revelação.7
Embora os estudiosos bíblicos divirjam quanto à data exacta em que os livros do Novo Testamento foram escritos, a ordem de redacção dos livros foi aproximadamente a que se segue:
Livro |
Data (D.C.) |
Livro |
Data (D.C.) |
Tiago |
45-49 |
Filipenses, Filémon |
63 |
Originalmente, os livros do Novo Testamento foram postos a circular em separado, e apenas gradualmente compilados para formar aquilo que agora conhecemos como a parte do Novo Testamento no cânone da Escritura. Graças à conservação providenciada por Deus, os nossos vinte e sete livros do Novo Testamento foram separados de muitos outros textos aquando da Igreja primitiva. Foram preservados enquanto parte do cânone do Novo Testamento, devido à sua inspiração e autoridade apostólica. Ryrie apresenta um excelente resumo deste processo:
Depois de serem escritos, os livros individuais não foram imediatamente reunidos no cânone, ou colecção dos vinte e sete textos que compõem o Novo Testamento. Grupos de livros, como as cartas de Paulo e os Evangelhos, foram primeiro conservados pelas igrejas ou pessoas a quem foram enviados e, gradualmente, os vinte e sete livros foram compilados e formalmente reconhecidos como um conjunto pela Igreja.
Este processo demorou cerca de 350 anos. No século segundo, a circulação de livros que promoviam heresias acentuou a necessidade de distinguir entre a Escritura válida e outra literatura cristã. Certos testes foram desenvolvidos a fim de determinar que livros deveriam ser incluídos. (1) O livro foi escrito ou aprovado por um apóstolo? (2) Era o seu conteúdo de natureza espiritual? (3) Fornecia evidência de ser inspirado por Deus? (4) Foi amplamente recebido pelas igrejas?
Nem todos os vinte e sete livros eventualmente reconhecidos como canónicos foram aceites por todas as igrejas nos primeiros séculos, mas tal não significa que aqueles que não foram imediata ou universalmente aceites fossem espúrios. Cartas endereçadas a indivíduos (Filémon, 2 e 3 João) não circularam tão amplamente como as enviadas às igrejas. Os livros mais disputados foram Tiago, Judas, 2 Pedro, 2 e 3 João e Filémon, mas por fim foram incluídos, e o cânone foi certificado no Concílio de Cartago em 397 D.C..
Embora não reste nenhuma cópia original dos textos que compõem o Novo Testamento, existem mais de 4,500 manuscritos gregos de todo ou parte do texto, em conjunto com cerca de 8,000 manuscritos em latim e pelo menos 1,000 outras versões de tradução dos livros originais. O estudo cuidadoso e a comparação destas múltiplas cópias concederam-nos um Novo Testamento preciso e confiável.8
Artigo original por J. Hampton Keathley III, Th.M.
Tradução de C. Oliveira
J. Hampton Keathley III, Th.M., licenciou-se em 1966 no Seminário Teológico de Dallas, trabalhando como pastor durante 28 anos. Em Agosto de 2001, foi-lhe diagnosticado cancro do pulmão e, no dia 29 de Agosto de 2002, partiu para casa, para junto do Senhor.
Hampton escreveu diversos artigos para a Fundação de Estudos Bíblicos (Biblical Studies Foundation), ensinando ocasionalmente Grego do Novo Testamento no Instituto Bíblico Moody, Extensão Noroeste para Estudos Externos, em Spokane, Washington.
1 Charles Caldwell Ryrie, Ryrie Study Bible, Expanded Edition, Moody, p. 1498.
2 J. Greshem Machen, The New Testament, An Introduction to Its Litereature and History, editado por W. John Cook, The Banner of Truth Trust, Edinburgh, 1976, p. 16.
3 A. T. Robertson, A Grammar of the Greek New Testament in the Light of Historical Research, Broadman Press, Nashville, 1934, p. 54.
4 Robertson, p. 54.
5 Merrill C. Tenney, New Testament Times, Eerdmans, Grand Rapids, 1965, p. 107-108.
6 A primeira tabela foi retirada de Ryrie Study Bible, Expanded Edition, por Charles Caldwell Ryrie, Moody, p. 1500.
7 Ryrie, p. 1498.
8 Ryrie, p. 1499.
Conforme previamente mencionado, o Novo Testamento é dividido em três categorias, com base na sua composição literária – histórica, epistolar e profética. Os quatro Evangelhos compõem cerca de 46 por cento, e o livro dos Actos eleva esta percentagem para 60 por cento. Isto significa que 60 por cento do Novo Testamento é directamente histórico, delineando as raízes e desenvolvimento histórico da Cristandade. O Cristianismo baseia-se em factos históricos. Tal é inerente à própria estrutura do Evangelho. O Cristianismo é a mensagem do Evangelho, e o que é um evangelho? É a boa nova, informação que deriva do testemunho de outros. É história, o testemunho de factos históricos. “O Evangelho é a notícia de que algo aconteceu – algo que confere à vida uma faceta diferente. O que esse 'algo' representa é-nos explicado em Mateus, Marcos, Lucas e João. É a vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo.”1 Seguindo-se a este registo quádruplo, Actos concede-nos o registo histórico da disseminação da mensagem evangélica desde Jerusalém até à Judeia, Samaria e regiões mais longínquas da Terra, até ao mundo Gentio. Começa assim:
1:1 Escrevi o primeiro livro, ó Teófilo, relatando todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar 1:2 até ao dia em que, depois de haver dado mandamentos por intermédio do Espírito Santo aos apóstolos que escolhera, foi elevado às alturas. 1:3 A estes também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas provas incontestáveis, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando das coisas concernentes ao reino de Deus.
1:8 Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra.
Lucas é o primeiro, e Actos o segundo volume do tratado do Dr. Lucas acerca da vida histórica e ministério do Salvador, conforme iniciado pelo Senhor Jesus. Tal foi continuado pelo Salvador através do Espírito Santo, em actuação na vida dos Seus apóstolos, após a ascensão de Cristo ao Céu. Assim, Actos providencia o esboço histórico do ministério dos apóstolos na vida da Igreja primitiva. Isto torna-se crucial para a nossa compreensão de muita coisa que encontramos nas epístolas, cartas históricas redigidas para pessoas que viviam em locais históricos. Portanto, o Novo Testamento é um livro histórico das Boas Novas do Deus vivo que actua na história humana, não só passada, mas também no presente e futuro, à luz das Suas promessas.
Antes de se iniciar uma análise de cada um dos Evangelhos, será útil falar um pouco sobre o uso do termo Evangelhos Sinópticos. Embora cada Evangelho tenha a sua ênfase e propósito distintos, por vezes os primeiros três são denominados de Evangelhos Sinópticos, porque “vêem juntos”, isto é, têm o mesmo ponto de vista a respeito da vida de Cristo, concordando em matéria de sujeito e ordem. Para além disso, também apresentam a vida de Cristo de uma forma que complementa a imagem dada no Evangelho de João. O que se segue põe em evidência um conjunto de áreas comuns a cada um dos primeiros três Evangelhos:
16:13 E, chegando Jesus às partes de Cesareia de Filipe, interrogou os seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho do homem? 16:14 E eles disseram: Uns, João Batista; outros Elias, e outros Jeremias, ou um dos profetas. 16:15 Disse-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou? 16:16 E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.
Mateus 16:14 providencia as quatro respostas clássicas ou escolas de pensamento de um grande número de pessoas no tempo de Jesus. No início, apenas algumas – um remanescente crente – O reconheceram por aquilo que Ele realmente era, o Filho de Deus. Assim, sob inspiração do Espírito, os escritores evangelistas começaram a revelar quem Jesus era realmente, quanto à Sua pessoa e obra. De uma forma quádrupla, cada um com a sua ênfase distinta, mas em registos que se complementam, os quatro Evangelhos respondem às questões formuladas pelo Senhor aos Seus discípulos. Declaram quem Jesus É exactamente. Mostram ser Ele o Messias da expectativa do Antigo Testamento, o Servo do Senhor, o Filho do Homem, o Filho de Deus e aquele que é o Salvador do Mundo. Os Evangelhos concedem-nos o retrato de Deus da pessoa e obra de Cristo, mediante quatro imagens distintas.
No livro de Sidlow Baxter, Explore the Book (Examinai as Escrituras), o autor chama a nossa atenção para a interessante similaridade entre a visão em Ezequiel 1:10 e os Evangelhos, embora não sugira que os quatro seres viventes fossem um protótipo dos Evangelhos. Escreve:
Talvez a maioria de nós esteja familiarizada com o paralelismo frequentemente notado entre os quatro Evangelhos e os quatro “seres viventes” na visão inicial do profeta Ezequiel. Os quatro “seres viventes”, ou querubins, são assim descritos em Ezequiel 1:10: “E a semelhança dos seus rostos era como o rosto de homem; e à mão direita, todos os quatro tinham rosto de leão, e à mão esquerda, todos os quatro tinham rosto de boi; e também rosto de águia, todos os quatro”. O leão simboliza força suprema, dignidade real; o homem, a inteligência mais elevada; o boi, serviço humilde; a águia, o celestial, mistério, Divindade.
Em Mateus, encontramos o Rei Messiânico (o leão).
Em Marcos, encontramos o Servo de Javé (o boi).
Em Lucas, encontramos o Filho do Homem (o homem).
Em João, encontramos o Filho de Deus (a águia).
São necessários os quatro aspectos a fim de se obter a verdade completa. Enquanto Soberano, veio para reinar e governar. Enquanto Servo, veio para servir e sofrer. Enquanto Filho do homem, veio para partilhar e compreender. Enquanto Filho de Deus, veio para revelar e redimir. Que maravilhosa junção quádrupla – soberania e humildade; humanidade e divindade!2
Mateus dirige o seu Evangelho primeiramente aos Judeus, a fim de os convencer de que Jesus de Nazaré é o seu Messias, o Rei dos Judeus. Com a genealogia de Jesus, Mateus utiliza também dez citações de concretização, através das quais procura mostrar que este Jesus, embora rejeitado e crucificado, é o há muito esperado Messias do Antigo Testamento (Mt. 1:23; 2:15; 2:18; 2:23; 4:15; 8:15; 12:18-21; 13:35; 21:5; 27:9-10). Mas, ainda que rejeitado pela nação como um todo e crucificado, o Rei deixou atrás de si uma sepultura vazia.
Marcos parece dirigir-se aos Romanos, povo de acção mas de poucas palavras, e apresenta Jesus como o Servo do Senhor, que veio “para dar a Sua vida em resgate de muitos”. Nesta linha de pensamento, Marcos, o Evangelho mais curto, é vívido, activo ou animado, e proporciona um registo de testemunho ocular muito claro, especialmente da última semana da vida de Jesus na Terra. “37 por cento deste Evangelho é dedicado aos eventos da Sua derradeira e mais importante semana”.3
Lucas, o médico historiador, apresenta Jesus como o Filho do Homem perfeito, que veio para “buscar e salvar o que se havia perdido” (Lucas 19:10). Lucas enfatiza fortemente a humanidade verdadeira de Cristo, ao mesmo tempo que declara também a Sua divindade. Algumas pessoas acreditam que Lucas tinha em mente os Gregos em particular, por causa do seu profundo interesse em filosofia humana.
João foca de imediato o leitor (1:1-2) na divindade de Cristo, apresentando Jesus como o Filho de Deus eterno, que concede vida eterna e abundante a todos os que O receberem, crendo n'Ele (João 1:12; 3:16-18, 36; 10:10). Embora redigido para toda a humanidade, o Evangelho de João está escrito especialmente para a Igreja. Cinco capítulos registam os discursos de despedida de Jesus para os Seus discípulos, a fim de os confortar apenas algumas horas antes da Sua morte. Adicionalmente, são expostos sete sinais miraculosos de Jesus no intuito de demonstrar que Jesus É o Salvador e de encorajar por todo o lado as pessoas a crerem n'Ele, de modo a que possam ter vida (João 20:30-31).
Cada Evangelho recebe o nome do escritor humano que o redigiu. Embora este primeiro Evangelho, tal como acontece com cada um dos restantes, nunca nomeie o seu autor, o testemunho universal da Igreja primitiva é que o apóstolo Mateus o escreveu, e as nossas testemunhas textuais mais antigas atribuem-no a ele ao darem-lhe o título “Segundo Mateus” (Kata Matthaion). Mateus, que foi um dos discípulos originais de Jesus, era um judeu escrevendo aos Judeus acerca d'Aquele que era o seu próprio Messias. O seu nome original era Levi, filho de Alfeu. Mateus trabalhava como publicano, recolhendo impostos para os Romanos na Palestina até ser chamado para seguir o Senhor (Mt. 9:9,10; Marcos 2:14-15). A sua resposta rápida pode sugerir que o seu coração fora já tocado pelo ministério de Jesus.
Cedo foi dado a este Evangelho o título de Kata Matthaion, “Segundo Mateus”. Conforme este título sugere, eram conhecidos outros registos evangélicos naquela altura (a palavra evangelho foi adicionada mais tarde)...4
As sugestões para a datação de Mateus variam entre 40 d.C. e 140 d.C., mas “o facto de a destruição de Jerusalém em 70 d.C. ser vista como um evento ainda futuro (24:2) parece requerer uma data anterior. Alguns advogam que este foi o primeiro dos Evangelhos a ser redigido (por volta de 50 d.C.), enquanto outros pensam que não foi o primeiro, tendo sido escrito nos anos 60”.5
Conforme fica evidente nas questões que Jesus colocou aos Seus discípulos em 16:14 ss, Mateus escreveu aos Judeus a fim de responder às suas perguntas a respeito de Jesus de Nazaré. Jesus declarara claramente ser o Messias deles. Era Ele realmente o Messias do Antigo Testamento, predito pelos profetas? Em caso afirmativo, por que é que os líderes religiosos não O receberam, e por que não estabeleceu o reino prometido? Será que este alguma vez será estabelecido e, se sim, quando? Portanto, Mateus dirige-se em primeiro lugar a uma audiência judaica, de modo a mostrar-lhe que este Jesus é o Messias há muito esperado. Tal é visto na genealogia de Jesus (1:1-17); na visitação dos Magos (2:1-12); na Sua entrada em Jerusalém (21:5); no julgamento das nações (25:31-46); na referência frequente ao “reino dos céus”, como é comum nos outros Evangelhos, e nas citações de concretização do Antigo Testamento previamente mencionadas.
Jesus, o Messias, o Rei dos Judeus.
Conforme realçado previamente, o objectivo de Mateus é demonstrar que Jesus é o Messias da expectativa do Antigo Testamento. Ele É o filho de Abraão e David. Assim, Ele É o Rei que vem oferecer o reino. A expressão “reino dos céus” ocorre cerca de trinta e duas vezes neste Evangelho. Para além disso, a fim de mostrar que este Jesus cumpre as expectativas do Antigo Testamento, em dez ocasiões enfatiza especificamente que aquilo que aconteceu na vida de Jesus dá cumprimento ao Antigo Testamento. Adicionalmente, utiliza mais citações e alusões ao Antigo Testamento que qualquer outro livro do Novo Testamento – cerca de 130 vezes.
Mateus recai naturalmente sobre nove secções discerníveis:
I. |
A Pessoa e Apresentação do Rei (1:1-4:25) |
II. |
A Proclamação e Pregação do Rei (5:1-7:29) |
III. |
O Poder do Rei (8:1-11-1) |
IV. |
O Programa e Rejeição Progressiva do Rei (11:2-16:12) |
V. |
A Pedagogia e Preparação dos Discípulos do Rei (16:13-20:28) |
VI. |
A Apresentação do Rei (20:29-23:39) |
VII. |
As Predições ou Profecias do Rei (24:1-25:46) |
VIII. |
A Paixão ou Rejeição do Rei (26:1-27:66) |
IX. |
A Comprovação do Rei (28:1-20) |
Na verdade, o Evangelho de Marcos é anónimo, uma vez que não nomeia o seu autor. O título grego, Kata Markon, “Segundo Marcos”, foi acrescentado mais tarde por um escriba, algures antes de 125 d.C., mas existe evidência sólida e clara (externa e interna) de que Marcos foi o seu autor. “O testemunho unânime dos pais da Igreja primitiva é o de que Marcos, um associado do apóstolo Pedro, foi o autor.”6 Em 112 d.C., Papias citou Marcos como “o intérprete de Pedro”. Dunnett salienta o seguinte: “Uma comparação do sermão de Pedro em Actos 10:36-43 com o Evangelho de Marcos mostra que o primeiro é um esboço da vida de Jesus, que Marcos apresenta com um detalhe muito maior”.7
Embora Marcos não tenha sido um dos discípulos originais de Jesus, era filho de Maria, uma mulher de riqueza e estatuto em Jerusalém (Actos 12:12), companheiro de Pedro (1 Pe. 5:13) e primo de Barnabé (Cl. 4:10). Estas ligações, especialmente a sua associação com Pedro – que, evidentemente, foi a fonte de informação de Marcos –, conferiram autoridade apostólica ao Evangelho de Marcos. Uma vez que Pedro falou dele como “meu filho Marcos” (1 Pd. 5:13), poderá ter sido Pedro quem conduziu Marcos até Cristo.
Adicionalmente, foi também um íntimo associado de Paulo. Ryrie escreve:
Teve o privilégio raro de acompanhar Paulo e Barnabé na primeira viagem missionária, mas não foi capaz de ficar com eles durante toda a jornada. Por causa disto, Paulo recusou-se a levá-lo na segunda viagem, pelo que partiu para Chipre com Barnabé (Actos 15:38-40). Uma dúzia de anos mais tarde, estava novamente com Paulo (Cl. 4:10; Fm. 24) e, mesmo antes da execução de Paulo, foi mandado chamar pelo apóstolo (2 Tm. 4:11). A sua biografia prova que um fracasso na vida não significa o fim da utilidade.8
A datação de Marcos é algo difícil, embora muitos estudiosos acreditem que este é o primeiro dos quatro Evangelhos. A menos que uma pessoa rejeite o elemento de profecia preditiva, 13:2 mostra claramente que Marcos foi redigido antes de 70 d.C. e da destruição do templo em Jerusalém. Ryrie salienta:
De facto, se Actos tem de ser datado à volta de 61 d.C., e se Lucas, o volume acompanhante, o precedeu, então Marcos tem de ser ainda mais antigo, uma vez que, aparentemente, Lucas usou Marcos na redacção do seu evangelho. Tal aponta para uma data nos anos 50 para Marcos. Porém, muitos estudiosos crêem que Marcos não foi escrito antes de Pedro ter morrido; i.e., depois de 67, mas antes de 70.9
O tema de Marcos é “Cristo, o Servo”. Este ponto principal é revelado em 10:45: “Porque o Filho do homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate de muitos”. Uma leitura cuidadosa de Marcos mostra como os dois temas deste versículo, serviço e sacrifício, são desvendados por Marcos. Marcos dirige-se primeiramente ao leitor Romano ou Gentio. Em resultado, a genealogia de Jesus é omitida, em conjunto com o Sermão da Montanha, e as condenações da parte dos líderes religiosos recebem menos atenção. Adicionalmente, dado que Marcos apresenta Jesus como o Trabalhador, o Servo do Senhor, o livro foca-se na actividade de Cristo enquanto Servo fiel, dedicando-se efectivamente à Sua obra. Este destaque evidencia-se através do estilo de Marcos, conforme é explícito no seu uso do grego euqus, “imediatamente, de imediato”, ou “logo, então”, que ocorre cerca de 42 vezes neste Evangelho. O seu significado varia desde o sentido imediato, como em 1:10, até ao de ordem lógica (“na devida altura, então”; confira 1:21 [“logo”]; 11:3 [“logo”]).10 Outra ilustração acerca desta ênfase activa é o uso proeminente do presente histórico, por parte de Marcos, de modo a descrever um evento passado, o que era evidentemente feito para fins de vivacidade.
Cristo, Servo do Senhor.
Tal resposta inspirada na fé despoleta uma nova fase em termos de conteúdo e curso do ministério de Jesus. Até então, Ele procurou validar as Suas afirmações enquanto Messias. Mas, agora, começa a fortalecer os Seus homens para o Seu sofrimento e morte, prestes a ocorrer às mãos dos líderes religiosos. Os passos de Jesus começam diariamente a aproximá-lo de Jerusalém – o local onde o Servo Perfeito irá demonstrar a dimensão total da Sua servidão.11
É claro que a contribuição de Marcos centra-se especialmente na apresentação do Salvador como o Servo que Se Sacrifica, que entrega obedientemente a Sua vida para resgate de muitos. O ponto principal encontra-se claramente no Seu ministério face às necessidades físicas e espirituais dos outros, colocando-as sempre à frente das Suas próprias necessidades. A ênfase na actividade servil do Salvador é constatada no seguinte:
Apenas dezoito das setenta parábolas de Cristo se encontram em Marcos – algumas destas têm apenas uma única frase –, mas ele regista mais de metade dos trinta e cinco milagres de Cristo, a maior proporção nos Evangelhos.12
Sendo o tema do livro Cristo, o Servo, o versículo-chave, 10:45, proporciona a chave para duas divisões naturais do Evangelho: o serviço do Servo (1:1-10:52) e o sacrifício do Servo (11:1-16:20). Podemos dividir isto em cinco secções simples:
I. |
A Preparação do Servo para o Serviço (1:1-13) |
II. |
A Pregação do Servo na Galileia (1:14-9:50) |
III. |
A Pregação do Servo em Perea (10:1-52) |
IV. |
A Paixão do Servo em Jerusalém (11:1-15:47) |
V. |
A Prosperidade do Servo na Ressurreição (16:1-20) |
Tanto Lucas como Actos, dirigidos a Teófilo enquanto obra de dois volumes, são atribuídos a Lucas e, embora Lucas não seja denominado em nenhum lado como o autor de algum deles, bastantes evidências apontam para Lucas, “o médico amado” (Cl. 4:14), como o autor de ambos os livros. De maneira significativa, estes dois livros compõem cerca de 28 por cento do Novo Testamento grego. Os únicos locais onde encontramos o seu nome no Novo Testamento são Colossenses 4:14, 2 Timóteo 4:11 e Filémon 24. Crê-se também que Lucas se referiu a si mesmo nas secções “nós” de Actos (16:10-17; 20:5-21:18; 27:1-28:16). Estas mesmas secções mostram que o autor era um íntimo associado e companheiro de viagem de Paulo. Uma vez que só dois dos associados de Paulo são nomeados na terceira pessoa, a lista pode ser reduzida a Tito e Lucas.
Por processo de eliminação, “Lucas, o médico amado” (Cl. 4:14) e “colaborador” (Fm. 24) de Paulo, torna-se o candidato mais provável. A sua autoria é fundamentada pelo testemunho unânime de antigos escritos Cristãos (e.g., o Cânone Muratori, 170 d.C., e as obras de Ireneu, c. 180).13
A partir de Colossenses 4:10-14, parece ficar evidente que Lucas era gentio, uma vez que Paulo o diferencia dos judeus. Aí o apóstolo declara que, dos seus colaboradores, Aristarco, Marcos e Jesus, chamado o Justo, eram os únicos judeus. Tal sugere que Epafras, Lucas e Demas, também mencionados nestes versículos, eram gentios, não judeus. “A perícia óbvia de Lucas com a língua grega e a sua frase 'na própria linguagem deles' em Actos 1:19 também sugerem que não era judeu”. 14
Nada sabemos acerca da sua vida passada ou conversão, excepto que não foi testemunha ocular da vida de Jesus Cristo (Lucas 1:2). Embora médico de profissão, era em primeiro lugar um evangelista, tendo redigido este evangelho e o livro dos Actos e acompanhado Paulo na obra missionária... Encontrava-se com Paulo na altura do martírio do apóstolo (2 Tm. 4:11) mas, relativamente à sua vida posterior, não dispomos de factos certos.15
Dois períodos comummente sugeridos para a datação do Evangelho de Lucas são... (1) 59-63 d.C., e (2) os anos 70 ou 80, mas a conclusão de Actos mostra-nos que Paulo se encontrava em Roma e, uma vez que Lucas é o tratado precedente, escrito antes de Actos (Actos 1:1), o Evangelho de Lucas deverá ter sido redigido num período anterior, à volta de 60 d.C.. Contudo, sugerindo que o Evangelho de Lucas recebeu a sua forma final na Grécia e não em Roma, alguns apontam para 70 d.C.
O propósito de Lucas é claramente declarado no prólogo do seu Evangelho.
1:1-4 Tendo, pois, muitos empreendido pôr em ordem a narração dos factos que entre nós se cumpriram, 1:2 Segundo nos transmitiram os mesmos que os presenciaram, desde o princípio, e foram ministros da palavra, 1:3 Pareceu-me, também, a mim conveniente descrevê-los a ti, ó excelente Teófilo, por sua ordem, havendo-me já informado, minuciosamente, de tudo, desde o princípio; 1:4 Para que conheças a certeza das coisas de que já estás informado.
Deve prestar-se atenção a vários aspectos relativos à sua abordagem de apresentação do evangelho:
Lucas declara que a sua própria obra foi estimulada pelo trabalho de outros (1:1), que consultou testemunhas oculares (1:2) e que examinou minuciosamente e ordenou a informação (1:3) sob a orientação do Espírito Santo, de modo a instruir Teófilo acerca da fiabilidade histórica da fé (1:4). Trata-se de uma redacção cuidadosamente investigada e documentada.16
Enquanto gentio, Lucas ter-se-á sentido responsável por escrever o seu registo em dois volumes da vida de Cristo, de modo a que fosse disponibilizado aos leitores gentios. Tal parece evidente pelo facto de que Lucas “traduz termos aramaicos com palavras gregas e explica a geografia e costumes judaicos, tornando o seu Evangelho mais inteligível para o seu universo de leitores, originalmente grego”.17
Lucas, escrito pelo “médico amado”, é o Evangelho mais longo e abrangente. Apresenta o Salvador como o Filho do Homem, o Homem Perfeito que veio procurar e salvar o que estava perdido (19:10). Em Mateus, vemos Jesus como Filho de David, Rei de Israel; em Marcos, vemo-Lo como o Servo do Senhor, servindo outros; em Lucas, vemo-Lo como o Filho do Homem, indo ao encontro das necessidades humanas, um homem perfeito entre homens, escolhido de entre os homens, testado entre eles e sumamente qualificado para ser o Salvador e Sumo-Sacerdote. Em Mateus, vemos combinações de eventos relevantes; em Marcos, vemos instantâneos de eventos relevantes; mas, em Lucas, vemos mais detalhes destes eventos por parte do médico/historiador.
A Sua natureza humana perfeita enquanto o Filho do Homem, mas também Filho de Deus, é realçada pelo seguinte:
Assim, em Jesus temos Alguém que é masculinidade perfeita – física, mental e espiritualmente.
Jesus, o Filho do Homem.
Capítulo 15. Em vista do tema destacado em 19:10, a ênfase em “procurar” nas três parábolas do capítulo 15 (a ovelha perdida, a moeda perdida e o filho pródigo) torna-o um capítulo-chave no Evangelho de Lucas.
A humanidade e compaixão de Jesus são repetidamente enfatizadas no Evangelho de Lucas. Lucas proporciona o registo mais completo dos antepassados, nascimento e desenvolvimento de Cristo. Ele É o Filho do Homem ideal, que se identificava com a tristeza e difícil situação do homem pecaminoso, de modo a carregar as nossas mágoas e oferecer-nos o inestimável presente da salvação. Sozinho, Jesus concretiza o ideal grego da perfeição humana.18
I. |
O Prólogo: O Método e Propósito da Redacção (1:1-4) |
II. |
A Identificação do Filho do Homem com os Homens (1:1-4:13) |
III. |
O Ministério do Filho do Homem aos Homens (4:14-9:50) |
IV. |
A Rejeição do Filho do Homem por parte dos Homens (9:51-19:44) |
V. |
O Sofrimento do Filho do Homem pelos Homens (19:45-23:56) |
VI. |
A Autenticação (através da ressurreição) do Filho do Homem Diante dos Homens (24:1-53) |
Desde cedo no século segundo, a tradição eclesial atribuiu o quarto Evangelho ao apóstolo João, filho de Zebedeu e irmão de Tiago. Jesus chamou a João e Tiago “Filhos do Trovão” (Marcos 3:17). Salomé, a sua mãe, servira Jesus na Galileia e estava presente aquando da Sua crucificação (Marcos 15:40-41). Não só era próximo de Jesus enquanto um dos Doze, mas também é usualmente identificado como “o discípulo a quem Jesus amava” (13:23; 18:15, 16; 19:26-27), pertencendo ao círculo íntimo e ao grupo de três pessoas que Cristo levou Consigo ao Monte da Transfiguração (Mt. 17:1). Também era um íntimo associado de Pedro. Após a ascensão de Cristo, João tornou-se uma das pessoas que Paulo identificou como as “colunas” da Igreja (Gl. 2:9).
No sentido estrito do termo, o quarto Evangelho é anónimo. Não é fornecido no texto o nome do seu autor. Tal não é surpreendente, já que um evangelho difere de uma epístola (carta) quanto à forma literária. Cada carta de Paulo começa com o seu nome, conforme o costume habitual dos escritores de cartas no mundo antigo. Nenhum dos autores humanos dos quatro Evangelhos se identificou pelo nome. Porém, isso não quer dizer que não seja possível saber quem foram os autores. Um autor pode revelar-se indirectamente ao longo da escrita ou, por tradição, pode ser bem conhecido que a obra provém dele.
A evidência interna proporciona a cadeia de ligações que se segue a respeito do autor do Quarto Evangelho. (1) Em João 21:24, a palavra “as [estas coisas]” refere-se a todo o Evangelho, não apenas ao último capítulo. (2) “O discípulo” em 21:24 era “o discípulo a quem Jesus amava” (21:7). (3) A partir de 21:7, torna-se claro que o discípulo a quem Jesus amava era uma das sete pessoas mencionadas em 21:2 (Simão Pedro, Tomé, Natanael, os dois filhos de Zebedeu e dois discípulos não nomeados). (4) “O discípulo a quem Jesus amava” estava sentado perto do Senhor na Última Ceia, e Pedro fez-lhe sinal (13:23-24). (5) Deve ter pertencido aos Doze, uma vez que apenas eles se encontravam com o Senhor aquando da Última Ceia (confira Marcos 14:17; Lucas 22:14). (6) No Evangelho, João era bastante próximo de Pedro e, assim, parece ter sido um dos três associados mais íntimos (confira João 20:2-10; Marcos 5:37-38; 9:2-3; 14:33). Uma vez que Tiago, irmão de João, morreu no ano 44 D.C., não foi o autor (Actos 12:2). (7) “O outro discípulo” (João 18:15-16) parece referir-se ao “discípulo a quem Jesus amava”, dado que assim é denominado em 20:2. (8) O “discípulo a quem Jesus amava” esteve ao pé da cruz (19:26), e 19:35 parece referir-se a ele. (9) A declaração do autor, “Vimos a Sua glória” (1:14), era a afirmação de alguém que fora testemunha ocular (confira 1 João 1:1-4).
A união de todos estes factos constitui um bom argumento a favor de o autor do Quarto Evangelho ter sido João, um dos filhos de um pescador chamado Zebedeu.19
Alguns críticos procuraram colocar a datação de João bem no século segundo (à volta de 150 d.C.), mas uma série de factores provou que tal era falso.
Achados arqueológicos atestando a autenticidade do texto de João (e.g., João 4:11; 5:2-3), estudos de vocabulário (e.g., synchrõntai, 4:9), a descoberta de manuscritos (e.g., P52) e os Rolos do Mar Morto têm conferido forte apoio a uma datação anterior de João. Por isso, é comum hoje em dia encontrar estudiosos não-conservadores defendendo uma data tão antiga como 45-66 d.C.. Uma data antiga é possível. Mas este Evangelho tem sido conhecido na Igreja como o “Quarto”, e os pais da Igreja primitiva acreditavam que fora escrito quando João era já um homem de idade. Por conseguinte, uma data entre 85 e 95 é melhor. João 21:18, 23 requer a passagem de algum tempo, com Pedro a envelhecer e João a viver mais do que ele.20
Provavelmente mais do que qualquer outro livro da Bíblia, João afirma claramente qual o tema e propósito do seu Evangelho. De maneira significativa, esta declaração de propósito segue-se ao encontro de Tomé com o salvador ressuscitado. Se bem se recorda, Tomé duvidara da realidade da ressurreição (João 20:24-25). Imediatamente depois disto, o Senhor apareceu aos discípulos e dirigiu-se a Tomé com estas palavras: “Chega aqui o teu dedo e vê as Minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no Meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente”. Tomé declarou então: “Meu Senhor e meu Deus!”. O Senhor disse depois a Tomé: “Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram”. É depois desta troca de ideias e foco na necessidade de crer em Jesus que João nos concede o tema e declaração de propósito:
20:30 Jesus, pois, operou também, em presença dos seus discípulos, muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro. 20:31 Estes, porém, foram escritos, para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.
Em concordância com esta declaração de propósito, João seleccionou sete sinais-milagres para revelar a pessoa e missão de Cristo, a fim de motivar as pessoas a acreditarem em Jesus como Salvador. O termo usado a respeito destes milagres é shmeion, “um sinal, uma marca distintiva” e “um sinal consistindo num milagre, uma maravilha, algo contrário à natureza”. João refere-se sempre aos milagres de Jesus através deste termo, porque shmeion enfatizava a importância da acção, mais do que o milagre em si (veja, e.g., 4:54; 6:14; 9:16; 11:47). Estes sinais revelavam a glória de Jesus (veja 1:14; confira Is. 35:1-2; Joel 3:18; Am. 9:13). Os sete sinais consistiam no seguinte: (1) a transformação da água em vinho (2:1-11); (2) a cura do filho de um oficial (4:46-54); (3) a cura do paralítico (5:1-18); (4) alimentar as multidões (6:6-13); (5) caminhar sobre as águas (6:16-21); (6) conceder visão ao cego (9:1-7); e (7) a ressurreição de Lázaro (11:1-45).
O tema especial e propósito de João são também facilmente discerníveis através da natureza distinta do seu Evangelho, quando comparado com Mateus, Marcos e Lucas.
Quando alguém compara o Evangelho de João com os outros três Evangelhos, depara-se com o carácter distinto da apresentação de João. João não inclui a genealogia de Jesus, nascimento, baptismo, tentação, expulsão de demónios, parábolas, transfiguração, instituição da Ceia do Senhor, Sua agonia no Getsémani nem a Sua ascensão. A apresentação que João faz de Jesus enfatiza o Seu ministério em Jerusalém, as festas da nação judaica, os contactos de Jesus com indivíduos sob a forma de conversas particulares (e.g., capítulos 3-4; 18:28-19:16) e o Seu ministério para com os Seus discípulos (capítulos 13-17). A parte principal do Evangelho está contida num “Livro de Sinais” (2:1-12:50), que abrange sete milagres ou “sinais” que proclamam Jesus como o Messias, o Filho de Deus. Este “Livro de Sinais” também contém grandes discursos de Jesus, que explicam e proclamam a importância dos sinais. Por exemplo, após alimentar 5,000 pessoas (6:1-15), Jesus revelou-Se como o Pão da Vida, que o Pai celestial concede para dar a vida ao mundo (6:25-35). Outra característica exclusiva e notável do Quarto Evangelho é a série de afirmações “Eu Sou”, realizadas por Jesus (confira 6:35; 8:12; 10:7, 9, 11, 14; 11:25; 14:6; 15:1, 5).
O carácter distinto deste Evangelho deverá ser mantido em perspectiva. Os Evangelhos não se destinavam a ser biografias. A partir de um conjunto muito mais amplo de informação, cada escritor do Evangelho seleccionou o material que serviria o seu propósito. Tem sido estimado que, caso todas as palavras citadas em Mateus, Marcos e Lucas como saídas da boca de Jesus fossem lidas em voz alta, o tempo necessário para a sua proclamação seria de apenas três horas...21
O conceito-chave em João é Jesus, o Filho de Deus, aquele que é o Lógos, a própria revelação de Deus (João 1:1, 14, 18). Mas há um número de outras palavras-chave na apresentação de Cristo, tais como verdade, luz, trevas, verbo, sabedoria, crer, permanecer, amar, mundo, testemunho e julgamento. O verbo crer (grego, pisteuw) ocorre 98 vezes neste Evangelho. O substantivo “fé” (grego, pistis) não aparece.
Embora a divindade de Cristo seja um tema proeminente em muitas passagens da Bíblia, nenhum outro livro apresenta melhores argumentos a favor da essência divina de Jesus enquanto o Filho encarnado de Deus do que este Evangelho. Sucede que a pessoa identificada como “O homem chamado Jesus” (9:11) é também chamada de “Deus Unigénito” (1:18, NIV), “Cristo, o Filho de Deus” (6:69, KJV) ou “o Santo de Deus” (6:69, NIV, NASB, NET)22.
Esta declaração da divindade de Jesus Cristo é desenvolvida ainda mais através de sete afirmações “EU SOU”, feitas por Jesus e registadas no Evangelho de João. Estas sete afirmações são as seguintes: Eu sou o pão da vida (6:35), Eu sou a luz do mundo (8:12), Eu sou a porta (10:7,9), Eu sou o bom pastor (10:11, 14), Eu sou a ressurreição e a vida (11:25), Eu sou o caminho, a verdade e a vida (14:6), Eu sou a vinha verdadeira (15:1, 5).
Outro traço distintivo do Evangelho de João, focando-se novamente na pessoa de Cristo, são os cinco testemunhos que atestam Jesus como o Filho de Deus. Em João 5:31 ss, Jesus responde aos argumentos dos Seus oponentes. Estes argumentavam que o Seu testemunho não dispunha de outras testemunhas que o corroborassem, mas Jesus mostra que tal não é verdade, passando a lembrá-los de que outras testemunhas atestavam a validade das suas afirmações: o Seu Pai (vs. 32, 37), João Baptista (v. 33), os Seus milagres (v. 36), as Escrituras (v. 39) e Moisés (v. 46). Mais tarde, em 8:14, declara que o Seu testemunho é de facto verdadeiro.
…Em certas ocasiões, Jesus equipara-se a Si mesmo ao “EU SOU” do Antigo Testamento, ou Yahweh (veja 4:25-26; 8:24, 28, 58; 13:19; 18:5-6, 8). Algumas das afirmações mais decisivas a respeito da Sua divindade encontram-se aqui (1:1; 8:58; 10:30; 14:9; 20:28).23
I. O Prólogo: A Encarnação do Filho de Deus (1:1-18)
A. A Divindade de Cristo (1:1-2)
B. A Obra Pré-Encarnada de Cristo (1:3-5)
C. O Precursor de Cristo (1:6-8)
D. A Rejeição de Cristo (1:9-11)
E. A Aceitação de Cristo (1:12-13)
F. A Encarnação de Cristo (1:14-18)
II. A Apresentação do Filho de Deus (1:19-4:54)
A. Por João Baptista (1:19-34)
B. Aos Discípulos de João (1:35-51)
C. Nas Bodas de Caná (2:1-11)
D. No Templo de Jerusalém (2:12-25)
E. A Nicodemos (3:1-21)
A. Por João Baptista (3:22-36)
G. À Mulher Samaritana (4:1-42)
H. A um Oficial de Cafarnaum (4:43-54)
III. A Oposição ao Filho de Deus (5:1-12:50)
A. Na Festa em Jerusalém (5:1-47)
B. Durante a Altura da Páscoa na Galileia (6:1-71)
C. Na Festa dos Tabernáculos em Jerusalém (7:1-10:21)
D. Na Festa da Dedicação em Jerusalém (10:22-42)
E. Em Betânia (11:1-12:11)
F. Em Jerusalém (12:12-50)
IV. A Instrução por parte do Filho do Homem (13:1-16:33)
A. A Respeito do Perdão (13:1-20)
B. A Respeito da Sua Traição (13:21-30)
C. A Respeito da Sua Partida (13:31-38)
D. A Respeito do Céu (14:1-14)
E. A Respeito do Espírito Santo (14:15-26)
F. A Respeito da Paz (14:27-31)
G. A Respeito da Produtividade (15:1-17)
H. A Respeito do Mundo (15:18-16:6)
I. A Respeito do Espírito Santo (16:7-15)
J. A Respeito do Seu Regresso (16:16-33)
V. A Intercessão do Filho de Deus (17:1-26)
VI. A Crucificação do Filho de Deus (18:1-19:42)
VII. A Ressurreição do Filho de Deus (20:1-31)
A. O Túmulo Vazio (20:1-9)
B. As Aparições do Senhor Ressuscitado (20:10-31)
VIII. O Epílogo: A Aparição junto ao Lago (21:1-25)
A. A Aparição aos Sete Discípulos (21:1-14)
B. As Palavras dirigidas a Pedro (21:15-23)
C. A Conclusão do Evangelho (21:24-25)
Embora o autor não seja nomeado em Actos, a evidência leva à conclusão de que se tratou de Lucas. Conforme previamente mencionado, Actos é o segundo volume de um tratado de duas partes escrito por Lucas, o médico, a Teófilo, acerca de “tudo quanto Jesus começou a fazer e a ensinar”. Apoiando a ideia de Lucas como autor, Ryrie escreve:
Que o autor de Actos acompanhava Paulo fica claro nas passagens do livro em que “nós” e “nos” são utilizados (16:10-17; 20:5-21:18; 27:1-28:16). Estas secções excluem outros associados conhecidos de Paulo que não Lucas, e Colossenses 4:14 e Filémon 24 apontam afirmativamente para Lucas, que era médico. O uso frequente de termos médicos também fundamenta esta conclusão (1:3; 3:7 ss.; 9:18, 33; 13:11; 28:1-10). Lucas respondeu ao chamamento macedónico com Paulo, ficou encarregue do trabalho em Filipos durante cerca de seis anos e, mais tarde, esteve com Paulo em Roma durante o período da sua prisão domiciliária. Foi provavelmente durante este último período que o livro foi escrito. Caso tivesse sido redigido mais tarde, seria muito difícil explicar a ausência de referência a momentos tão decisivos como o incêndio de Roma, o martírio de Paulo ou a destruição de Jerusalém.24
A respeito do título, todos os manuscritos gregos disponíveis designam-no pelo título Praxeis, “Actos”, ou pelo título “Os Actos dos Apóstolos”. Desconhece-se ao certo como ou porque recebeu este título. Na verdade, “Os Actos dos Apóstolos” talvez não seja o título mais exacto, uma vez que não abrange os actos de todos os apóstolos. Apenas Pedro e Paulo são realmente enfatizados, embora a promessa da vinda do Espírito seja feita a todos os apóstolos em Actos 1:2-8, que naquela altura deveriam ir por todo o mundo para pregar o evangelho no poder do Espírito (contudo, veja 4:32). Muitos sentem que o livro seria intitulado de uma forma mais exacta como “Os Actos do Espírito Santo”, uma vez que descreve a difusão do Cristianismo a partir do momento da vinda do Espírito em Actos 2, conforme prometido em Actos 1:8.
As questões concernentes à datação do livro são sumariadas por Stanley Toussaint da seguinte maneira:
A redacção de Actos deverá ter tido lugar antes da destruição de Jerusalém, em 70 d.C.. Certamente, um evento de tal magnitude não seria ignorado. Isto é especialmente verdade à luz de um dos temas básicos do livro: Deus, que a partir dos judeus se dirige aos gentios, face à rejeição dos judeus relativamente a Jesus Cristo.
Lucas dificilmente omitiria um registo da morte de Paulo, tradicionalmente datada entre 66 e 68 d.C., caso tivesse ocorrido antes de escrever Actos.
Da mesma forma, também não mencionou as perseguições neronianas, que começaram após o grande incêndio de Roma, em 64 d.C..
Para além disso, uma defesa do Cristianismo diante de Nero baseada no Livro de Actos, apelando ao que oficiais de classes mais baixas haviam decidido a respeito de Paulo, teria feito pouco sentido no período de antagonismo neroniano. Numa altura em que Nero estava tão determinado a destruir a Igreja, a defesa apresentada em Actos teria surtido pouco efeito na sua dissuasão.
A data usualmente aceite por estudiosos conservadores para redacção de Actos situa-se à volta de 60-62 d.C.. De modo concordante, o local de redacção terá sido Roma ou, possivelmente, Cesareia e Roma. Por essa altura, a libertação de Paulo estaria iminente ou acabara de ocorrer.25
O livro de Actos destaca-se pelo seu carácter único entre os livros do Novo Testamento, uma vez que proporciona sozinho uma ponte para esses mesmos livros. Enquanto segundo tratado de Lucas, Actos dá continuidade ao que Jesus “começou a fazer e a ensinar” (1:1), conforme registado nos Evangelhos. Inicia-se com a Ascensão de Cristo e prossegue até ao período das Epístolas do Novo Testamento. Nele temos a continuação do ministério de Jesus Cristo através do Espírito Santo, em actuação nos apóstolos, que avançaram na pregação e estabelecimento da Igreja, corpo de Cristo. Actos é a ligação histórica entre os Evangelhos e as Epístolas.
Não só estabelece para nós esta ponte, mas também proporciona um registo da vida de Paulo, concedendo-nos o contexto histórico das suas cartas. No processo, Actos volta a contar os primeiros 30 anos da vida da Igreja.
Após sumariar várias perspectivas a respeito do propósito de Actos, Toussaint escreve:
O propósito do Livro de Actos pode ser definido como se segue: Explicar, em parceria com o Evangelho de Lucas, o progresso organizado e soberanamente dirigido da mensagem do reino, desde os judeus até aos gentios, e desde Jerusalém até Roma. No Evangelho de Lucas, levanta-se a seguinte questão: “Se o Cristianismo teve as suas raízes no Antigo Testamento e no Judaísmo, como se tornou uma religião mundial?”. O Livro de Actos continua na linha do Evangelho de Lucas, a fim de dar resposta ao mesmo problema.26
Actos 1:8 exprime o tema do livro – o Espírito Santo interior, que capacita o povo de Deus para ser testemunha do Salvador, tanto em Jerusalém (a base operacional) como em toda a Judeia e Samaria (as áreas imediatamente circundantes), e até à parte mais remota da terra (o mundo).
Os intervenientes-chave incluem Pedro, Estêvão, Filipe, Tiago, Barnabé e Paulo.
Salvador ressuscitado é o tema central dos sermões e apologias em Actos. As Escrituras do Antigo Testamento, a ressurreição histórica, o testemunho apostólico e o poder de convicção do Espírito Santo – todos testemunham que Jesus É o Cristo e o Senhor (veja os sermões de Pedro em 2:22-36; 10:34-43). “Dele todos os profetas dão testemunho, anunciando que todos os que n'Ele crêem recebem o perdão dos pecados por meio do Seu nome” (10:43). “Em nenhum outro há salvação, porque debaixo do céu nenhum outro nome foi dado aos homens pelo qual devamos ser salvos” (4:12).27
Actos pode ser naturalmente planificado em torno de Actos 1:8, a difusão do evangelho desde Jerusalém até à Judeia e Samaria, e até aos confins da terra.28
I. O Testemunho em Jerusalém (1:1-6:7)
A. A Expectativa dos Escolhidos (1:1-2:47) Relatório de progresso nº 1: “E o Senhor cada dia lhes ajuntava outros, que estavam a caminho da salvação” (2:47).
B. A Expansão da Igreja em Jerusalém (3:1-6:7) Relatório de progresso nº 2: “Divulgava-se sempre mais a palavra de Deus. Multiplicava-se consideravelmente o número de discípulos em Jerusalém” (6:7).
II. O Testemunho em toda a Judeia e Samaria (6:8-9:31)
A. O Martírio de Estêvão (6:8-8:1a)
1. A Prisão de Estêvão (6:8-7:1)
2. O Discurso de Estêvão (7:2-53)
3. O Ataque a Estêvão (7:54-8:1a)
B. O Ministério de Filipe (8:1b-40)
C. A Mensagem de Saulo (9:1-19a)
D. Os Conflitos de Saulo (9:19b-31) Relatório de progresso nº 3: “Assim, pois, as igrejas em toda a Judeia, e Galileia e Samaria tinham paz, e eram edificadas; e se multiplicavam, andando no temor do Senhor e na consolação do Espírito Santo” (9:31).
III. O Testemunho até aos Confins da Terra (9:32-28:31)
A. A Disseminação da Igreja até Antioquia (9:32-12:24) Relatório de progresso nº4: “Entretanto, a palavra de Deus crescia e espalhava-se sempre mais” (12:24).
B. A Disseminação da Igreja até à Ásia Menor (12:25-16:5) Relatório de progresso nº5: “Assim as igrejas eram confirmadas na fé, e cresciam em número de dia para dia” (16:5).
C. A Disseminação da Igreja até à Região do Egeu (16:6-19:20) Relatório de progresso nº6: “Foi assim que o poder do Senhor fez crescer a palavra e a tornou sempre mais eficaz” (19:20).
D. A Disseminação da Igreja até Roma (19:21-28:31) Relatório de progresso nº 7: “Paulo... recebia todos os que vinham procurá-lo. Pregava o Reino de Deus e ensinava as coisas a respeito do Senhor Jesus Cristo, com toda a liberdade e sem proibição” (28:30-31).
Artigo original por J. Hampton Keathley III, Th.M.
Tradução de C. Oliveira
J. Hampton Keathley III, Th.M., licenciou-se em 1966 no Seminário Teológico de Dallas, trabalhando como pastor durante 28 anos. Em Agosto de 2001, foi-lhe diagnosticado cancro do pulmão e, no dia 29 de Agosto de 2002, partiu para casa, para junto do Senhor.
Hampton escreveu diversos artigos para a Fundação de Estudos Bíblicos (Biblical Studies Foundation), ensinando ocasionalmente Grego do Novo Testamento no Instituto Bíblico Moody, Extensão Noroeste para Estudos Externos, em Spokane, Washington.
1 Machen, p.17.
2 J. Sidlow Baxter, Explore The Book, A Basic and Broadly Interpretative Course of Bible Study From Genesis to Revelation, Vol. 5, Período Intertestamentário e os Evangelhos, Zondervan, Grand Rapids, 1960, p. 120.
3Bruce Wilkinson e Kenneth Boa, Talk Thru The Bible (Caminhada Bíblica), Thomas Nelson, Nashville, 1983, p. 305.
4 Wilkinson/Boa, p. 308.
5 Charles Caldwell Ryrie, Ryrie Study Bible, Expanded Edition, Moody, p. 1509.
6 John F. Walvoord, Roy B. Zuck, editores, The Bible Knowledge Commentary, Victor Books, Wheaton, 1983,1985, versão electrónica.
7 Walter M. Dunnett, Professor do Novo Testamento, Instituto Bíblico Moody , New Testament Survey, Associação “Evangelical Teacher Training”, Wheaton, 1967, p. 17.
8 Ryrie, p. 1574.
9 Ryrie, p. 1574.
10 Walvoord/Zuck, versão electrónica.
11 Wilkinson/Boa, p. 320.
12 Wilkinson/Boa, p. 321.
13 The NIV Study Bible Notes, Zondervan NIV Bible Library, Zondervan, Grand Rapids, 1985, versão electrónica.
14 Wilkinson/Boa, p. 327.
15 Ryrie, p. 1614.
16 Ryrie, p. 1614.
17 Wilkinson/Boa, p. 328.
18 Wilkinson/Boa, p. 328.
19 Walvoord/Zuck, versão electrónica.
20 Walvoord/Zuck, versão electrónica.
21 Walvoord/Zuck, versão electrónica.
22 Nota de Tradução: sugerem-se as seguintes versões bíblicas portuguesas para melhor compreensão do texto: 1:18, NVI; 6:69, JFA-RC; 6:69, NVI, JFA-RA e Bíblia Ave Maria.
23 Wilkinson/Boa, p. 338.
24 Ryrie, p. 1724.
25 Walvoord/Zuck, versão electrónica.
26 Walvoord/Zuck, versão electrónica.
27 Wilkinson/Boa, p. 353.
28 O plano geral aqui utilizado segue o de Dr. Stanley em Bible Knowledge Commentary, editado por Walvoord e Zuck, versão electrónica.
Finda a análise dos livros históricos (os Evangelhos e Actos), chegamos agora às vinte e uma epístolas do Novo Testamento, vinte e duas caso Revelação seja considerada uma epístola (que é, na realidade [veja Rv. 1:4]). Devido à sua natureza apocalíptica distinta, contudo, distinguimo-la nesta análise como O Livro Profético do Novo Testamento. As Epístolas são geralmente divididas em Epístolas Paulinas e Não-Paulinas (Gerais). As epístolas de Paulo recaem sobre duas categorias: nove epístolas escritas a igrejas (de Romanos a 2 Tessalonicenses) e quatro epístolas pastorais e pessoais (1 e 2 Timóteo, Tito e Filémon). Seguem-se depois oito epístolas Cristãs Hebraicas (de Hebreus a Judas). Naturalmente, levantar-se-iam muitas questões acerca do significado e aplicabilidade do evangelho para os cristãos. Assim, as Epístolas respondem a estas perguntas, providenciam a interpretação da pessoa e obra de Cristo e aplicam a verdade do evangelho aos crentes.
Durante muitos anos, Paulo foi conhecido como Saulo de Tarso. Nasceu no seio de uma família de judeus na cidade de Tarso da Cilícia. Não só era judeu como também, segundo o seu próprio testemunho, era fariseu e filho de fariseus (Actos 23:6), hebreu de hebreus (falava hebraico ou aramaico), pertencente à tribo de Benjamim (Fl. 3:4-5) e fora, evidentemente, instruído no ofício do fabrico de tendas durante a juventude (Actos 18:3). Decerto ainda jovem, partiu para Jerusalém e, de acordo com o seu próprio testemunho, estudou sob a direcção do conhecido Gamaliel I, um notável professor na Escola de Hilel (Actos 22:3). Nos seus estudos, avançou na religião dos judeus para lá de muitos dos seus companheiros, extremamente zeloso pelas suas tradições ancestrais (Gl. 1:14).
O seu zelo enquanto religioso judeu estendeu-se na forma como procurava afincadamente perseguir a Igreja. Ainda um jovem fariseu, esteve presente quando Estêvão foi apedrejado e assassinado (Actos 7:58-8:3). Na sua campanha contra os cristãos, quer homens, quer mulheres, viajava com cartas de detenção da parte do sumo-sacerdote até outras cidades, a fim de destruir a Igreja de Jesus Cristo (Actos 26:10-11; Gl. 1:13). Foi numa destas missões, na estrada para Damasco, que se deu a conversão de Paulo.
Paulo também era grego por cultura, tendo evidentemente recebido uma educação grega (confira Actos 17:28; Tito 1:12). Mostrava ter conhecimento da cultura e modo de pensamento gregos. Enquanto estudante, estava familiarizado com muitas citações de escritores clássicos e contemporâneos. Adicionalmente, Paulo era cidadão romano, sendo romano de nascimento (Actos 22:28). Devido a isto, e enquanto cidadão de Roma, podia apelar a César aquando da sua detenção em Filipos (Actos 16:37-39).
Consequentemente, Paulo estava particularmente qualificado para ser o escolhido para levar a mensagem do evangelho aos gentios. Paulo poderia facilmente dizer: “Fiz-me tudo para todos, para, por todos os meios, chegar a salvar alguns” (1 Co. 9:22).
Tendo perseguido a igreja de Jesus Cristo energética e consistentemente, Paulo teve, na viagem para Damasco, um encontro com o Cristo glorificado e ressuscitado, com efeitos revolucionários na sua vida.
Havia negado a afirmação cristã de que Jesus era o Messias, o Filho de Deus. Para além disso, não acreditava que Ele se houvesse erguido dos mortos, como Estêvão afirmara ao clamar: “Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem, que está em pé à mão direita de Deus” (Actos 7:56). “Mentiroso!”, gritaram, apedrejando-o. Paulo permaneceu ali e “consentiu na morte dele”. Mas, quando o Senhor Jesus falou a Saulo no dia da grande experiência fora de Damasco, ele soube que Estêvão estivera certo, e ele, errado. Afinal Jesus estava vivo! E, para além disso, devia ser o Filho de Deus. Por isso, proclamou Cristo como o Salvador nas sinagogas de Damasco.
...Embora a experiência tenha sido súbita e dramática, os efeitos persistiram. O impacto deverá ter obrigado a grandes ajustes psicológicos e intelectuais. Tal poderá bem justificar o período despendido na Arábia e em Damasco antes da sua primeira visita a Jerusalém (Gl. 1:16-19). Depois disso, regressou à sua terra natal e, durante um período de oito a dez anos, pouco se sabe acerca das suas actividades.1
Antes da perspectiva geral de cada uma das epístolas de Paulo, seria bom atentar, em poucas palavras, à ênfase e contribuições distintas de cada epístola.2
Conforme a carta afirma, Paulo é o autor (veja 1:1). Praticamente sem nenhuma excepção, esta epístola tem sido atribuída a Paulo desde a Igreja primitiva. A carta contém um conjunto de referências históricas concordantes com factos conhecidos da vida de Paulo, e o conteúdo doutrinal do livro é consistente com os outros escritos do apóstolo, um facto rapidamente evidente após a comparação com as restantes cartas.
Alguns exemplos bastarão: a doutrina da justificação pela fé (Rm. 3:20-22; Gl. 2:16); a Igreja enquanto corpo de Cristo, designada para O representar e servir através de uma série de dons espirituais (Rm. 12; 1 Co. 12); a colecta para os santos pobres de Jerusalém (Rm. 15:25-28; 2 Co. 8-9). Compreensivelmente, Paulo faz menos referências a si mesmo e aos seus leitores em Romanos do que em 1 e 2 Coríntios e Gálatas, uma vez que não fundara a igreja de Roma nem a orientara na sua luta pela maturidade como fizera com as restantes.3
A única questão concernente à autoria circula à volta do capítulo 16. Ryrie escreve:
A menção pelo nome de 26 pessoas numa igreja que Paulo nunca visitara (e, particularmente, de Priscila e Áquila, mais recentemente associados com Éfeso, Actos 18:18-19) levou alguns estudiosos a considerar o capítulo 16 parte de uma epístola enviada a Éfeso. Seria natural, porém, que Paulo referisse, na comunicação com uma igreja que lhe era estranha, a sua relação com amigos em comum. Só há uma outra longa série de cumprimentos de Paulo, que se encontra em Colossenses – uma carta também enviada a uma igreja que não havia visitado.4
A epístola aos Romanos, que tem sido considerada a sua “obra-prima” ou “magnum opus”, deve o seu título ao facto de ter sido escrita para a igreja em Roma (1:7, 15). Paulo não estabeleceu a igreja em Roma mas, enquanto apóstolo dos gentios, desejava há muitos anos visitar os seus fiéis (15:22-23), de modo a poder enraizá-los melhor na fé e também lá anunciar o evangelho (1:13-15).
Ansioso por servir em Roma, escreveu aos romanos, preparando o caminho para a sua visita (15:14-17). Esta epístola foi escrita a partir de Corinto, enquanto se completava a colecta para os pobres na Palestina. De lá, partiu para Jerusalém a fim de entregar o dinheiro, planeando prosseguir em direcção a Roma e Espanha (15:24). Paulo acabou por ir a Roma, mas como prisioneiro. Parece que Febe, pertencente à igreja de Cêncris, perto de Corinto (16:1), terá levado a carta até Roma.
A epístola aos Romanos foi escrita por volta de 57-58 d.C., mais provavelmente perto do final da sua terceira viagem missionária (Actos 18:23-21:14; veja também Rm. 15:19). Em vista da afirmação de Paulo em Rm. 15:26, parece que já recebera contribuições das igrejas da Macedónia e da Acaia (onde Corinto se localizava). Tal significa que já estivera em Corinto e, uma vez que ainda não estivera em Corinto quando escreveu a essa igreja (confira 1 Co. 16:1-4; 2 Co. 8-9), a redacção de Romanos deverá ter sucedido à de 1 e 2 Coríntios, datadas em torno de 55 d.C..
Ao contrário de algumas das suas outras epístolas, a carta aos Romanos não foi escrita para focar problemas específicos. Em vez disso, revelam-se três propósitos claros para a redacção de Romanos. O primeiro era simplesmente anunciar os planos de Paulo quanto a visitar Roma após o seu regresso a Jerusalém, preparando a igreja para a sua chegada (15:24, 28-29; confira Actos 19:21). Paulo queria informá-los dos seus planos, levando-os a antecipar e orar pelo cumprimento respectivo (15:30-32). Um segundo propósito era apresentar uma declaração completa e detalhada da mensagem evangélica que Deus o chamara a proclamar. O apóstolo não só estava pronto para “anunciar o evangelho, a vós que estais em Roma” (1:15), mas também desejava que tivessem um entendimento claro do seu significado e implicações em todos os aspectos da vida – passado (justificação), presente (santificação) e futuro (glorificação). Um terceiro propósito está relacionado com as questões que naturalmente surgiriam entre os judeus e os cristãos gentios em Roma, tais como “qual é o efeito do evangelho sobre a Lei e rituais do Antigo Testamento, como a circuncisão?”. E em relação aos judeus? Deus colocou os judeus à parte? Será que Se esqueceu das Suas promessas para com os judeus? Assim, Paulo explica o plano de salvação de Deus para judeus e gentios.
O tema ou ideia-base de Paulo em Romanos são claramente expressos em 1:16-17. Nesses versículos, o apóstolo mostra de que forma Deus salva o pecador. Neles, são reunidos os grandes temas da epístola – o evangelho, o poder de Deus, a salvação, toda a gente, os que crêem, justiça de Deus, judeu e gentio. Ryrie apresenta um excelente resumo do tema e conteúdo respectivo:
Mais formal do que as restantes cartas de Paulo, Romanos expõe a doutrina da justificação pela fé (e suas implicações) de forma sistemática. O tema da epístola é a justiça de Deus (1:16-17). São discutidas várias doutrinas cristãs básicas: revelação natural (Rm. 1:19-20), universalidade do pecado (Rm. 3:9-20), justificação (Rm. 3:24), propiciação (Rm. 3:25), fé (Rm. 4:1), pecado original (Rm. 5:12), união com Cristo (Rm. 6:1), eleição e rejeição de Israel (Rm. 9-11), dons espirituais (Rm. 12:3-8) e respeito pela autoridade (Rm. 13:1-7).5
Várias formas das palavras “justo” e “justiça” encontram-se abundantemente espalhadas ao longo de Romanos. O substantivo grego dikaiosune, “justiça,” ocorre 34 vezes; o nome dikaioma, “um acto justo, absolvição, decreto,” cinco vezes; o termo dikaiokrisia (“julgamento justo”), uma; o adjectivo dikaios, “justo”, ocorre sete vezes; o nome dikaiosis, “justificação, absolvição,” duas vezes, e o verbo dikaioo, “declarar ou mostrar ser justo,” ocorre 15 vezes, num total de 64 ocorrências.
Seleccionar capítulos-chave em Romanos é verdadeiramente difícil pois, neste grande tratado de doutrina e respectiva aplicação na vida, desejar-se-ia dizer que todos os capítulos são importantes. Porém, destacam-se certamente duas secções do livro.
Paulo apresenta Jesus Cristo como o Segundo Adão, cuja justiça e morte substituta providenciaram justificação a todos os que colocam n'Ele a sua fé. Ele oferece a Sua justiça como um dom gracioso ao homem pecaminoso, tendo suportado a condenação e ira de Deus pelo pecado humano. A Sua morte e ressurreição formam a base para a redenção, justificação, reconciliação, salvação e glorificação do crente.7
Com excepção da introdução (1:1-17), na qual Paulo também declara o seu tema, e da conclusão, onde apresenta mensagens pessoais e uma bênção (15:14-16:27), Romanos divide-se facilmente em três secções:
I. Introdução (1:1-17)
II. Condenação: A Necessidade de Justiça Por Causa da Universalidade do Pecado (1:18-3:20)
A. A Condenação do Homem Imoral (o Gentio) (1:18-32)
B. A Condenação do Homem Moral (2:1-16)
C. A Condenação do Homem Religioso (o Judeu) (2:17–3:8)
D. A Condenação de Todos os Homens (3:9-20)
III. Justificação: A Imputação da Justiça de Deus Através de Cristo (3:21 - 5:21)
A. A Descrição da Justiça (3:21-31)
B. A Ilustração da Justiça (4:1-25)
C. As Bênçãos da Justiça (5:1-11)
D. O Contraste entre Justiça e Condenação (5:12-21)
IV. Santificação: A Justiça Transmitida e Comunicada (6:1–8:39)
A. Santificação e Pecado (6:1-23)
B. Santificação e a Lei (7:1-25)
C. Santificação e o Espírito Santo (8:1-39)
V. Justificação: Judeus e Gentios, o Alcance da Justiça de Deus (9:1 - 11:36)
A. O Passado de Israel: A Eleição de Deus (9:1-29)
B. O Presente de Israel: A Rejeição de Deus (9:30–10:21)
C. O Futuro de Israel: A Restauração Providenciada por Deus (11:1-36)
VI. Aplicação: a Prática da Justiça no Serviço (12:1–15:13)
A. Em Relação a Deus (12:1-2)
B. Em Relação a Si Mesmo (12:3)
C. Em Relação à Igreja (12:4-8)
D. Em Relação à Sociedade (12:9-21)
E. Em Relação à Autoridade (13:1-14)
F. Em Relação a Outros Cristãos (14:1–15:13)
VII. Mensagens Pessoais e Bênção (15:14–16:27)
A. Os Planos de Paulo (15:14-33)
B. Cumprimentos Pessoais de Paulo (16:1-16)
C. A Conclusão e Bênção Final de Paulo (16:17-27)
O facto de Paulo ser o autor desta epístola é apoiado tanto por evidência externa como interna. Desde o primeiro século (96 d.C.) e daí em diante, há evidência contínua e abundante relativa à autoria de Paulo. Clemente de Roma fala de 1 Coríntios como “a Epístola do abençoado Apóstolo Paulo” na sua Epístola aos Coríntios, e até citou 1 Coríntios a respeito das suas facções persistentes. A evidência interna é óbvia. O autor chama a si mesmo Paulo em diversos locais (confira 1:1; 16:21 e veja também 1:12-17; 3:4, 6, 22).
Escrita para a igreja em Corinto, esta epístola veio a ser conhecida por Pros Corinthious A, que, com efeito, significa Primeira aos Coríntios. O A ou alfa, primeira letra do alfabeto grego, corresponde indubitavelmente a uma adição posterior, destinada a distingui-la da Segunda aos Coríntios, que sucedeu a esta epístola num curto espaço de tempo.
Paulo anunciou pela primeira vez o evangelho em Corinto aquando da sua segunda viagem missionária, por volta de 50 d.C.. Nesse local, viveu e trabalhou com Áquila e Priscila, que partilhavam o mesmo ofício dele – fabrico de tendas (Actos 18:3). Como era costume, Paulo começou por pregar na sinagoga, mas foi eventualmente expulso devido à oposição judaica. Contudo, limitou-se a passar para a porta ao lado, para a casa de Tício Justo, onde continuou o seu ministério (Actos 18:7). Embora acusado pelos judeus diante do governador romano Gálio (uma denúncia que foi rejeitada), Paulo passou 18 meses em Corinto (Actos 18:1-17; 1 Co. 2:3). Esta carta terá sido redigida por volta de 55 d.C., perto do fim dos três anos de residência de Paulo em Éfeso (confira 16:5-9; Actos 20:31). A partir da sua referência quanto a ter permanecido em Éfeso até ao Pentecostes (16:8), parece que, aquando da redacção desta epístola, pretendia ficar lá pouco menos de um ano.
A fim de se compreender o tema e propósito, torna-se necessária alguma contextualização. Corinto era uma grande metrópole (com aproximadamente 700,000 habitantes, cerca de dois terços escravos), localizada num estreito istmo entre o Mar Egeu e o Mar Adriático, que ligava Peloponeso ao Norte da Grécia. Embora próspera do ponto de vista humano, com um comércio em florescimento, Paulo e os seus associados poderão ter questionado que tipo de sucesso o evangelho da justiça de Deus teria numa cidade como Corinto. Enquanto cidade, tinha a reputação de materialismo flagrante e profunda iniquidade. A cidade estava repleta de altares e templos, sendo o mais proeminente o templo de Afrodite, localizado no topo de um promontório com 1800 pés8 de altura, denominado Acrocorinto. Na antiga literatura grega, estava ligada à riqueza (Homero Íliada 2. 569-70) e à imoralidade. Quando Platão se referia a uma prostituta, usava a expressão “rapariga coríntia” (República 404d). O dramaturgo Philetaerus (Athenaeus 13. 559a) intitulou uma peça burlesca de Ho Korinthiastes, que basicamente significa “O Libertino”. Aristófanes criou o verbo korinthiazomai, “agir como um coríntio,” que veio a significar “praticar fornicação”. De acordo com Estrabão, muita da riqueza e do vício em Corinto circulavam à volta do templo de Afrodite e do seu milhar de prostitutas sagradas. Por esta razão, um provérbio alertava: “Nem todos os homens podem custear uma viagem a Corinto”.
A partir do registo de Actos, pareceria que Paulo colhera poucos frutos entre os judeus, e que quase todos os seus convertidos eram gentios. A maioria deles provinha dos estratos mais baixos, embora também existissem alguns de classes mais nobres (1:26-31). Existiam entre eles marcadas diferenças sociais e económicas (7:20-24; 11:21-34); alguns haviam estado até mergulhados em vícios pagãos (6:9-11). Ainda assim, como gregos, vangloriavam-se no seu intelectualismo, embora, no seu caso, este houvesse degenerado num modelo grosseiro e fútil (1:17; 2:1-5)...9
É certamente perceptível, assim, a maneira como as condições imorais e religiosas de Corinto haviam tido um impacto negativo sobre a vida da igreja, sob um ponto de vista espiritual e moral. O tema básico da carta é a forma como a nova vida dos cristãos, santificados em Cristo e chamados à santidade, deve ser aplicada a cada situação da vida. Esta vida nova em Cristo requer uma forma de viver renovada pela acção do Espírito Santo (3:16, 17; 6:11, 19-20). A sabedoria de Deus, tornada manifesta para nós em Cristo, deve transformar os crentes a nível individual e social.
Por isso, 1 Coríntios foi redigida como correcção pastoral face às notícias que Paulo recebera relativamente aos abundantes problemas e tumultos daquela igreja. Os problemas incluíam divisões no seio da igreja (1:11), confiança na sabedoria humana ou do mundo em detrimento de na sabedoria de Deus (1:21-30), imoralidade (capítulo 5; 6:9-20) e um conjunto de questões a respeito do casamento e divórcio, comida, adoração, dons espirituais e ressurreição. Indubitavelmente, devido ao seu contexto religioso e imoral, crenças aberrantes e práticas de uma extraordinária variedade caracterizavam esta igreja.
Em conceito, uma palavra-chave é “correcção”, uma vez que Paulo procurou corrigir os problemas em Corinto; porém, “sabedoria”, colocando em contraste a sabedoria de Deus e a dos homens, é também uma palavra-chave deste livro. Em 22 versículos, “sabedoria” aparece 29 vezes.
O capítulo 13, o grande capítulo sobre agape, amor, destaca-se indubitavelmente como capítulo principal deste livro. Certamente, jamais existiu uma explicação superior do amor na forma escrita.
A centralidade de Cristo enquanto essência, fonte e meio da vida cristã é expressa em 1:30: “d'Ele sois em Cristo Jesus, que se tornou para nós a sabedoria de Deus: justiça, e santificação, e redenção” (tradução livre).
I. Introdução (1:1-9)
A. A Saudação (1:1-3)
B. A Acção de Graças (1:4-9)
II. Divisões na Igreja (1:10–4:21)
A. O Relato das Divisões (1:10-17)
B. As Razões das Divisões (1:18–2:16)
1. Equívoco face à mensagem de Deus relativamente à cruz (1:18–2:5)
2. Equívoco face ao ministério do Espírito (2:6-16)
C. O Resultado das Divisões (3:1–4:5)
1. O crescimento espiritual é dificultado (3:1-9)
2. As recompensas são perdidas (3:10–4:5)
D. O Plano e Exemplo de Paulo (4:6-21)
III. Problemas Morais na Igreja (5:1–6:20)
A. O Caso de Incesto (5:1-13)
B. O Problema de Litígio nos Tribunais Pagãos (6:1-8)
C. A Advertência Contra a Frouxidão Moral (6:9-20)
IV. Instruções a Respeito do Matrimónio (7:1-40)
A. Matrimónio e Celibato (7:1-9)
B. Matrimónio e Divórcio (7:10-24)
C. Matrimónio e Serviço Cristão (7:25-38)
D. Matrimónio e Novo Casamento (7:39-40)
V. Instruções a Respeito da Comida Oferecida aos Ídolos (8:1–11:1)
A. Pergunta: Pode um Cristão Comer Alimentos Consagrados a um Deus Pagão? (8:1-13)
B. Exemplo de Paulo (9:1-27)
C. Exortações (10:1–11:1)
VI. Instruções a Respeito da Adoração Pública (11:2–14:40)
A. A Cobertura das Mulheres (11:2-16)
B. A Ceia do Senhor (11:17-34)
C. O Uso de Dons Espirituais (12:1–14:40)
1. A diversidade de dons (12:1-11)
2. O propósito dos dons: unidade na diversidade (12:12-31)
3. A supremacia do amor sobre os dons (13:1-13)
4. A superioridade da profecia sobre a glossolalia (14:1-25)
5. As regras para o uso dos dons (14:26-40)
VII. A Doutrina da Ressurreição (15:1-58)
A. A Importância da Ressurreição (15:1-11)
B. As Consequências de Negar a Ressurreição (15:12-19)
C. A Esperança Cristã (15:20-34)
D. A Ressurreição do Corpo (15:35-50)
E. A Vitória Cristã Através de Cristo (15:51-58)
VIII. A Colecta para Jerusalém (16:1-4)
IX. Conclusão (16:5-24)
Uma vez mais, conforme indicado na saudação inicial, Paulo é o autor desta carta. Tanto a evidência externa como a interna apoiam fortemente a noção de autoria paulina. De facto, “está estampada com o seu estilo e contém mais material autobiográfico que qualquer outro dos seus escritos”.10 O único problema reside na afirmação de alguns, a respeito de aparente falta de unidade. Devido a uma súbita mudança de tom, alguns críticos argumentam que os capítulos 10–13 não pertenciam à forma original desta carta.
Uma teoria popular defende que os capítulos 10–13 são parte daquela “carta triste” perdida. Embora alguns traços destes capítulos correspondam ao que deverá ter sido o conteúdo da carta perdida, o assunto principal dessa carta (o infractor de 2 Co. 2:5) não é mencionado em nenhum local ao longo destes capítulos. Para além disso, não há fundamento para dividir 2 Coríntios dessa maneira.11
De forma a distingui-la da Primeira Epístola aos Coríntios, esta carta recebeu o título Pros Corinthians B. O B representa a letra grega beta, a segunda letra do alfabeto grego.
Um estudo cuidadoso de Actos e das Epístolas proporciona o seguinte resumo do envolvimento de Paulo na igreja coríntia: (1) houve uma primeira visita a Corinto, seguida da (2) primeira carta a Corinto (hoje perdida). Seguiu-se então a (3) segunda carta aos Coríntios (1 Co.). (4) Sucedeu-se uma segunda visita a Corinto (a “visita triste”, 2 Co. 2:1). (5) Depois, houve uma terceira carta aos Coríntios (também perdida). (6) Seguiu-se à mesma 2 Coríntios, a quarta carta aos coríntios. (7) Finalmente, deu-se uma terceira visita a Corinto (Actos 20:2-3). Deverá salientar-se que as duas cartas perdidas só o foram porque Deus não tencionava que fizessem parte do cânone bíblico.
Devido ao motim causado pelos ourives (Actos 19:23-41), Paulo partiu de Éfeso para a Macedónia (Actos 20:1) na Primavera de 56 d.C.. Entretanto, fez uma paragem preliminar em Tróade, esperando encontrar-se com Tito (2 Co. 2:13) e receber notícias sobre a situação de Corinto. Não encontrando Tito ali, prosseguiu até à Macedónia, indubitavelmente preocupado com a segurança de Tito (7:5-6). Aí encontrou Tito, que lhe trouxe boas notícias acerca do bem-estar geral da igreja coríntia, mas más notícias acerca de um grupo que se opunha a Paulo e ao seu apostolado. A partir da Macedónia, Paulo escreveu uma quarta carta, 2 Coríntios. Paulo fez então a sua terceira visita a Corinto, durante o Inverno de 56-57 d.C. (Actos 20:2-3).
De todas as cartas de Paulo, 2 Coríntios é a mais íntima e pessoal. Nela expôs o seu coração e declarou o seu firme amor pelos coríntios, apesar de alguns terem sido extremamente críticos e muito inconstantes na sua afeição por ele. O tema principal é evocado por James K. Lowery, em Bible Knowledge Commentary.
Acima de tudo, o que preocupava Paulo era a presença de falsos doutores, afirmando ser apóstolos, que haviam entrado na igreja. Promoviam as suas próprias ideias e, ao mesmo tempo, procuravam desacreditar quer a pessoa, quer a mensagem do apóstolo. A Segunda Carta aos Coríntios foi escrita para defender a autenticidade tanto do seu apostolado, como da sua mensagem. Tal não foi levado a cabo num espírito de autopromoção, mas apenas porque Paulo sabia que a aceitação do seu ministério e mensagem estava intimamente ligada ao próprio bem-estar espiritual da igreja de Corinto.12
No processo de apologia de Paulo, emergem três propósitos-chave: (1) Paulo expressou a sua alegria perante a resposta favorável da igreja ao seu ministério (capítulos 1-7); (2) procurou recordar os crentes acerca do seu compromisso relativo à colecta para os cristãos na Judeia (capítulos 8-9) e (3) procurou defender a sua autoridade apostólica (capítulos 10-13).
Embora o foco geral desta epístola seja a “apologia” do ministério e autoridade de Paulo, uma palavra-chave que vem ao de cima é “consolação” (que ocorre 11 vezes em 9 versículos). À medida que enfrentamos os diversos dilemas da vida, temos de aprender a encontrar o nosso consolo em Deus, que É o Deus de toda a consolação.
Os capítulos 8–9 formam realmente uma unidade e incluem a mais completa revelação encontrada nas Escrituras quanto ao plano de Deus para as dádivas. Aí estão contidos os princípios para dar (8:1-6), os propósitos das dádivas (8:7-15), a política a ser seguida no acto de dar (8:16-9:5) e as respectivas promessas relacionadas (9:6-15).13
Numa epístola posterior, Paulo irá realçar como estamos “completos em Cristo” (Cl. 2:10). Tudo o que precisamos na vida encontra-se n'Ele. Nesta epístola, vemo-Lo como nossa consolação (1:5), triunfo (2:14), Senhor (4:5), liberdade para uma vida nova (3:17), luz (4:6), juiz (5:10), reconciliação (5:19), dom (9:15), dono (10:7), e poder (12:9).
I. Primeiramente Apologético: Explicação da Conduta e Ministério Apostólico de Paulo (capítulos 1–7)
A. Saudação (1:1-2)
B. Acção de Graças pela Consolação Divina na Aflição (1:3-11)
C. A Integridade dos Motivos e Conduta de Paulo (1:12–2:4)
D. Perdoando o Ofensor em Corinto (2:5-11)
E. A Orientação de Deus no Ministério (2:12-17)
F. Para os Fiéis Coríntios — uma Carta de Cristo (3:1-11)
G. Contemplando a Glória de Deus Com o Rosto Descoberto (3:12–4:6)
H. Tesouro em Vasos de Barro (4:7-16a)
I. A Perspectiva da Morte e o Seu Significado para o Cristão (4:16b–5:10)
J. O Ministério da Reconciliação (5:11–6:10)
K. Um Apelo de um Pai Espiritual aos Seus Filhos (6:11–7:4)
L. O Encontro com Tito (7:5-16)
II. Exortatório: A Colecta para os Cristãos em Jerusalém (capítulos 8–9)
A. Encorajamento à Generosidade (8:1-15)
B. Tito e Seus Companheiros Enviados a Corinto (8:16–9:5)
C. Resultados da Dádiva Generosa (9:6-15)
III. Polémico: Paulo Justifica a Sua Autoridade Apostólica (capítulos 10–13)
A. Apologia de Paulo Relativamente à Sua Autoridade Apostólica e Área da Sua Missão (capítulo 10)
B. Paulo Obrigado a Vanglória Insensata (capítulos 11–12)
C. Advertências Finais (13:1-10)
D. Conclusão (13:11-13)
Paulo identifica-se como autor desta epístola através das palavras “Paulo, apóstolo”. Com excepção de alguns estudiosos do século 19, ninguém pôs seriamente em causa a sua autoria. Para além disso, a sua autoria é virtualmente irrefutável. Unger escreve: “Nenhum vestígio de dúvida quanto à autoria, integridade ou genuinidade apostólica da epístola provém dos tempos antigos”.15
O título é Pros Galatas, “Aos Gálatas”. Endereçada “às igrejas da Galácia”, é a única epístola que Paulo remeteu a um grupo de igrejas.
A data em que Paulo redigiu esta carta depende dos destinatários da mesma. Existem duas perspectivas principais, A Teoria da Galácia do Norte e A Teoria da Galácia do Sul. Ryrie resume este facto, escrevendo:
Aquando da escrita desta carta, o termo “Galácia” era usado quer num sentido geográfico, quer num sentido político. O primeiro refere-se à parte norte-centro da Ásia Menor, a norte das cidades de Antioquia da Pisídia, Icónio, Listra e Derbe; o último refere-se à província romana (organizada em 25 a.C.), que incluía distritos a sul e as cidades atrás mencionadas. Se a carta foi escrita para os cristãos na Galácia do Norte, as igrejas foram fundadas durante a segunda viagem missionária, e a epístola foi redigida na terceira, quer a partir de Éfeso (por volta de 53 d.C.), quer mais tarde (por volta de 55), a partir da Macedónia. Esta interpretação é favorecida pelo facto de Lucas parecer usar “Galácia” apenas para descrever a Galácia do Norte (Actos 16:6; 18:23).
Se a carta foi escrita para os cristãos na Galácia do Sul, as igrejas foram fundadas durante a primeira viagem missionária, e a carta foi redigida após o término da viagem (provavelmente a partir de Antioquia, cerca de 49 d.C., fazendo dela a mais antiga epístola de Paulo), sendo o concílio de Jerusalém (Actos 15) convocado pouco tempo depois. A favor desta datação é o facto de que Paulo não menciona a decisão do concílio de Jerusalém, centrada directamente no seu argumento gálata a respeito dos Judaizantes, indicando que o concílio ainda não tivera lugar.16
A Epístola aos Gálatas foi o grito de guerra da Reforma, porque se destaca como Manifesto da Justificação pela Fé de Paulo. Tem sido por isso apelidada de “a carta da Liberdade Cristã”. De modo peculiar, Lutero considerava-a a sua epístola.17 Gálatas ergue-se com um poderoso ataque contra os Judaizantes e os seus ensinamentos de legalismo. Ensinavam, entre outras coisas, que um conjunto de práticas cerimoniais do Antigo Testamento estava ainda vinculado à igreja. Portanto, o apóstolo escreve a fim de refutar o seu falso evangelho de obras, demonstrando a superioridade da justificação pela fé e da santificação pelo Espírito Santo versus pelas obras da Lei.
Adicionalmente, estes Judaizantes não só proclamavam um evangelho falso, mas procuravam também desacreditar o apostolado de Paulo. Nos primeiros dois capítulos, Paulo justifica o seu apostolado e mensagem. Nestes capítulos, Paulo demonstra, de modo convincente, que o seu apostolado e mensagem provêm, por revelação, do Cristo ressuscitado. Depois, nos capítulos 3 e 4, disputou pela verdadeira doutrina da graça, a doutrina da justificação unicamente pela fé. Alguns, porém, argumentariam de imediato que uma tal doutrina conduz à libertinagem; por isso, o apóstolo demonstra que a liberdade cristã não significa isso. Assim, os capítulos 5 e 6 mostram que os cristãos devem aprender a viver pelo poder do Espírito, e que a caminhada controlada pelo Espírito não manifestará as obras da carne, mas sim o fruto do Espírito.
As frases “justificação pela fé” e “liberdade da Lei” contêm as palavras-chave da epístola.
O facto de que os crentes não se encontram sujeitos à Lei não significa, de modo algum, que se tenha liberdade para se fazer o que se quer, mas apenas que se tem o poder de fazer o que se deve pela graça de Deus, através do Espírito. Neste sentido, o capítulo 5 constitui um capítulo-chave. A nossa liberdade nunca deve ser usada “para dar ocasião à carne”, mas sim como base para nos amarmos uns aos outros, caminhando na força do Espírito (5:13, 16, 22-25).
Através da Sua morte, mediante a qual os crentes morreram para a Lei, e da troca pela vida de Cristo (2:20), os crentes foram libertados do jugo (5:1 ss) e trazidos para uma posição de liberdade. O poder da cruz proporciona remissão da maldição da lei, do poder do pecado e do próprio ego (1:4; 2:20; 3:13; 4:5; 5:16, 24; 6:14).
I. Pessoal: O Evangelho da Graça, a Justificação pela Fé Defendida (1:1-2:21)
A. Introdução (1:1-9)
B. O Evangelho da Graça Proveio de Revelação (1:10-24)
C. O Evangelho da Graça Foi Aprovado pela Igreja em Jerusalém (2:1-10)
D. O Evangelho da Graça Foi Justificado na Admoestação de Pedro, Chefe dos Apóstolos (2:11-21)
II. Doutrinal: O Evangelho da Graça, a Justificação pela Fé Explicada (3:1–4:31)
A. A Experiência dos Gálatas: O Espírito é Concedido pela Fé, Não pelas Obras (3:1-5)
B. O Exemplo de Abraão: Foi Justificado pela Fé, Não pelas Obras (3:6-9)
C. A Justificação Ocorre através da Fé, Não da Lei (3:10–4:11)
D. Os Gálatas Receberam as Suas Bênçãos através da Fé, Não da Lei (4:12-20)
E. Lei e Graça São Mutuamente Exclusivas (4:21-31)
III. Prática: O Evangelho da Graça, a Justificação pela Fé Aplicada (5:1–6:18)
A. A Posição da Liberdade: Permanecei Firmes (5:1-12)
B. A Prática da Liberdade: Servi-vos e Amai-vos Uns aos Outros (5:13-15)
C. O Poder da Liberdade: Andai em Espírito (5:16-26)
D. A Demonstração da Liberdade: Fazei o Bem a Todos os Homens (6:1-10)
E. Conclusão (6:11-18)
As Epístolas da Prisão
Efésios, Filipenses, Colossenses e Filémon são por vezes designadas por epístolas da prisão, uma vez que foram escritas quando Paulo se encontrava preso. Cada uma destas cartas contém referências a esta situação (Ef. 3:1; 4:1; 6:20; Fl. 1:7, 13; Cl. 4:10, 18; Filémon 1, 9, 10).
Debate-se se terá sido preso em Roma uma ou duas vezes, embora duas ocasiões pareçam ajustar-se melhor aos factos. Durante a primeira, Paulo foi mantido dentro ou perto do quartel da Guarda Pretoriana, ou em alojamentos arrendados às suas próprias custas, durante dois anos (Actos 28:30), durante os quais foram redigidas estas epístolas. Antecipou a sua libertação (Filémon 22) e, após a mesma, realizou várias viagens, escreveu 1 Timóteo e Tito, foi novamente preso, escreveu 2 Timóteo e foi martirizado (veja a Introdução a Tito, nota do livro Tito 1:1). Estas, portanto, são as cartas da primeira prisão romana, enquanto 2 Timóteo é a carta da segunda. 18
O facto de que estas grandes epístolas foram escritas enquanto Paulo estava preso, quer em quartéis romanos, quer acorrentado diariamente a um soldado romano, na sua própria casa arrendada (Actos 28:30), o que lhe deu acesso a toda a elite da Guarda Pretoriana, forma uma maravilhosa ilustração do modo como Deus pega nos nossos aparentes infortúnios e os usa para Sua glória e para aumentar as nossas oportunidades de ministério (veja Fl. 1:12-13). Mostra que podemos ser acorrentados e entravados, mas que a Palavra de Deus não permanece encarcerada (veja também 2 Tm. 2:9).
Conforme claramente expresso no versículo inicial de cada uma das epístolas da prisão, Paulo é declarado como autor. O facto de que o apóstolo é o autor de Efésios é fortemente apoiado tanto por evidência interna, como externa. O autor chama a si mesmo “Paulo” duas vezes (1:1; 3:1). Para além disso, esta epístola é escrita segundo o modo ou padrão habitual de Paulo, com saudações e acção de graças, e uma secção doutrinal seguida da aplicação prática dessa doutrina, com comentários pessoais finais. Relativamente a evidência externa, vários Pais da Igreja (Clemente de Roma, Inácio, Policarpo, Clemente de Alexandria, entre outros) citam Efésios ou usam uma linguagem muito semelhante à utilizada na epístola.19
Recentemente, porém, alguns críticos voltaram-se para aspectos internos a fim de pôr em causa esta antiga e unânime tradição. Tem-se argumentado que o vocabulário e estilo são diferentes daqueles usados nas outras epístolas paulinas, mas tal negligencia a flexibilidade de Paulo sob diferentes circunstâncias (confira Romanos e 2 Coríntios). Em alguns aspectos, a teologia de Efésios reflecte um desenvolvimento mais tardio, mas isto deverá ser atribuído ao próprio crescimento e meditação de Paulo sobre a Igreja enquanto corpo de Cristo. Dado que a epístola claramente nomeia o autor no versículo inicial, não é necessário teorizar que Efésios foi escrita por um dos alunos ou admiradores de Paulo, tais como Timóteo, Lucas, Tíquico ou Onésimo.20
Existe alguma controvérsia quanto ao título e destino desta epístola. O título tradicional é Pros Ephesious, “Aos Efésios”. Porém, muitos manuscritos antigos omitem en Epheso; por esta e outras razões, muitos estudiosos acreditam que se tratava de uma carta encíclica (destinada a circular entre várias igrejas).
Vários factos indicam que Efésios foi uma carta circular, um tratado doutrinal na forma de carta, para as igrejas na Ásia Menor. Diversos bons manuscritos gregos omitem as palavras “em Éfeso” em 1:1. Há uma ausência de controvérsia nesta epístola, e esta não lida com problemas específicos das igrejas. Uma vez que Paulo trabalhara em Éfeso durante cerca de três anos e, dado que normalmente mencionava muitos amigos nas igrejas para as quais escrevia, a ausência de nomes pessoais nesta carta apoia fortemente a ideia do seu carácter encíclico. Parece ter sido enviada em primeiro lugar para Éfeso por Tíquico (Ef. 6:21-22; Cl. 4:7-8), sendo provavelmente a mesma carta denominada “carta de Laodiceia” em Cl. 4:16.21
Conforme previamente mencionado, o apóstolo encontrava-se preso quando escreveu esta epístola (Ef. 3:1; 4:1; 6:20). Embora os estudiosos divirjam quanto à questão de Paulo ter redigido Efésios enquanto prisioneiro em Cesareia (Actos 24:27), em 57-59 d.C., ou em Roma (28:30), em 60-62 d.C., a evidência apoia a prisão em Roma. Como também foi referido, acredita-se que Efésios, Filipenses, Colossenses e Filémon foram escritas durante o mesmo período de tempo (confira Fl. 1:7; Cl. 4:10; Filémon 9). Uma vez que Efésios não fornece qualquer indicação da libertação de Paulo da prisão, como em Filipenses (1:19-26) e Filémon (v. 22), muitos acreditam que Efésios terá sido escrita na parte inicial da sua prisão, por volta de 60 d.C., enquanto Paulo foi mantido em prisão domiciliária no seu aposento arrendado (Actos 28:30). Depois de ser libertado, escreveu 1 Timóteo e Tito, foi novamente preso, escreveu 2 Timóteo e foi martirizado em Roma.
Nenhum propósito específico é enunciado, e não se faz referência a nenhum problema ou heresia em particular. Em vez disso, em Efésios, Paulo expõe o mistério glorioso “a Igreja, que é o corpo de Cristo”, Cristo como cabeça da Igreja (1:22, 23), e os crentes como membros uns dos outros, com toda a bênção espiritual em Cristo (1:3; 2:11‑22). Claramente, o propósito de Paulo é alargar os horizontes dos crentes a propósito da riqueza incomensurável das suas bênçãos em Cristo, cabeça da Igreja, que é o Seu corpo. A partir disto, emergem dois objectivos principais na epístola. O primeiro consiste em apresentar uma parte da abundância de bênçãos que os fiéis têm em Cristo e o modo como, através delas, os desígnios eternos de Deus se resumem na pessoa de Cristo, as coisas que estão na terra e no céu (1:3-12). O segundo tema emana do primeiro, nomeadamente a responsabilidade do crente conhecer, compreender e caminhar de um modo adequado face à sua posição celeste e chamamento em Cristo (1:18-23; 3:14-21; 4:1).
Embora não tenha sido redigida com um intuito curativo nem para corrigir quaisquer erros específicos, Paulo projectou esta epístola como prevenção contra aqueles problemas que tão frequentemente ocorrem devido à falta de maturidade ou incapacidade de compreender e aplicar aquilo de que os fiéis dispõem em Cristo. Intimamente ligado a isto, encontra-se uma pequena secção sobre o combate dos crentes contra as investidas de Satanás (6:10-18). Assim, Paulo escreveu acerca da riqueza, percurso e combate dos fiéis.
Em vista do tema ou propósito, as palavras-chave são “riqueza”, “caminhar” e “combate”.
Como acontece em muitas das epístolas de Paulo, é difícil seleccionar um capítulo-chave, mas talvez o capítulo 6 se destaque, devido à revelação muito importante a respeito da natureza do nosso combate com Satanás (6:10-18). Embora sejamos abençoados com toda a bênção espiritual em Cristo (1:3), somos mesmo assim confrontados com um formidável inimigo, diante do qual precisamos da armadura de Deus. Assim, devemos levar a sério a exortação “fortalecei-vos no Senhor e na força do Seu poder” (6:10).
Em Efésios, frases como “em Cristo” ou “com Cristo” ocorrem cerca de 35 vezes. São expressões paulinas comuns, mas aparecem nesta epístola mais do que em qualquer outra. Através delas, vemos muito do que os crentes têm mediante a sua posição face ao Salvador. Estão em Cristo (1:1), abençoados com toda a bênção em Cristo (1:3), escolhidos n'Ele (1:4), adoptados por Jesus Cristo (1:5), no Amado (1:6), redimidos n'Ele (1:7), recebendo n'Ele uma herança (1:11), tendo uma esperança em Cristo em louvor da Sua glória (1:12), marcados com o Espírito através d'Ele, enquanto penhor sincero da sua herança (1:13-14), vivificados, ressuscitados e sentados com Ele nos céus (2:5-6), criados em Cristo para as boas obras (2:10), participantes da promessa em Cristo (3:6) e capazes de se aproximarem de Deus através da fé em Cristo (3:12).
I. Saudação (1:1-2)
II. O Componente Doutrinal da Epístola: a Riqueza e Chamamento da Igreja (1:3-3:21)
A. Louvor da Redenção (1:4-14)
1. Escolhidos pelo Pai (1:4-6)
2. Redimidos pelo Filho (1:7-12)
3. Selados Com o Espírito (1:13-14)
B. Oração por Sabedoria e Revelação (1:15-23)
1. O Motivo da Oração (1:15-18a)
2. O Conteúdo da Oração (1:18b-23)
C. Nova Posição (2:1-22)
1. A Nova Posição nos Céus (2:1-10)
2. A Nova Posição na Terra (2:11-22)
D. Explicação Parentética (3:1-13)
1. O Mistério, Produto da Revelação (3:1-6)
2. O Ministro, Designado para a Proclamação (3:7-13)
E. Oração pela Compreensão (3:14-21)
III. O Componente Prático da Epístola; o Caminhar e Conduta da Igreja (4:1-6:24)
A. O Caminhar do Crente na Unidade (4:1-16)
1. O Apelo à Preservação da Unidade (4:1-3)
2. A Base para a Unidade (4:4-6)
3. O Significado da Unidade (4:7-16)
B. O Caminhar do Crente na Justiça (4:17-5:18)
1. O Prévio Modo de Caminhar da Vida Antiga (4:17-19)
2. O Presente Modo de Caminhar da Vida Nova (4:20-32)
3. O Modelo para o Nosso Caminhar (5:1-7)
4. A Prova e Razão para o Nosso Caminhar (5:8-13)
5. O Poder e Provisão para o Nosso Caminhar (5:14-18)
C. O Caminhar do Crente no Mundo (5:19-6:9)
1. Em Relação a Si Mesmo e à Igreja (5:19-21)
2. No Lar (5:22-6:4)
3. No Trabalho (6:5-9)
D. O Caminhar do Crente em Combate (6:10-20)
1. A Exortação às Armas (6:10-13)
2. A Explicação da Nossa Armadura (6:14-17)
3. O Uso da Nossa Armadura (6:18-20)
E. Conclusão (6:21-24)
Tanto a evidência interna como a externa apontam novamente para Paulo como autor. “A Igreja Primitiva foi unânime no seu testemunho de que Filipenses foi redigida pelo apóstolo Paulo (veja 1:1). Internamente, a carta revela o selo da autenticidade. As abundantes referências pessoais do autor concordam com aquilo que sabemos de Paulo a partir de outros livros do Novo Testamento.”22
A epístola à igreja em Filipos, a primeira igreja que Paulo estabeleceu na Macedónia, é intitulada no texto grego de Pros Philippesious, “Aos Filipenses”.
Tal como Efésios, esta epístola foi escrita quando Paulo se encontrava preso. A sua referência à Guarda Pretoriana (Fl. 1:13), assim como a possibilidade de morte (vv. 20-26), sugerem que a redigiu em Roma. Embora a morte fosse possível, Paulo também parecia seguro da sua libertação. Tal sugere que Filipenses foi escrita após Efésios, em 60 ou 61 d.C..
Considerando que Efésios expõe o mistério glorioso “a Igreja, que é o corpo de Cristo”, Cristo como cabeça da Igreja (1:22-23) e os crentes como membros uns dos outros, igualmente abençoados com toda a bênção espiritual em Cristo (1:3; 2:11‑22), Filipenses mantém a prática de Efésios. Filipenses adverte contra a incapacidade de praticar a união providenciada por Cristo, bem como contra a incapacidade de os crentes se regozijarem nas suas bênçãos e posição em Cristo (Fl. 1:27; 2:2; 4:1 ss). O tema de Filipenses pode bem ser “alegria e unidade em Cristo”.
Paulo tinha vários objectivos óbvios ao escrever esta carta aos Filipenses: (1) procurar expressar o seu amor e gratidão pela dádiva que lhe haviam enviado (1:5; 4:10-19); (2) informá-los sobre as suas próprias circunstâncias (1:12-26; 4:10-19); (3) encorajar os Filipenses a manterem-se firmes perante a perseguição e a se regozijarem independentemente das circunstâncias (1:27-30; 4:4); (4) exortá-los a viver em humildade e união (2:1-11; 4:2-5); (5) recomendar Timóteo e Epafrodito à igreja Filipense (2:19-30) e (6) advertir os filipenses contra os judaizantes legalistas e os antinomianos libertários que se haviam infiltrado no meio deles (capítulo 3).
A palavra-chave, que ocorre sob uma ou outra forma cerca de 16 vezes, é “alegria” ou “gozo”. “Unidade” ou “união” é outra ideia-chave do livro. Tal é expresso de várias formas, tais como “partilhem o mesmo estado de espírito, mantenham-se no mesmo amor, unidos em espírito, focados no mesmo objectivo” (2:2); “permaneçam firmes num só espírito, combatendo juntos no mesmo pensamento” (1:27) e “vivei em harmonia” (4:2).
O capítulo 2 é certamente um capítulo-chave, na medida em que apresenta Cristo como exemplo quanto a colocar os outros à frente de nós mesmos, com a mente de Cristo. No processo, em 2:5-11, Paulo lança-se numa revelação solene a respeito da humildade e da exaltação de Cristo.
Nenhuma passagem é mais clara ou declarativa quanto à natureza, facto e propósito da encarnação de Cristo como a que se encontra neste livro, a grande passagem kenosis (2:5 ss). Para além disso, em vista de tudo o que Cristo foi e é, realizou e irá realizar, Paulo declara que Cristo é a vida do crente, “para mim o viver é Cristo” (1:21), é o modelo perfeito de humildade e amor sacrificial (2:4-5), é aquele que transformará, na ressurreição, os nossos humildes corpos à semelhança do Seu corpo glorioso (3:21) e é o nosso meio de capacitação em toda e qualquer circunstância da vida (4:12).
I. Saudação e Acção de Graças pelos Filipenses (1:1-11)
II. As Circunstâncias Pessoais de Paulo em Roma: A Proclamação de Cristo (1:12-30)
III. O Modelo da Vida Cristã: Ter a Mente de Cristo (2:1-30)
A. A Exortação à Humildade (2:1-4)
B. O Epítome da Humildade (2:5-11)
C. O Exercício da Humildade (2:12-18)
D. Os Exemplos de Humildade Vistos em Timóteo e Epafrodito (2:19-30)
IV. O Prémio da Vida Cristã: Ter o Conhecimento de Cristo (3:1-21)
A. O Aviso Contra os Judaizantes Legalistas (3:1-4a)
B. O Exemplo de Paulo (3:4b-14)
C. A Exortação aos Demais (3:15-21)
V. A Paz da Vida Cristã: Conhecer a Presença de Cristo (4:1-23)
A. Paz Com os Outros (4:1-3)
B. Paz Consigo Mesmo (4:4-9)
C. Paz Com as Circunstâncias (4:10-23)
Devido às saudações em 1:2, Colossenses ficou conhecida como Pros Kolossaeis, “Aos Colossenses”. Tal como nas outras epístolas de Paulo até agora analisadas, tanto a evidência externa como a interna apoiam fortemente a autoria paulina. Contudo, a autoria desta epístola tem sido posta em causa por algumas pessoas, com base em aspectos de vocabulário e da natureza da heresia nela refutada. O Expositor’s Bible Commentary apresenta um excelente resumo dos temas-chave concernentes à autoria e datação de Colossenses.
Não é usualmente discutido que Colossenses seja uma genuína carta de Paulo. Na Igreja primitiva, todos os que falam do assunto da autoria atribuem-na a Paulo. No século 19, porém, algumas pessoas acreditavam que a heresia refutada no capítulo 2 era Gnosticismo do segundo século. Mas uma análise cuidadosa do capítulo 2 mostra que a heresia aí referida é notavelmente menos desenvolvida do que o Gnosticismo dos principais mestres gnósticos do segundo e terceiro séculos. Adicionalmente, as sementes daquilo que mais tarde se tornaria o Gnosticismo maduro do segundo século estavam presentes no primeiro século, invadindo já as igrejas. Por consequência, não é necessário circunscrever Colossenses ao segundo século, uma data demasiado tardia para que Paulo redigisse a carta.
Em vez disso, deverá ser datada à primeira prisão de Paulo em Roma, onde passou pelo menos dois anos em prisão domiciliária (veja Act. 28:16-31).24
Paulo escreveu as quatro epístolas da prisão durante o seu primeiro encarceramento em Roma. Tal significa que as redigiu em 60-61 d.C. (veja a discussão da datação de Efésios e Filipenses).
O tema é o poder frutífero e eficaz da mensagem evangélica, que proclama a supremacia, liderança e suficiência total de Cristo para a Igreja, que é o Seu corpo. Nesta pequena epístola, vemos o “retrato completo de Cristo” feito por Paulo.25 Colossenses demonstra que, graças a tudo o que Jesus Cristo é na Sua pessoa e realizou na Sua obra, Ele, enquanto objecto de fé do crente, é tudo o que precisamos, pois n'Ele ficamos completos (2:10). Neste âmbito, Colossenses apresenta toda a supremacia, suficiência, singularidade e plenitude da pessoa e obra de Jesus Cristo enquanto o Salvador Deus-homem, o Criador e Sustentador do universo e a solução completa para as necessidades do homem, quer em termos de tempo, quer de eternidade. É um livro cósmico, que apresenta o Cristo cósmico: o Criador/Sustentador e Redentor/Reconciliador do homem e de todo o universo.
“Supremacia” e “suficiência” são palavras-chave neste livro.
O capítulo 2 é fundamental na medida em que demonstra porquê e como é que o crente está completo em Cristo, não necessitando que nada seja acrescentado à Sua obra e pessoa salvadora. Depois, o capítulo 3 constrói a partir disto, como a raiz origina o fruto, ou a causa conduz ao efeito. Uma vez que os crentes estão completos em Cristo (2:10) e são, desse modo, ressuscitados com Ele, dispõem agora de tudo o que necessitam para uma transformação à semelhança de Cristo em todas as facetas da vida (3:1 ss).
Wilkinson e Boa assinalam:
Este livro singularmente cristológico centra-se no Cristo cósmico – “a cabeça de todo o principado e potestade” (2:10), o Senhor da criação (1:16-17), o Autor da reconciliação (1:20-22; 2:13-15). Ele é a base da esperança do crente (1:5, 23, 27), a fonte do poder do crente para uma vida nova (1:11, 29), o Redentor e Reconciliador do crente (1:14, 20-22; 2:11-15), a personificação da Divindade plena (1:15, 19; 2:9), o Criador e Sustentador de todas as coisas (1:16-17), a Cabeça da Igreja (1:18), o Deus-homem ressuscitado (1:18; 3:1) e o Salvador todo-suficiente (1:28; 2:3, 20; 3:1-4).26
I. Doutrinal: A Pessoa e Obra de Cristo (1:1-2:3)
A. Introdução (1:1-14)
1. Saudação de Paulo aos Colossenses (1:1-2)
2. Gratidão de Paulo pela Fé dos Colossenses (1:3-8)
3. Oração de Paulo pelo Crescimento dos Colossenses (1:9-14)
B. A Pessoa de Cristo (1:15-18)
1. Em Relação ao Pai (1:15)
2. Em Relação à Criação (1:16-17)
3. Em Relação à Nova Criação (1:18)
C. A Obra de Cristo (1:19-2:3)
1. A Descrição da Sua Obra (1:19-20)
2. A Aplicação da Sua Obra (1:21-23)
3. A Propagação da Sua Obra (1:24-2:3)
II. Polémico: Os Problemas Heréticos à Luz da União com Cristo (2:4-3:4a)
A. A Exortação Contra os Falsos Ensinamentos (2:4-8)
1. Exortação a Respeito dos Métodos dos Falsos Doutores (2:4-5)
2. Exortação ao Progresso na Vida da Fé (2:6-7)
3. Exortação a Respeito da Filosofia dos Falsos Doutores (2:8)
B. A Instrução do Verdadeiro Ensinamento (2:9-15)
1. A Posição do Crente em Cristo (2:9-10)
2. A Circuncisão do Crente (2:11-12)
3. Os Benefícios do Crente (2:13-15)
C. As Obrigações do Verdadeiro Ensinamento (2:16-3:4)
1. Negativa: Emancipação de Práticas Legalistas e Gnósticas (2:16-19)
2. Negativa: Emancipação de Normas Ascéticas (2:20-23)
Positiva: Aspirações à Vida Celeste (3:1-4)
III. Prática: A Prática do Crente em Cristo (3:5-4:6)
1. Na Vida Interior (3:5-17)
2. No Lar e na Vida Quotidiana (3:18-4:1)
3. Na Vida Exterior (4:2-6)
IV. Pessoal: Os Planos e Assuntos Privados do Apóstolo (4:7-18)
1. Os Seus Representantes Especiais (4:7-9)
2. As Suas Saudações Pessoais (4:10-18)
Conforme declarado em 1:1 e 2:18, toda a evidência (externa e interna) apoia a afirmação do livro, a respeito de Paulo ser o autor de 1 Tessalonicenses. Os pais da Igreja primitiva apoiam há muito a autoria paulina, começando em 140 d.C. (Marcião). Os aspectos que caracterizam Paulo são evidentes ao longo do texto (compare 3:1-2, 8-11 com Actos 15:36; 2 Co. 11:28). Adicionalmente, uma série de alusões históricas no livro adequam-se à vida de Paulo, conforme relatada em Actos e nas suas próprias cartas (compare 2:14-16; 3:1, 2, 5-6 com Actos 17:1-15). Em vista desta evidência, poucas pessoas (críticos radicais do século dezanove) questionaram a autoria de Paulo.
Enquanto a primeira de duas epístolas canónicas dirigidas à igreja de Tessalónica, este livro foi denominado no texto grego de Pros Thessalonikeis A, “Primeira aos Tessalonicenses.”
1 e 2 Tessalonicenses foram escritas em Corinto, durante os dezoito meses que o apóstolo permaneceu nessa cidade (confira Actos 18:1-11). A primeira epístola foi redigida durante a primeira parte desse período, logo após Timóteo ter regressado de Tessalónica com notícias do progresso da igreja. A segunda carta foi enviada apenas algumas semanas (no máximo, alguns meses) mais tarde. Qualquer data atribuída será aproximada, embora provavelmente entre 51-52 d.C..
O propósito e principal preocupação do apóstolo ao escrever aos Tessalonicenses podem ser sumariados conforme se segue: expressar a sua gratidão por aquilo que Deus estava a realizar nas vidas dos tessalonicenses (1:2-3), defender-se contra uma campanha destinada a difamar o seu ministério (2:1-12), encorajá-los a permanecer firmes contra a perseguição e pressão para voltarem aos seus estilos prévios de vida pagã (3:2-3; 4:1-12), dar resposta a uma questão doutrinal a respeito do destino dos cristãos que haviam morrido (4:1-13), responder a perguntas concernentes ao “Dia do Senhor” (5:1-11) e lidar com certos problemas que se haviam desenvolvido na sua vida corporativa enquanto igreja (5:12-13; 19-20).
Duas palavras e conceitos-chave destacam-se nesta breve epístola: “santificação” e “vinda do Senhor”, mencionada em cada capítulo (1:10; 2:19; 3:13; 4:15; 5:23). A vinda do Senhor não só deve confortar os nossos corações, mas também mover-nos a viver de forma piedosa.
Os capítulos 4 e 5 destacam-se indubitavelmente como capítulos-chave, graças ao seu ensinamento relativo à vinda do Senhor para a Igreja, o arrebatamento (4:13-18) e o dia do Senhor (5:1-11), o tempo futuro no qual intervirá nos eventos humanos de modo a consumar a Sua redenção e julgamento.
Com a vinda do Senhor mencionada em cada capítulo, Cristo é apresentando como esperança de salvação do crente, agora e aquando da Sua chegada. Quando vier, salvar-nos-á da ira (indubitavelmente, uma referência à Tribulação) (1:10; 5:4-11), dará recompensas (2:19), tornar-nos-á perfeitos (3:13), ressuscitar-nos-á (4:13-18) e santificará (porá à parte) todos os que tiverem confiado n'Ele (5:23).
I. O Passado: A Obra da Fé (1:1-3:13)
A. O Elogio dos Tessalonicenses (1:1-10)
1. A Avaliação de Paulo (1:1-4)
2. A Evidência da Vida (1:5-7)
3. A Explicação da Evidência (1:8-10)
B. A Conduta do Apóstolo e dos Seus Colaboradores (2:1-12)
1. O Seu Testemunho (2:1-2)
2. A Sua Palavra (2:3-7a)
3. O Seu Caminhar (2:7b-12)
C. A Conduta dos Tessalonicenses (2:13-16)
1. A Sua Recepção da Palavra (2:13)
2. A Sua Resposta à Palavra (2:14)
3. A Rejeição da Palavra (2:15-16)
D. A Preocupação do Apóstolo (2:17-20)
1. O Seu Coração para os Tessalonicenses (2:17)
2. O Seu Impedimento por parte de Satanás (2:18)
3. A Sua Esperança nos Tessalonicenses (2:19-20)
E. A Confirmação dos Tessalonicenses (3:1-10)
1. O Envio de Timóteo (3:1-5)
2. O Relato de Timóteo (3:6-10)
F. A Oração Final (3:11-13)
1. Oração Para Poder Voltar aos Tessalonicenses (3:11)
2. Oração Para Que os Tessalonicenses Cresçam no Amor (3:12)
3. Oração Para Que os Seus Corações Sejam Estabelecidos na Santidade (3:13)
II. O Presente: A Obra do Amor (4:1-12)
A. O Seu Amor por Deus Expresso numa Vida Santificada (4:1-8)
B. O Seu Amor pelos Irmãos, uma Expressão do Ensinamento de Deus (4:9-10)
C. O Seu Amor pelos Perdidos, Expresso numa Vida Piedosa (4:11-12)
III. A Perspectiva Futura: A Persistência da Esperança (4:13-5:28)
A. Concernente ao Dia de Cristo: O Conforto da Sua Vinda (4:13-18)
1. A Ressurreição dos Santos Adormecidos (4:13-16)
2. O Arrebatamento dos Santos Vivos (4:17-18)
B. Concernente ao Dia do Senhor (5:1-11)
1. A Vinda do Dia do Senhor (5:1-5)
2. A Conduta dos Cristãos (5:6-10)
3. Conclusão (5:11)
C. Concernente ao Comportamento na Congregação (5:12-28)
1. Prescrição Final (5:12-22)
2. Petição Final (5:23-24)
3. Pós-Escrito Final (5:25-28)
Tal como 1 Tessalonicenses, esta carta também foi escrita por Paulo (confira 1 Ts. 1:1; 3:17). Contudo, a autoria paulina desta epístola tem sido posta em questão mais vezes do que a de 1 Tessalonicenses, embora possua mais apoio da parte dos escritores da Igreja primitiva. Entre os escritos dos pais da Igreja primitiva, não existe evidência de que a sua autoria tenha sido questionada. De facto, vários pais mencionaram Paulo nas suas obras como autor desta epístola. Foi apenas no século 19 que certas questões se levantaram a respeito da autoria desta epístola. As dúvidas provinham de críticos racionalistas, que também se recusavam a aceitar a afirmação bíblica de inspiração divina. De qualquer forma, as evidências externa e interna apoiam Paulo como autor.
As contestações baseiam-se mais em factores internos do que na pertinência das afirmações dos pais da Igreja. Pensa-se que existem diferenças no vocabulário (dez palavras não utilizadas em mais nenhum local), estilo (que se diz ser inesperadamente formal) e escatologia (a doutrina do “homem do pecado” não é ensinada em nenhum outro lado). Porém, tais argumentos não convenceram os estudiosos actuais. A maioria ainda defende a autoria paulina de 2 Tessalonicenses.28
Enquanto segunda carta para a igreja em Tessalónica, esta epístola é denominada no texto grego de Pros Thessalonikeis B, “Segunda aos Tessalonicenses”.
Uma vez que as circunstâncias históricas são muito similares às de 1 Tessalonicenses, a maioria das pessoas crê que terá sido redigida pouco depois da primeira carta – talvez cerca de seis meses mais tarde. Embora as condições na igreja fossem semelhantes, a perseguição parece ter aumentado (1:4-5), e isto, em conjunto com outros factores, levou Paulo a escrever esta carta em Corinto, por volta de 51 ou 52 d.C., depois de Silas e Timóteo, portadores da primeira epístola, terem regressado com as notícias dos novos acontecimentos.
Segunda a Tessalonicenses foi evidentemente motivada por três acontecimentos principais de que Paulo ouvira falar: (1) notícias concernentes ao aumento da perseguição que enfrentavam (1:4-5), (2) lidar com os relatos de uma carta pseudo-paulina e outras deturpações do seu ensinamento a respeito do dia do Senhor e do arrebatamento da Igreja (2:1 ss) e (3) lidar com a forma como alguns respondiam à crença da vinda iminente do Senhor. Tal crença ainda era usada como base para fugirem às suas responsabilidades vocacionais. Assim, o apóstolo escreveu para lidar com o estado de ociosidade ou desordem que havia aumentado (3:5-15).
A fim de atender às necessidades que motivaram esta epístola, Paulo escreveu-a para confortar e corrigir. Ao fazer isso, perseguiu três propósitos abrangentes. Escreveu: (1) a fim de dar um incentivo aos Tessalonicenses para que perseverassem, descrevendo a recompensa e retribuição que teriam lugar no futuro juízo de Deus (1:3-10), (2) a fim de clarificar os eventos importantes pertencentes ao dia do Senhor, de modo a provar a falsidade das afirmações de que tal dia já havia chegado (2:1-2) e (3) a fim de providenciar instruções detalhadas quanto aos passos disciplinares que a igreja deveria tomar na correcção daqueles que se recusavam a trabalhar (3:6-15).
As palavras ou conceitos-chave são “juízo”, “retribuição” e “destruição”, girando todos em torno do regresso do Senhor no Seu dia. De facto, nesta epístola, 18 dos 47 versículos (38 porcento) dizem respeito a este assunto. Em 1 Tessalonicenses, o foco encontrava-se na vinda de Cristo para a Sua Igreja (4:13-18), enquanto, em 2 Tessalonicenses, o foco está na vinda de Cristo com a Sua Igreja, para julgar um mundo incrédulo (1:5-10; 2:3, 12).
O capítulo 2 é fulcral no sentido em que corrige um grave erro que se introduzira na igreja tessalonicense, ensinando que o dia do Senhor já chegara. Nele, o apóstolo ensinou-lhes que o dia do Senhor ainda não ocorrera, nem poderia chegar até que certos eventos tivessem lugar, não pelo arrebatamento iminente da Igreja, mas pelo dia do Senhor, a septuagésima semana de Daniel.
Um dos temas principais deste livro, especialmente nos capítulos 1-2, é o regresso de Cristo para o julgamento, onde porá fim a toda a rebelião e trará a retribuição. Segunda a Tessalonicenses antecipa Cristo, o próximo Juiz.
Para além da saudação e bênção, o livro divide-se facilmente em cinco secções:
I. Saudação ou Introdução (1:1-2)
II. Louva e Conforta a Respeito da Perseguição (1:4-12)
III. Corrige e Desafia a Respeito do Dia do Senhor (2:1-17)
A. Em Relação ao Presente (2:1-2)
B. Em Relação à Apostasia (2:3a)
C. Em Relação ao Homem do Pecado (2:3b-4)
D. Em Relação Àquele que o Impede (2:5-9)
E. Em Relação Àqueles que Não Crêem (2:10-12)
F. Em Relação aos Crentes (2:13-17)
IV. Ordena e Condena a Respeito da Ociosidade (3:1-16)
A. A Confiança do Apóstolo (3:1-5)
B. As Ordens do Apóstolo (3:6-15)
V. A Sua Bênção e Saudações Finais (3:16-18)
As Epístolas Pastorais
O último grupo principal de epístolas paulinas tem sido geralmente denominado de “Epístolas Pastorais”, um termo usado para designar as três cartas dirigidas a Timóteo e Tito (1 e 2 Timóteo; Tito). Originalmente, foram vistas como meras cartas pessoais e classificadas em conjunto com Filémon; porém, devido à sua forte relação com a vida da Igreja, começaram a ser chamadas “Epístolas Pastorais”. Embora endereçados a indivíduos, estes livros não se encontram limitados a comunicações pessoais e privadas, tendo um carácter mais oficial. Paulo dirigiu-os a Timóteo e Tito, de modo a guiá-los em matérias concernentes ao cuidado pastoral da Igreja, casa de Deus (compare 1 Tm. 3:14-15; 4:6-15 com 2 Tm. 2:2).
O termo “pastoral” é uma designação do século 18 acrescentada ao longo dos anos 29 e, embora não inteiramente exacto, é, de alguma forma, uma descrição apropriada para estas três cartas. Para além disso, devido à grande extensão que estas epístolas dedicam a lidar com a ordem e disciplina da Igreja, o termo “pastoral” está correcto. Estas epístolas lidam com a organização, políticas e culto eclesiais, todos estes tópicos preocupações vitais para a saúde pastoral da Igreja. Contudo, o termo “pastoral” não é exacto no sentido em que Timóteo e Tito não eram pastores no sentido actual da palavra. Sendo assim, quem eram eles?
Primeiro, eram representantes oficiais do apóstolo Paulo, que os enviara a diversas igrejas, como Éfeso e Creta. Uma vez nesses locais, dispunham de capacidade oficial para lidar com situações e necessidades especiais. Durante o período entre o tempo dos apóstolos e a transição mais completa para anciãos e diáconos, estes homens foram enviados por Paulo como seus representantes apostólicos, para repelir e lidar com certas condições e pessoas que ameaçavam prejudicar o trabalho e ministérios destas igrejas.
Segundo, Timóteo e Tito possuíam indubitavelmente as qualidades necessárias para o ministério pastoral e, embora houvesse um elemento de cuidado pastoral naquilo que faziam, não eram anciãos nem pastores, concedidos a diversas igrejas pelo Senhor para ministérios a longo prazo (1 Pd. 5:1 ss). Em vez disso, enquanto delegados oficiais de Paulo, foram enviados para ajudar as igrejas a estabelecer os seus ministérios, pastoralmente falando (confira Tito 1:5 ss).
Pensando bem, em conteúdo, estes livros são de natureza pastoral, proporcionado orientação para o cuidado, conduta, ordem, ministério e administração de igrejas ou assembleias de fiéis. Tal é verdade tanto quando lidam com assuntos pessoais, como com o ministério corporativo da igreja. Em resumo, portanto, estes livros foram projectados por Deus para nos ajudar nas nossas responsabilidades pastorais e no desenvolvimento orgânico, bem como para servirem de guia à vida das igrejas locais.
Sobre este aspecto, poderá ser feita uma observação importante. De entre as treze cartas de Paulo, estes são os últimos livros que escreveu. O que há de tão relevante nisso? Uma vez que estes livros lidam com a ordem, ministério e organização da igreja, porque não foram os primeiros? Se eu ou você estivéssemos a fazer isto (especialmente hoje em dia), provavelmente tentaríamos primeiro colocar em ordem a organização administrativa e a estrutura, preocupando-nos depois com a doutrina. Aqui ficam algumas sugestões para reflectir:
Sugestão 1. É claro que a ordem e organização são importantes. A igreja é um corpo espiritual, um organismo, e cada crente é um membro, com funções especiais e tarefas a desempenhar, mas a necessidade prioritária, tão essencial ao funcionamento da igreja conforme Deus a projectou, é a teologia (ensinamento) e compreensão correctas da Palavra, bem como a sua aplicação pessoal num modo de viver semelhante a Cristo. Tal concede-nos os alicerces espirituais e morais nos quais baseamos os nossos métodos, estratégia e administração. Assim, embora os nossos métodos variem com frequência, nunca deverão contradizer os princípios morais ou espirituais da Palavra de Deus.
Dar, por exemplo, é uma responsabilidade corporativa e individual, mas a nossa dádiva e a colecta de dinheiro deverão ser feitas de modo a não violarem certos princípios bíblicos, tais como dar voluntariamente, em detrimento de mediante métodos que empreguem coacção ou manipulação.
Sugestão 2. A organização, ou melhor, o crescimento orgânico e unido de uma igreja, deverão basear-se no ensinamento correcto, que assenta no manuseio adequado da Palavra, isto é, da verdade objectiva de Deus, em conjunto com o uso de pessoas qualificadas e numa relação espiritual boa com Ele. Ao tentarmos levar a cabo uma organização com base na tradição ou contexto, acabamos com uma organização que não só não é bíblica, mas que também tem falta de fervor espiritual e capacidade de funcionar da forma que Deus deseja.
Estes livros, portanto, lidam com assuntos de ordem eclesial, ou eclesiologia, não mencionados até então; antes de Deus dar à Igreja orientações para a sua organização (ou ordens tão específicas como as que encontramos nas pastorais), deu-nos Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses e Colossenses. Será porque a organização não é importante? Não! É apenas porque a organização e administração não são aspectos prioritários. São secundários. Para além disso, o ensinamento e espiritualidade sólidos são o que, em última análise, produzem ministérios eficazes de acordo com os padrões de Deus, manifestando o espírito e carácter de Cristo em termos de ministério e alcance.
Sugestão 3. Outro conceito está intimamente relacionado com isto. Algumas áreas da eclesiologia são mais difíceis de determinar do que outras. Em resultado, os estudantes da Palavra têm debatido certos assuntos durante anos, tais como a forma exacta de governo, ou como seleccionar e nomear homens para cargos de liderança. Será que esta selecção deverá ser levada a cabo pelo grupo de anciãos, pela congregação, ou por decisão conjunta?
Dado que existe uma tal divergência de opiniões, será que isto significa que devemos perder o interesse no que toca a questões de governo da igreja? Claro que não. Devemos estudar cuidadosamente estes assuntos e procurar respostas bíblicas, a fim de podermos chegar a conclusões baseadas no nosso estudo dos factos da Escritura. Mas o importante é simplesmente isto: independentemente do modelo de governo eclesial, dentro de certos limites, claro, se a Palavra de Deus está a ser consistente e correctamente proclamada, com uma dependência devota no Senhor, e se as pessoas levarem esta questão a sério, a igreja estará viva, num contacto vital com Cristo, e eficaz no serviço do Senhor.
Atendendo à sua proximidade em termos de foco e pensamento, a confirmação e autoria das três epístolas pastorais será tratada aqui. Também já foi salientado que, uma vez que as três epístolas estão intimamente associadas em pensamento e estilo, é usual que a autoria paulina ou seja aceite, ou rejeitada para todas elas.
Embora estas três cartas tenham sido atacadas mais vezes do que qualquer outra epístola de Paulo, tanto a evidência externa como a interna apoiam uma autoria paulina. Alguns pais da Igreja primitiva, tais como Policarpo e Clemente de Roma, fazem alusão a estas epístolas como sendo paulinas. Adicionalmente, Ireneu, Tertuliano, Clemente de Alexandria e o Cânone Muratori fazem a mesma coisa. Além disso, os livros mencionam Paulo como autor (1 Tm. 1:1; 2 Tm. 1:1, Tito 1:1). Adicionalmente, os ensinamentos doutrinais e pormenores autobiográficos adequam-se à vida de um Paulo com idade avançada, perto do fim do seu ministério (veja 1:12-17; 2:7; 2 Tm. 1:1-8; 4:9-22; Tito 1:5; 3:12-13).30 Usualmente, os que põem em causa a autoria de Paulo fazem-no com base nos seguintes aspectos:
... que (1) as viagens de Paulo descritas nas pastorais não se encaixam em nenhuma parte do registo histórico do livro dos Actos, (2) a organização eclesial nelas descrita corresponde à do segundo século e (3) o vocabulário e estilo diferem de forma significativa dos utilizados nas outras cartas paulinas. Aqueles que sustentam a autoria paulina refutam: (1) não há nenhuma razão que obrigue a crer que Actos contenha a história completa da vida de Paulo. Uma vez que a sua morte não se encontra registada em Actos, aparentemente foi libertado do seu primeiro encarceramento em Roma, viajou pelo império durante vários anos (talvez mesmo até Espanha), foi preso de novo, encarcerado em Roma pela segunda vez e martirizado sob o poder de Nero; (2) nenhum aspecto da organização eclesial reflectida nas pastorais requer uma data mais tardia (veja Actos 14:23; Fl. 1:1); e (3) a questão da autoria não pode ser decidida unicamente com base no vocabulário, sem ter em consideração a forma como o assunto a tratar afecta a escolha de palavras de um escritor. Espera-se que o vocabulário usado para descrever a organização eclesial, por exemplo, seja diferente do utilizado para ensinar a doutrina do Espírito Santo. Não há nenhum argumento contra a autoria paulina para o qual não exista uma resposta razoável. E, é claro, as próprias cartas declaram terem sido redigidas por Paulo.31
Os títulos gregos para 1 e 2 Timóteo são Pros Timotheon A e Pros Timotheon B, “Primeira a Timóteo” e “Segunda a Timóteo”. O nome de Timóteo significa “aquele que honra a Deus”.
Ao comparar-se Actos com as epístolas, torna-se claro que 1 Timóteo e Tito pertencem a um período após a primeira libertação e absolvição de Paulo em Roma. Por causa disto, 1 Timóteo deverá ser datada após a sua primeira libertação, por volta da Primavera de 63 d.C., mas antes do surto de perseguições neronianas, em 64 d.C.. Primeira a Timóteo foi provavelmente redigida em 63 d.C., logo após a sua primeira libertação. Tito foi escrita por volta de 65 d.C., e 2 Timóteo em 66 d.C.. De acordo com Eusébio, pai da Igreja primitiva, Paulo faleceu em 67 d.C.. Enquanto cidadão romano, morreu pela espada (decapitado), em vez de ser sujeito à crucificação, como aconteceu a Pedro.
As viagens missionárias de Paulo ocuparam aproximadamente os anos 48-56 d.C.. A partir de 56-60, Paulo percorria lentamente os tribunais romanos, chegando por fim a Roma. Durante dois anos, 61-62, Paulo foi mantido em prisão domiciliária em Roma, tendo sido presumivelmente libertado ao fim desse período. A partir de 62-67, Paulo viajou com mais ou menos liberdade, deixando Timóteo em Éfeso e Tito em Creta, escrevendo subsequentemente uma carta para cada um. Assim, as datas aproximadas para 1 Timóteo e Tito são talvez 63-66. Depois de ser recapturado e encarcerado uma vez mais, Paulo escreveu uma segunda carta a Timóteo, 2 Timóteo. Portanto, 2 Timóteo, datada aproximadamente em 67 d.C., representa a última Epístola Paulina.32
Podem ser vistos pelo menos cinco propósitos claros em 1 Timóteo. Paulo escreveu: (1) para encorajar e incentivar o espírito e coragem de Timóteo, lembrando-lhe a sua carga ou dever (1:3), o seu dom espiritual (4:14), a sua boa profissão (6:12) e o depósito de doutrina que lhe fora confiado (6:20); (2) para proporcionar a Timóteo compreensão bíblica, lidando com os erros dos falsos doutores, e para encorajar Timóteo a permanecer na doutrina salutar (1:3-11, 18-20; 4:1-16; 6:3 ss); (3) para dar orientações concernentes à conduta eclesial apropriada na adoração (capítulo 2); (4) para fornecer orientação a respeito de numerosos assuntos que haveriam de surgir, mostrando como se deveria lidar com eles. Tal incluiria coisas como as seguintes: qualificações dos anciãos e diáconos (capítulo 3), conduta adequada com diversos grupos etários – anciãos e viúvas (capítulo 5). Finalmente, (5) escreveu para advertir contra os males do materialismo (capítulo 6).
O tema de 1 Timóteo, tal como Tito e 2 Timóteo, é duplo, com uma faceta que envolve o indivíduo, e outra envolvendo a Igreja.
Sendo 1 Timóteo, em muitos aspectos, um manual de liderança e conduta da igreja, um termo-chave é “sã doutrina”, enfatizado em vários locais (veja 1:10; 4:6; 6:1-3). Porém, não deve subestimar-se o conceito de “conduta” ou “piedade”, que ocorre nove vezes (compare 2:2, 10; 3:16; 4:7, 8; 6:3, 5, 6, 11 com 3:15 e 4:12). Como é óbvio, tal é adequado, uma vez que a doutrina salutar deve conduzir a uma conduta piedosa.
Uma vez que a liderança é tão determinante para o crescimento espiritual e eficácia de uma igreja, o capítulo 3, que expõe as qualificações para um cargo de liderança, é claramente um capítulo-chave. “Estão notavelmente ausentes qualidades mundanas de sucesso e posição. Em vez disso, Paulo enumera qualidades de carácter, demonstrando que a verdadeira liderança advém do nosso percurso com Deus, em detrimento de feitos ou sucesso vocacional.”33
Destacam-se várias passagens, apontando para a pessoa e ministério do Salvador. Ele é a fonte do nosso chamamento, força, fé e amor, tão necessários para o ministério (1:12-14), aquele que veio para salvar os pecadores (1:15), o único “mediador entre Deus e os homens” (2:5), Deus manifestado “na carne, justificado pelo Espírito, visto pelos anjos, pregado aos gentios, acreditado no mundo e exaltado na glória” (3:16) e o “Salvador de todos os homens, principalmente dos fiéis” (4:10).
I. A Saudação (1:1-2)
II. Instruções a Respeito da Doutrina (1:3-20)
A. Advertência Contra a Falsa Doutrina (1:3-11)
B. O Testemunho de Paulo sobre a Graça (1:12-17)
C. Recomendação de Paulo para Timóteo (1:18-20)
III. Instruções a Respeito da Adoração (2:1-2:15)
A. Instruções a Respeito da Oração (2:1-7)
B. Instruções a Respeito de Homens e Mulheres (2:8-15)
IV. Instruções a Respeito dos Líderes (3:1-16)
A. Acerca dos Anciãos e Diáconos (3:1-13)
B. Explicação Parentética (3:14-16)
V. Instruções a Respeito dos Perigos (4:1-16)
A. Descrição dos Perigos (4:1-5)
B. Deveres e Defesa Contra os Perigos (4:6-16)
VI. Instruções a Respeito de Diversas Responsabilidades (5:1-6:10)
A. Acerca de Vários Grupos Etários (5:1-2)
B. Acerca das Viúvas (5:3-16)
C. Acerca dos Anciãos (5:17-25)
D. Acerca dos Escravos e Senhores (6:1-2)
E. Acerca dos Heréticos e Gananciosos (6:3-10)
VII. Instruções Finais a Timóteo (6:11-21)
A. Exortação à Piedade (6:11-16)
B. Instruções para os Ricos (6:17-19)
C. Exortações para Permanecer Fiel (6:20-21)
Consulte o material em 1 Timóteo.
Consulte o material em 1 Timóteo.
Quando olhamos para 2 Timóteo, encontramos uma atmosfera muito diferente. Em 1 Timóteo e Tito, Paulo encontrava-se livre e disponível para viajar, mas aqui é prisioneiro numa masmorra fria, enfrentando a morte. Nesta carta, Paulo tinha dois grandes propósitos em mente. Escreveu (1) para pedir a Timóteo que viesse para Roma o mais depressa possível, em vista da sua morte iminente (compare 4:9, 21 com 4:6-8), e (2) para advertir Timóteo quanto a permanecer na sã doutrina, defendendo-a de todos os erros, suportando as dificuldades como um bom soldado e compreendendo que vivemos nos dias de apostasia crescente.
Tal como em 1 Timóteo, existe um aspecto pessoal e um aspecto corporativo nos temas do livro:
Em vista do desafio lançado no capítulo 2 e do modelo no capítulo 4, “resiliência no ministério” é um conceito-chave adequado a esta carta.
Estou convencido de que Wilkinson e Boa estão correctos ao escreverem: “O segundo capítulo de Segunda a Timóteo deveria ser leitura diária obrigatória para qualquer pastor e trabalhador cristão a tempo inteiro. Paulo enumera os pontos-chave para um ministério bem-sucedido e duradouro: Um ministério reprodutível (1-2); um ministério resiliente (3-13); um ministério estudioso (14-18); e um ministério santo (19-26).”34
Uma vez que, na realidade, todos os crentes são chamados, de uma ou de outra forma, a um ministério a tempo inteiro, este capítulo seria mais do que benéfico para todos os cristãos.
No cerne de qualquer ministério e da nossa capacidade de perseverança, encontra-se a doutrina da pessoa e obra de Cristo. Não é surpreendente, portanto, que, mesmo num livro que realça o papel da resiliência no ministério, a doutrina de Cristo seja proeminente. Aqui, Ele é descrito como Aquele que “destruiu a morte e suscitou a vida e a imortalidade, pelo Evangelho” (1:10), Aquele que ressuscitou dos mortos (2:8), Aquele que proporciona a salvação e a glória eterna (2:10), Aquele com quem todos os crentes morreram, com quem todos viverão, e a partir do qual serão recompensados pelo seu serviço fiel (com a coroa da justiça), privilegiando de reinarem com Ele (2:11-13; 4:8).
I. A Saudação (1:1-2)
II. A Expressão de Agradecimento por Timóteo (1:3-7)
III. A Convocação para Recordar as Responsabilidades de Timóteo (1:8-18)
IV. O Carácter de um Servo Fiel (2:1-26)
A. É Forte na Graça (2:1)
B É um Multiplicador de Discípulos (2:2)
C. É Determinado como um Soldado (2:3-4)
D. É Rigoroso Como um Atleta e Resiliente Como um Agricultor (2:5-13)
E. É um Operário Diligente (2:14-19)
F. É um Vaso Santificado (2:20-23)
G. É um Servo Gentil (2:24-26)
V. Advertências para um Servo Fiel (3:1-17)
A. O Perigo da Apostasia (3:1-9)
B. A Protecção Contra a Apostasia (3:10-17)
VI. A Responsabilidade de Pregar a Palavra (4:1-5)
VII. O Conforto de um Servo Fiel (4:6-18)
A. Uma Boa Conclusão para a Vida (4:6-7)
B. Um Bom Futuro Após a Vida (4:8)
C. Bons Amigos na Vida (4:9-18)
VIII. Saudações Conclusivas (4:19-22)
Uma vez que a autoria das Epístolas Pastorais já foi abordada, consulte 1 Timóteo. No texto grego, Tito é intitulado de Pros Titon, “A Tito”.
Embora Tito nunca seja mencionado em Actos, as numerosas referências nas epístolas de Paulo (13 ocorrências) tornam claro que era um dos colaboradores no evangelho mais próximos e de maior confiança de Paulo. Quando Paulo deixou Antioquia para debater o evangelho da graça em Jerusalém (Actos 15:1 ss), em conjunto com os líderes que ali se encontravam, levou consigo Tito (um gentio) (Gl. 2:1-3), como exemplo de alguém aceite mediante a graça sem circuncisão, o que justificava a posição de Paulo neste assunto (Gl. 2:3-5). Parece também que Tito terá trabalhado com Paulo em Éfeso, durante a terceira viagem missionária. De lá, o apóstolo enviou-o a Corinto, onde ajudou essa igreja nas suas obras (veja 2 Co. 2:12-13; 7:5-6; 8:6).
Uma recapitulação dos acontecimentos pertinentes para esta epístola ajudará a dar alguma ideia acerca de uma provável data para Tito, embora se desconheça a datação exacta. Primeiro, Paulo fora libertado da sua prisão domiciliária em Roma (local onde o encontramos no final de Actos). É possível que, dado Paulo ser cidadão romano e não conseguirem provar as acusações, os seus acusadores tenham decidido não apresentar queixa contra ele perante César (veja Actos 24-25; 28:30). Essencialmente, portanto, o caso foi perdido por falta de comparência do adversário e Paulo foi libertado. O apóstolo visitou então Éfeso, onde deixou Timóteo a supervisionar a igreja, e continuou até à Macedónia. Da Macedónia (região norte da Grécia), escreveu 1 Timóteo (1 Tm. 1:3). Visitou depois Creta, deixando Tito nesse local a fim de pôr em ordem os problemas remanescentes nas igrejas de Creta. Em seguida, Paulo foi para Nicópolis, em Acaia (região sul da Grécia, Tito 3:12). Depois, a partir da Macedónia ou de Nicópolis, Paulo escreveu a epístola a Tito, a fim de o encorajar e instruir. Mais tarde, visitou Tróade (2 Tm. 4:13), onde foi preso, levado para Roma, encarcerado e por fim decapitado. Conforme previamente referido, foi em Roma, durante este segundo encarceramento numa masmorra, que escreveu 2 Timóteo. Estes eventos tiveram lugar entre 62-67 d.C..
Nesta epístola, vêem-se vários temas e propósitos. Paulo escreveu:
O tema consiste em mostrar a forma como a graça de Deus, que nos apareceu na vida e morte salvadora de Cristo, nos ensina a rejeitar a impiedade e a viver justa e sobriamente como um povo cheio de boas obras, segundo a doutrina de Deus (2:10–3:9).
Questões importantes discutidas nesta carta incluem as qualificações para os anciãos (1:5-9), instruções para vários grupos etários (2:1-8), relação com o governo (3:1-2), relação entre a regeneração, as obras humanas e o Espírito (3:5) e o papel da graça em promover as boas obras entre o povo de Deus (2:11-3:8).
Nesta breve epístola, o conceito de “boas obras” ocorre seis vezes (1:16; 2:7, 14; 3:5, 8, 14). Duas outras palavras-chave são “graça” (1:4; 2:11; 3:7, 15) e “fé” (1:1, 4, 13; 2:10, 13, e 3:15). Boas obras não devem ser produto da ingenuidade humana ou da religião morta, mas sim a obra da graça de Deus, através de fé no Seu poder, conforme manifestado em Cristo, o Salvador.
Sem dúvida, o capítulo 2 é um capítulo-chave, devido à sua ênfase nas relações na igreja (2:1-10) e na forma como uma compreensão e foco adequado na primeira e segunda vinda (a abençoada esperança) de Cristo devem ter impacto na vida da igreja.
Uma vez mais, como é tão consistente nos ensinamentos de Paulo, vemos de que forma as boas obras ou a conduta do cristão estão tão relacionadas com a pessoa e obra de Cristo – passada, presente e futura. Neste livro, contemplamos a divindade (2:13) e a obra redentora do Salvador (2:12). Aqui, Cristo Jesus é categoricamente descrito como “nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo, que se entregou por nós, a fim de nos resgatar de toda a iniquidade, nos purificar e nos constituir seu povo de predilecção, zeloso na prática do bem” (2:13-14).
A frase “nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo” constitui um dos textos cristologicamente importantes afectados pela regra de Granville Sharp. De acordo com esta regra, no constructo artigo-nome-kaiv-nome, o segundo nome refere-se à mesma pessoa descrita pelo primeiro, quando (1) nenhum é impessoal; (2) nenhum é plural; (3) nenhum é um nome próprio. Para uma discussão mais alargada, consulte Exegetical Syntax, 270-78, esp. 276.35
I. Saudação e Cumprimentos Inaugurais (1:1-4)
II. Ordenação dos Anciãos na Igreja (1:5-9)
III. Infractores na Igreja (1:10-16)
IV. Funcionamento da Igreja (2:1-3:11)
A. Deveres de Tito (2:1-10)
B. Orientações a Respeito da Graça de Deus (2:11-15)
C. Demonstração das Boas Obras (3:1-11)
V. Instruções e Cumprimentos Finais (3:12-15)
Tal como as restantes epístolas da prisão (Efésios, Filipenses e Colossenses), Filémon foi redigida por Paulo durante o seu primeiro encarceramento em Roma. O facto de Paulo ser o autor é apoiado tanto por evidência externa como interna. Primeiro, “entre os pais da Igreja, Inácio, Tertuliano, Orígenes e Eusébio proporcionam evidências a favor da canonicidade deste breve livro. Foi também incluído no cânone de Marcião e no fragmento muratoriano”.36 Quanto à evidência interna. Paulo refere-se a si mesmo como autor nos versículos 1, 9 e 19.
A carta dirige-se a Filémon, dono de Onésimo, um dos milhões de escravos no Império Romano, que roubara o seu senhor e fugira. Onésimo conseguiu chegar a Roma, onde, segundo a providência de Deus, entrou em contacto com o apóstolo Paulo, que o levou a confiar em Cristo (v.10). Assim, quer Onésimo, quer Filémon deparavam-se com a necessidade de cumprirem o seu dever cristão um para com o outro. Onésimo deveria regressar para o seu senhor e Filémon deveria recebê-lo com perdão, como a um irmão cristão. A morte era o castigo habitual para um escravo fugitivo, mas Paulo intercede a favor de Onésimo.
Por conseguinte, o livro é intitulado de Pros Philemona, “A Filémon”.
Uma vez que foi redigida durante o primeiro encarceramento de Paulo em Roma, terá sido escrita por volta de 61 d.C..
O propósito prioritário desta carta, a mais pessoal de todas as cartas de Paulo, era pedir a Filémon que perdoasse Onésimo e o aceitasse de volta como a um irmão amado e servo companheiro no evangelho (veja vv. 10-17). No processo, Paulo pede a Filémon que coloque isto na sua própria conta. Como tal, esta epístola é uma ilustração apropriada de Cristo, que tomou o nosso lugar enquanto nosso substituto (veja v.18). Um propósito secundário é ensinar o sentido prático do amor cristão, ao procurarmos expressar os efeitos capazes de mudar a vida da existência de Cristo na nossa, à medida que transforma as nossas relações com os outros, quer em casa, quer nas relações senhor/escravo ou patrão/empregado. Nas outras epístolas da prisão, Paulo falou sobre esta nova relação (Ef. 6:5-9; Cl. 3:22; 4:1). Nesta carta, encontramos um exemplo maravilhoso. Um propósito final era manifestar a acção de graças de Paulo por Filémon e pedir-lhe que lhe preparasse alojamento, para quando fosse libertado da prisão (vv. 4-7 e 22).
O tema, portanto, é o poder do evangelho, capaz de mudar a vida e de chegar até diversas condições sociais, alterando as nossas relações da escravidão à irmandade.
Filémon não era o único proprietário de escravos na igreja colossense (veja Cl. 4:1), por isso esta carta proporcionou directrizes para outros senhores cristãos, relativamente à relação com os seus escravos-irmãos. Paulo não negou os direitos de Filémon sobre o seu escravo, mas pediu-lhe que aplicasse o princípio da irmandade cristã à situação com Onésimo (v. 16). Em simultâneo, Paulo ofereceu-se para pagar pessoalmente qualquer dívida de Onésimo. Esta carta não é um ataque à escravatura em si mesma, mas sim uma sugestão de como senhores e servos cristãos poderiam viver a sua fé dentro desse sistema perverso. É possível que Filémon tenha libertado Onésimo, enviando-o novamente para junto de Paulo (v. 14). Também tem sido sugerido que Onésimo se tenha tornado ministro e, mais tarde, bispo da igreja em Éfeso (Inácio, Aos Efésios, 1).37
Palavras ou conceitos-chave são “Unidade” e “perdão em Cristo”.
O perdão que o crente encontra em Cristo é maravilhosamente retratado por meio de uma analogia em Filémon. Motivado por amor, Paulo intercede a favor de Onésimo (vv. 10-17), culpado de um grave crime (vv. 11, 18). Paulo coloca de lado os seus direitos (v. 8) e torna-se substituto de Onésimo, assumindo a dívida deste (vv. 18-19). Graças ao gesto benevolente de Filémon, foi possível recuperar Onésimo, colocando-o numa nova relação (vv. 15-16). Nesta analogia, somos como Onésimo. A defesa de Paulo diante de Filémon é paralela à obra de mediação de Cristo diante do Pai. Onésimo, condenado pela lei, foi salvo pela graça.38
I. Oração de Acção de Graças por Filémon (vv. 1-7)
II. Intercessão de Paulo por Onésimo (vv. 8-18)
III. Promessa de Paulo a Filémon (vv. 19-21)
IV. Assuntos Pessoais (vv. 22-25)
Artigo original por J. Hampton Keathley III, Th.M.
Tradução de C. Oliveira
J. Hampton Keathley III, Th.M., licenciou-se em 1966 no Seminário Teológico de Dallas, trabalhando como pastor durante 28 anos. Em Agosto de 2001, foi-lhe diagnosticado cancro do pulmão e, no dia 29 de Agosto de 2002, partiu para casa, para junto do Senhor.
Hampton escreveu diversos artigos para a Fundação de Estudos Bíblicos (Biblical Studies Foundation), ensinando ocasionalmente Grego do Novo Testamento no Instituto Bíblico Moody, Extensão Noroeste para Estudos Externos, em Spokane, Washington.
1 Walter M. Dunnett, p. 40.
2 Este material foi retirado do livro de J. Sidlow Baxter's, Explore the Book (Examinai as Escrituras), pp. 63-64.
3 Frank E. Gaebelein, Editor Geral, The Expositor's Bible Commentary, New Testament, Zondervan, Grand Rapids, 1976-1992, versão electrónica.
4 Ryrie, p. 1786.
5 Ryrie, p. 1786.
6 Nota de Tradução – no texto original, o autor sugere a consulta da Bíblia NET, não disponível em português. As três passagens apresentadas em português correspondem à versão JFA-RC.
7 Wilkinson/Boa, p. 374.
8 Nota de Tradução – aproximadamente 550 metros.
9 Henry Clarence Thiessen, Introduction to the New Testament, Eerdmans, Grand Rapids, 1943, pp. 202-03.
10 Gaebelein, versão electrónica.
11 Ryrie, p. 1844.
12 Walvoord/Zuck, versão electrónica.
13 Wilkinson/Boa, p. 390.
14 Este plano geral foi retirado de The Expositor's Bible Commentary, New Testament, Frank E. Gaebelein, Editor Geral, Zondervan, Grand Rapids, 1976-1992, versão electrónica.
15 Merrill F. Unger, The New Unger’s Talking Bible Dictionary, Direitos de autor originais © 1957 Instituto Bíblico Moody de Chicago, versão electrónica.
16 Ryrie, p. 1863.
17 Thiessen, p. 212.
18 Ryrie, p. 1875.
19 Thiessen, p. 239.
20 Wilkinson/Boa, p. 400.
21 Ryrie, p. 1875. Para uma discussão mais detalhada, consulte a nota 2 sobre este assunto no respectivo versículo, disponível na Bíblia NET.
22 The NIV Study Bible Notes, Zondervan, Grand Rapids, versão electrónica.
23 O plano geral aqui apresentado segue o de Ryrie com pequenas variações, pp.1886-1887.
24 Gaebelein, versão electrónica.
25 A.T. Robertson, Paul and the Intellectuals, edição revista. W. C. Strickland (Nashville: Broadman, 1959), p. 12.
26 Wilkinson/Boa, p. 413.
27 O plano geral que se segue foi retirado de uma fantástica série de 12 estudos por Dr. S. Lewis Johnson, em Bibliotheca Sacra, “Studies in the Epistle to the Colossians,” com início no volume 118, # 471.
28 NIV Study Bible Notes, Zondervan, 1985, versão electrónica.
29 Theissen, p. 253.
30 Para uma discussão detalhada das questões de autoria, consulte Donald. Guthrie, The Pastoral Epistles, Tyndale Press, Londres, 1969, pp. 11-52; W. Hendricksen, A Commentary On 1 & II Timothy and Titus, The Banner of Truth Trust, Londres, 1957, pp. 4-33; e Henry Clarence Theissen, Introduction To The New Testament, Eerdmans, Grand Rapids, 1943, pp. 253-60.
31 Ryrie, p. 1916.
32 Walvoord/Zuck, versão electrónica.
33 Wilkinson/Boa, p. 429.
34 Wilkinson/Boa, p. 435.
35 Proveniente da nota de rodapé na Bíblia NET, BSF website CD, versão electrónica.
36 Walvoord/Zuck, versão electrónica.
37 Ryrie, p. 1939.
38 Wilkinson/Boa, p. 444.
Chegamos agora às oito epístolas finais do cânone do Novo Testamento, sete das quais têm sido frequentemente chamadas de Epístolas Gerais ou Católicas, embora Hebreus tenha sido excluída desta descrição. O termo Católicas foi usado no sentido de geral ou universal, de modo a distingui-las das Epístolas Paulinas, endereçadas a igrejas ou pessoas.1 No seu endereço (à excepção de 2 e 3 João), não se limitavam apenas a uma localidade. Como exemplo, Tiago é remetida “às doze tribos da dispersão” (1:1), tratando-se de uma designação para os crentes em qualquer lugar (provavelmente todos eles cristãos judeus naquele tempo). Em seguida, 1 Pedro é dirigida “aos eleitos que são estrangeiros e estão espalhados no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia”, uma designação para os crentes nessas diversas áreas. As epístolas 2 e 3 João também foram incluídas neste grupo, embora fossem remetidas a indivíduos específicos. Devido a estas diferenças, neste estudo, estes oito livros são chamados simplesmente “as Epístolas Não-Paulinas”. Deverá ser notado que, enquanto as Epístolas Paulinas se intitulam de acordo com os seus destinatários, todas estas epístolas são intituladas de acordo com os nomes dos seus autores, à excepção de Hebreus.
De um modo geral, podemos dizer que Tiago e 1 Pedro são éticas, convocando os crentes a um santo caminhar com o Salvador. Segunda a Pedro e Judas são escatológicas, advertindo os crentes contra a presença de falsos doutores, chamando-os a batalhar pela fé. Hebreus e as Epístolas de João são primeiramente cristológicas e éticas, incitando os cristãos a permanecer em Cristo enquanto revelação final de Deus e cumprimento da aliança do Antigo Testamento, experienciando a Sua vida e não ultrapassando a verdade do evangelho.
Estas oito epístolas exercem uma influência desproporcional à sua extensão (menos de 10 porcento do Novo Testamento). Complementam as treze Epístolas Paulinas, oferecendo diferentes perspectivas acerca da riqueza da verdade cristã. Cada um dos cinco autores – Tiago, Pedro, João, Judas e o autor de Hebreus – tem uma contribuição distinta a fazer de acordo com o seu próprio ponto de vista. À semelhança das quatro abordagens complementares à vida de Cristo nos Evangelhos, estes escritores proporcionam um retrato abrangente da vida cristã, na qual a totalidade supera a soma das partes. Grandes como são as epístolas de Paulo, caso os escritos destes cinco homens não tivessem sido incluídos, a revelação do Novo Testamento após Actos estaria severamente limitada por uma só perspectiva apostólica.2
Durante cerca de 1,200 anos (desde 400 a 1600 d.C.), este livro foi comummente intitulado “A Epístola de Paulo aos Hebreus”, mas não havia unanimidade nos primeiros séculos a respeito da sua autoria. O título mais antigo e confiável é Pros Ebraious, “Aos Hebreus”.
Conforme mencionado, o autor é desconhecido. Muitas sugestões têm sido feitas e muitos argumentos elaborados têm sido propostos por estudiosos, mas o facto é que o autor não é nomeado em nenhuma parte do livro, sendo essencialmente, tal como o local de redacção, data e até o público-alvo, desconhecido. Ryrie escreve:
Muitas sugestões têm sido feitas para o autor deste livro anónimo – Paulo, Barnabé, Apolo, Silas, Áquila e Priscila e Clemente de Roma. Existem tanto semelhanças como diferenças em relação à teologia e estilo de Paulo, mas Paulo apela frequentemente à própria autoridade apostólica nas suas cartas, enquanto este escritor apela a outros, que eram testemunhas do ministério de Jesus (2:3). É mais seguro dizer, como fez o teólogo Orígenes no terceiro século, que apenas Deus sabe quem escreveu Hebreus.3
Devido à incerteza da sua autoria, o seu reconhecimento como parte do cânone do Novo Testamento foi, pelo menos no Ocidente, protelado até ao século quarto, altura em que foi finalmente aceite na Igreja ocidental através dos testemunhos de Jerónimo e Agostinho. Dado que Paulo era considerado autor pela Igreja oriental, esta epístola sempre foi aceite nessa região.
O problema da sua canonicidade foi novamente levantado durante a Reforma, mas a profundidade espiritual e qualidade de Hebreus deram testemunho da sua inspiração, apesar do seu anonimato.
No capítulo 13, os versículos 18-24 dizem-nos que este livro não era anónimo para os leitores originais, que evidentemente conheciam o autor. Por alguma razão, porém, a tradição eclesial primitiva dividiu-se quanto à identidade do autor. Parte da igreja atribuiu-a a Paulo; outros preferiram Barnabé, Lucas ou Clemente, e alguns escolheram o anonimato. Assim, a evidência externa não ajudará a determinar o autor.
A evidência interna deverá ser o último recurso, mas também aqui os resultados são ambíguos. Alguns aspectos da linguagem, estilo e teologia de Hebreus são muito similares às epístolas de Paulo e o autor também menciona Timóteo (13:23). Contudo, diferenças significativas têm conduzido a maioria dos estudiosos bíblicos a rejeitar a autoria paulina deste livro: (1) O estilo de grego em Hebreus é muito mais elegante e refinado do que aquele que se encontra em qualquer uma das reconhecidas epístolas de Paulo. (2) Em vista das afirmações consistentes de Paulo quanto a ser um apóstolo e testemunha ocular de Cristo, é pouco provável que usasse a fraseologia encontrada no capítulo 2, versículo 3: “a qual, começando a ser anunciada pelo Senhor, foi-nos, depois, confirmada pelos que a ouviram”. (3) A ausência da habitual saudação de Paulo, que incluía o seu nome, vai contra o firme padrão encontrado em todas as suas restantes epístolas. (4) Embora Paulo tenha usado tanto o texto hebraico como a Septuaginta para citar o Antigo Testamento, aparentemente o redactor de Hebreus não sabia hebreu, citando exclusivamente a partir da Septuaginta. (5) O uso comum de títulos compostos que Paulo fazia para se referir ao Filho de Deus não é observado em Hebreus, que usualmente se refere a Ele como Cristo, Jesus e Senhor. (6) Hebreus concentra-se no presente ministério sacerdotal de Cristo, mas os escritos de Paulo têm pouco a dizer acerca da obra presente de Cristo. Portanto, Hebreus parece não ter sido escrita por Paulo, embora o autor mostre uma influência paulina. De nenhum modo a autoridade de Hebreus está dependente da autoria paulina, especialmente dado que não declara ter sido escrita por Paulo.4
Uma vez que os destinatários não são mencionados, ao contrário do que acontece nas Epístolas Paulinas, poderemos dizer algo sobre eles. A própria natureza do livro, com as suas abundantes citações do Antigo Testamento e a ênfase no sistema sacrificial, sugere fortemente que seriam hebreus. Escrevendo em The Bible Knowledge Commentary, Zane C. Hodges diz:
A identidade dos primeiros leitores de Hebreus permanece, tal como a do autor, desconhecida. No entanto, faziam evidentemente parte de uma comunidade particular. Tal torna-se aparente através de várias considerações. Os leitores tinham uma história definida e o autor referiu-se aos seus “dias de outrora” (Hb. 10:32-34); conhecia a sua generosidade presente e passada face a outros cristãos (6:10), e era capaz de ser específico acerca da sua condição espiritual actual (5:11-14). Para além disso, o autor tinha ligações definidas com eles e expressou a sua intenção de os visitar, talvez com Timóteo (13:19, 23). Também lhes pediu orações (13:18).
É muito provável que a maioria dos leitores tivesse origem judaica. Embora isto tenha sido questionado algumas vezes, o conteúdo da epístola defende-o. É claro que o antigo título “Aos Hebreus” poderá ser uma mera conjuntura, mas é natural. Quando se diz tudo o que é possível dizer a uma público gentio, permanece o facto de que a forte ênfase que o autor coloca sobre os protótipos judaicos e o seu ataque sincero contra a permanência do sistema levítico é melhor explicado caso o público seja largamente judeu, inclinado a voltar à sua antiga fé. O duro e extenso apelo à autoridade das Escrituras do Antigo Testamento também era mais apropriado para leitores que haviam sido criados com as mesmas.5
Várias coisas sugerem uma data algures entre 64-68 d.C.. Primeiro, o livro foi citado por Clemente de Roma em 95 d.C., pelo que teve de ser redigido antes disso. Segundo, pelas razões que se seguem, parece bastante claro que o livro foi escrito antes da destruição de Jerusalém, em 70 d.C. Primeiro, caso um evento desta magnitude tivesse ocorrido, o autor teria certamente mencionado a destruição do templo e o fim do sistema sacrificial judeu, especialmente em vista do argumento deste livro. Segundo, ao falar do templo e das actividades sacerdotais, o autor usa o grego em tempo presente vez após vez, sugerindo que ainda estavam a ocorrer (veja 5:1-3; 7:23, 27; 8:3-5; 9:6-9, 13, 25; 10:1, 3-4, 8, 11; 13:10-11). Terceiro, em 13:23 o autor refere-se à recente libertação de Timóteo, que, se associada ao seu ministério para com Paulo em Roma, requer uma data nos finais de 60.
Claramente, o tema de Hebreus é a incomparável grandeza de Cristo ou a Sua superioridade e, consequentemente, a superioridade do Cristianismo face ao sistema do Antigo Testamento. Várias palavras – melhor, perfeito e celestial – são usadas de forma proeminente para demonstrar isto. Como propósito prioritário, o autor procura demonstrar como Cristo é superior ou melhor de cinco formas significativas. Enquanto Filho, Ele é (1) superior aos profetas do Antigo Testamento (1:1-3), (2) aos anjos (1:4-2:18), (3) a Moisés (3:1-6), (4) a Josué (3:7-4:16) e (5) ao sacerdócio de Aarão (5:1-10:18). O objectivo deste tema é advertir os seus leitores contra os perigos de trocar a matéria daquilo que possuem em Cristo pelas sombras temporárias do sistema do Antigo Testamento. Assim, os leitores são avisados para prosseguirem até à maturidade e recompensa de crentes fiéis, participantes do seu chamamento celestial. A fim de fazerem isto, existem cinco passagens de aviso, inseridas de modo a desafiá-los a progredir na sua fé cristã (2:1-4; 3:1-4:13; 5:11-6:20; 10:26-39; 12:14-29).
As palavras-chave são melhor, que ocorre cerca de treze vezes, perfeito, que ocorre nove vezes, e celestial, que ocorre seis vezes. Portanto, o conceito-chave em Hebreus é a superioridade ou a incomparável grandeza de Cristo.
O capítulo 1, que tão fortemente declara a divindade de Cristo enquanto Filho e revelação final de Deus, é certamente um capítulo-chave, mas o capítulo 11 também se destaca como o grande Corredor da Fama e da Fé. Apontando para os numerosos santos do Antigo Testamento que viveram pela fé, demonstra a verdade de 11:6, “Ora, sem fé é impossível agradar a Deus, pois para se aproximar d’Ele é necessário que se creia primeiro que Ele existe e que recompensa os que O procuram”.
Cumprindo o objectivo de mostrar a superioridade de Cristo, Hebreus torna-se indubitavelmente o livro individual mais cristológico do Novo Testamento. Aqui, Ele é declarado Filho, o próprio esplendor e representação da essência de Deus (1:3, 13), aquele que se sentou à direita de Deus (1:3), aquele que foi declarado Deus por Deus Pai (1:8-9), Criador eterno (1:10-12) e Sacerdote eterno segundo a ordem de Melquisedeque (7). Aqui, Cristo é apresentado como o Profeta, Sacerdote e Rei humano-divino. É visto como nosso Redentor que, tendo sido feito como os Seus irmãos, lidou de uma vez por todas com o nosso pecado e fez aquilo que os sacrifícios temporários jamais poderiam fazer. Como tal, encontra-se agora no Céu como nosso Grande Sumo Sacerdote, que simpatiza com as nossas fraquezas.
I. A Superioridade de Cristo Face aos Líderes da Antiga Aliança (1:1-7:28)
A. Cristo É Superior aos Profetas do Antigo Testamento (1:1-3)
B. Cristo É Superior aos Anjos (1:4-2:18)
C. Cristo É Superior a Moisés (3:1-6)
D. Cristo É Superior a Josué (3:7-4:13)
E. Cristo É Superior ao Sacerdócio Aarónico (4:14-7:28)
1. Exortação a permanecer firme (4:14-16)
2. Qualificações de um sacerdote (5:1-10)
3. Exortação a abandonar a letargia espiritual (5:11-6:12)
4. Certeza da promessa de Deus (6:13-20)
5. Cristo é superior à ordem sacerdotal (capítulo 7)
II. A Superior Obra Sacrificial enquanto Nosso Sumo Sacerdote (capítulos 8-10)
A. Uma Aliança Melhor (capítulo 8)
B. Um Santuário Melhor (9:1-12)
C. Um Sacrifício Melhor (9:13-10:18)
D. Exortações (10:19-39)
III. Apelo Final a Perseverar na Fé (capítulos 11-12)
A. Exemplos dos Heróis da Fé do Passado (capítulo 11)
B. Encorajamento a Perseverar na Fé (12:1-11)
C. Exortações a Perseverar na Fé (12:12-17)
D. Motivação para Perseverar na Fé (12:18-29)
IV. Conclusão (capítulo 13)
A. Princípios Práticos para a Vida Cristã (13:1-17)
B. Pedido de Oração (13:18-19)
C. Bênção (13:20-21)
D. Comentários Pessoais (13:22-23)
E. Saudações e Bênção Final (13:24-25)
Esta epístola inicia-se com “Tiago de Deus... às doze tribos”6. De forma a indicar claramente o remetente, a Bíblia NET traduz “De Tiago, escravo de Deus... às doze tribos...7” Mas existiam quatro homens chamados Tiago no Novo Testamento. Os mesmos eram os seguintes: (1) o filho de Zebedeu e irmão de João (Marcos 1:19), (2) o filho de Alfeu (Marcos 3:18), (3) o pai de Judas (não o Iscariotes; Lucas 6:16), e (4) o meio-irmão do Senhor (Gl. 1:19). A este respeito, Ryrie escreve:
Dos quatro homens detentores do nome Tiago no Novo Testamento, apenas dois foram propostos como autores desta epístola – Tiago, filho de Zebedeu (e irmão de João), e Tiago, meio-irmão de Jesus. É improvável que o filho de Zebedeu tenha sido o autor, pois foi martirizado em 44 d.C. (Actos 12:2). O tom de autoridade da epístola não só exclui os dois “Tiagos” menos conhecidos do Novo Testamento (“Tiago Menor” e o Tiago de Lucas 6:16), mas também aponta para o meio-irmão de Jesus, que se tornou o líder reconhecido da igreja de Jerusalém (Actos 12:17; 15:13; 21:18). Esta conclusão é apoiada pelas semelhanças entre o grego desta epístola e o utilizado no discurso de Tiago no Concílio de Jerusalém (Tiago 1:1 e Actos 15:23; Tiago 1:27 e Actos 15:14; Tiago 2:5 e Actos 15:13).8
No texto grego, a partir de Tiago 1:1, o livro é simplesmente intitulado de Jakobos. O título antigo era Jakobou Epistle, “Epístola de Tiago”. Mas Tiago era realmente Jacob (Iako„bos). Desconhece-se a razão exacta pela qual os tradutores ingleses escolheram “Tiago” em detrimento de “Jacob”. “Tiago”, “Jake” e “Jacob” provêm todos da mesma raiz etimológica9. Traduções bíblicas em outras línguas tendem a utilizar o nome transliterado do hebreu yaàa†qo„b, “Jacob”. É possível questionar se o Rei James desejaria ver o seu nome na tradução inglesa que autorizou.
Uma vez mais, dado o modo como Tiago se dirige aos destinatários, também aqui é preciso um comentário. Tiago dirige-se “às doze tribos da dispersão (diaspora), saúde”. Conforme é sugerido por “meus irmãos”, em 1:19 e 2:1, 7, trata-se de uma referência não à dispersão que ocorreu entre 66-70 d.C., mas aos judeus distantes da sua pátria, ao longo das dispersões passadas (veja Mt.1:11, 12, 17). Nos capítulos iniciais de Actos, judeus de todas as partes do mundo encontravam-se em Jerusalém para o Pentecostes (veja Actos 1:5). Muitos deles viram e ouviram o fenómeno do Pentecostes e começaram a acreditar em Cristo. Eventualmente, muitos regressaram às suas respectivas casas, em diversas regiões do mundo. Era para estes que Tiago estava a escrever. Outros, porém, vêem isto como uma referência aos cristãos judeus que haviam sido dispersos após a morte de Estêvão.10
Embora alguns sugiram uma data para Tiago tão antiga como o final dos 30s, e outros uma tão tardia como 150 d.C., a maioria dos estudiosos data o livro à volta de 45 d.C.. As razões são as seguintes: (1) Há um carácter judaico muito distinto no livro, sugerindo que terá sido escrito numa altura em que a igreja era ainda predominantemente judia. (2) Não há qualquer referência à controvérsia acerca da circuncisão dos gentios. (3) O termo grego synagoge (“sinagoga” ou “assembleia”) é usado para designar a assembleia ou local de assembleia da igreja, em detrimento do termo “igreja”, ekklesia (2:2). (4) A ausência de referência aos assuntos envolvidos no Concílio de Jerusalém, tais como a relação entre cristãos gentios e cristãos judeus (Actos 15:1 ss; 49 d.C.), sugere também uma data muito precoce. (5) “As alusões aos ensinamentos de Cristo têm uma concordância verbal tão escassa com os Evangelhos sinópticos que a epístola provavelmente precedeu-os.”11
Existe uma controvérsia significativa a respeito da natureza exacta do tema e propósito desta epístola. A respeito desta polémica, Ron Blue escreve:
Poucos livros da Bíblia foram mais difamados do que o pequeno Livro de Tiago. A controvérsia recaiu sobre a sua autoria, data, destinatários, canonicidade e unidade.
É bem sabido que Martinho Lutero teve problemas com este livro. Chamou-lhe “epístola de palha”. Mas apenas é de “palha” na medida em que é “complicada”. Existem agulhas suficientes neste palheiro para picar a consciência de cada cristão enfadonho, derrotado e degenerado deste mundo. Esta é uma “epístola estimulante”, destinada a exortar e encorajar, a desafiar e condenar, a admoestar e revivificar, a descrever a santidade prática e conduzir os crentes em direcção ao objectivo de uma fé que funciona. Tiago é severamente ético e revigorantemente prático.12
Claramente, Tiago preocupa-se com possuir uma fé que funciona, uma fé vital, poderosa e funcional. Mas parte da controvérsia diz respeito à natureza dessa fé. Estará ele a escrever para que se desenvolvam as características da verdadeira fé, versus a fé falsa de um crente meramente professo, ou estará ele a falar acerca da fé genuína de um verdadeiro crente, mas cuja fé se tornou morta e inactiva e, por conseguinte, inútil? Alguns afirmariam que Tiago “usa efectivamente estas características como uma série de testes para ajudar o leitor a avaliar a realidade da sua relação com Cristo”.13 Outros enfatizariam que Tiago escreve para advertir os crentes acerca das consequências de uma fé morta e inactiva, tanto a nível pessoal como corporativo, e para estimulá-los ao crescimento e à verdadeira maturidade espiritual. Em linha com este foco, Blue tem um excelente resumo do propósito de Tiago:
O propósito desta potente carta é exortar os novos crentes à maturidade cristã e a uma vida santa. Esta carta lida mais com a prática da fé cristã do que com os seus preceitos. Tiago disse aos seus leitores como alcançar a maturidade espiritual através de uma posição confiante, serviço compassivo, discurso cuidadoso, submissão contrita e partilha solícita. Lidou com cada área da vida de um cristão: o que ele é, o que faz, o que diz, o que sente e o que tem.
Com o seu ensinamento algo severo sobre a santidade prática, Tiago mostrou o modo com a fé e o amor cristãos deverão ser expressos numa variedade de situações reais. As partes do livro aparentemente não relacionadas podem ser harmonizadas à luz deste tema unificador. As pérolas não ficam a rolar dentro de uma caixa qualquer; são cuidadosamente enfileiradas a fim de produzir um colar de inestimável beleza.14
Num livro de apenas cinco capítulos, a palavra fé ocorre dezasseis vezes. Isto, em conjunto com a forte ênfase na vida piedosa e com a repetição de obras treze vezes no capítulo 2, mostra que estas são as duas palavras-chave do livro.
Escolher um capítulo-chave em Tiago é difícil, mas os capítulos 1 e 4 destacam-se certamente. O capítulo 1 é fundamental na medida em que nos dá informação vital acerca da natureza e propósito das provações e tentações. As provações desenvolvem o carácter e, quando misturadas com fé, originam a maturidade; as nossas tentações vêm de dentro, nunca de Deus. O capítulo 4 também é um capítulo-chave graças àquilo que nos ensina acerca das três fontes de contendas, da natureza adúltera do mundanismo, de se aproximar de Deus e de resistir a Satanás, que foge quando lhe resistimos e nos aproximamos de Deus. Outros temas-chave encontrados noutros capítulos são fé e obras (2:14-26), o uso da língua (3:1-12) e a oração pelos doentes (5:13-16).
Em 1:1 e 2:1, Tiago refere-se especificamente ao “Senhor Jesus Cristo”, antecipando depois a Sua vinda em 5:7-8. “Nos 108 versículos desta epístola, existem referências ou alusões a 22 livros do Antigo Testamento e pelo menos 15 alusões aos ensinamentos de Cristo personificados no Sermão da Montanha.”15
I. Permanecer com Confiança (capítulo 1)
A. Saudação e cumprimento (1:1)
B. Regozijar-se nas diversas provações (1:2-12)
1. Atitude nas provações (1:2)
2. Vantagem das provações (1:3-4)
3. Auxílio nas provações (1:5-12)
C. Resistir à tentação mortal (1:13-18)
1. Fonte da tentação (1:13-14)
2. Etapas na tentação (1:15-16)
3. Solução para a tentação (1:17-18)
D. Repousar na verdade divna (1:19-27)
1. Receptividade para a Palavra (1:19-21)
2. Responsividade para a Palavra (1:22-25)
3. Conformidade com a Palavra (1:26-27)
II. Servir com Compaixão (capítulo 2)
A. Aceitar os outros (2:1-13)
1. Cortesia para com todos (2:1-4)
2. Compaixão para com todos (2:5-9)
3. Consistência em tudo (2:10-13)
B. Assistir os outros (2:14-26)
1. Expressão da verdadeira fé (2:14-17)
2. Evidência da verdadeira fé (2:18-20)
3. Exemplos da verdadeira fé (2:21-26)
III. Falar com Cuidado (capítulo 3)
A. Falar com controlo (3:1-12)
1. A língua é poderosa (3:1-5)
2. A língua é perversa (3:6-8)
3. A língua encontra-se poluída (3:9-12)
B. Cultivar o pensamento (3:13-18)
1. A sabedoria é humilde (3:13)
2. A sabedoria é graciosa (3:14-16)
3. A sabedoria é pacífica (3:17-18)
IV. Submeter-se com Contrição (capítulo 4)
A. Transformar o ódio em humildade (4:1-6)
1. Causa do conflito (4:1-2)
2. Consequência do conflito (4:3-4)
3. Cura do conflito (4:5-6)
B. Transformar o julgamento em justiça (4:7-12)
1. Conselho para a justiça (4:7-9)
2. Vantagem da justiça (4:10-11)
3. Autor da justiça (4:12)
C. Transformar a vanglória em crença (4:13-17)
1. Afirmação de vanglória (4:13)
2. Sentença da vanglória (4:14)
3. Solução para a vanglória (4:15-17)
V. Partilhar com solicitude (capítulo 5)
A. Partilhar o que se possui (5:1-6)
1. Consternação pela riqueza (5:1)
2. Corrosão da riqueza (5:2-3)
3. Condenação da riqueza (5:4-6)
B. Partilhar a paciência (5:7-12)
1. Essência da paciência (5:7-9)
2. Exemplos de paciência (5:10-11)
3. Evidência da paciência (5:12)
C. Partilhar as orações (5:13-20)
1. Sensibilidade para com os necessitados (5:13)
2. Súplica pelos necessitados (5:14-18)
3. Importância dos necessitados (5:19-20)
Que o apóstolo Pedro é o autor está claramente expresso no versículo de abertura: “Pedro, apóstolo de Jesus Cristo” (1:1). Não só 1 Pedro foi universalmente reconhecida como obra do apóstolo Pedro pela Igreja primitiva, mas também há forte evidência interna que atesta a sua autoria. Quanto à evidência externa, Eusébio colocou 1 Pedro entre os homologoumena, e nenhum livro tem uma confirmação mais antiga ou forte do que 1 Pedro, conforme evidenciado por 2 Pedro 3:1.
A carta foi explicitamente atribuída a Pedro por aquele grupo de Pais da Igreja cujos testemunhos aparecem na confirmação de tantos escritos genuínos do Novo Testamento, nomeadamente Ireneu (140-203 d.C.), Tertuliano (150-222), Clemente de Alexandria (155-215) e Orígenes (185-253). Fica, portanto, claro que a autoria literária de Pedro goza de um apoio forte e antigo.17
A evidência interna para a autoria de Pedro é a seguinte: (1) Existem semelhanças claras entre esta carta e os sermões de Pedro registados em Actos (compare 1 Pd. 1:20 com Actos 2:23; 1 Pd. 4:5 com Actos 10:42). (2) Em Actos e 1 Pedro, a palavra grega xylon, “árvore, madeiro”, é usada por Pedro relativamente à cruz (confira Actos 5:30; 10:39; 1 Pd. 2:24). (3) Os temas, conceitos e diversas alusões às experiências de Pedro durante o ministério terreno do Senhor e a era apostólica apoiam também a autoria de Pedro (confira 1:8; 2:23; 3:18; 4:1; 5:1).
Mesmo com esta evidência, alguns estudiosos modernos têm desafio a autoria de Pedro em vários aspectos. Os seus argumentos e respectivas respostas encontram-se sumariados por Roger Raymer no que se segue:
Até tempos relativamente recentes, a autenticidade da afirmação da epístola relativamente à autoria apostólica permaneceu incontestável. Depois, alguns estudiosos modernos realçaram que Pedro era considerado “comum” e “sem instrução” pelos líderes religiosos judeus (Actos 4:13). O esplêndido estilo literário e uso sofisticado de vocabulário em 1 Pedro parecem indicar que o seu autor deveria ser mestre em grego. Os que negam a autoria de Pedro dizem que um tal pedaço artístico da literatura grega não poderia ter fluído da caneta de um pescador galileu.
Embora Pedro pudesse ser classificado como “sem instrução”, e embora o grego não fosse a sua língua materna, não era de modo algum “comum”. Os líderes judeus viam Pedro como não instruído simplesmente porque não fora treinado na tradição rabínica, e não porque fosse analfabeto. Lucas também registou (Actos 4:13) que esses mesmos líderes ficaram admirados com a confiança de Pedro e o poder da sua personalidade controlada pelo Espírito. O ministério público de Pedro abrangeu mais de 30 anos e levou-o de Jerusalém para Roma. Viveu e pregou num mundo poliglota. É razoável crer que, após três décadas, Pedro dominasse a língua da maioria daqueles a quem servia.
O estilo retórico e uso da metáfora empregados em 1 Pedro poderiam ser tão facilmente atribuídos quer a um orador público, quer a um estudioso literário. Certamente, Pedro dispunha de tempo e talento para se tornar um excelente comunicador do evangelho através da língua grega.
Quaisquer dúvidas adicionais sobre a autoria petrina que se baseiem no estilo linguístico podem ser respondidas pelo facto de que, aparentemente, Pedro usou Silvano como seu secretário (1 Pedro 5:12). Embora cristão de Jerusalém, Silvano era cidadão romano (Actos 16:36-37) e poderia ter grande facilidade no idioma grego. Mas quer Silvano tenha ou não ajudado Pedro com as nuances gramaticais do grego, o conteúdo da epístola permanece ainda assim a mensagem pessoal de Pedro, selada com a sua autoridade pessoal.18
A epístola é endereçada “aos eleitos que são forasteiros da Dispersão no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia”. Pedro usou duas palavras-chave para descrever os destinatários, “forasteiros” (grego, parepide„mos, uma palavra que enfatiza residência temporária e nacionalidade estrangeira) e “dispersão” (grego, diaspora, “dispersão”). Esta palavra “refere-se normalmente aos judeus que não viviam na Palestina, espalhados ao longo do mundo mediterrânico. Porém, aqui é provavelmente metafórica, usada em relação aos cristãos gentios, espalhados como povo de Deus no meio de um mundo pagão”.19 Mas talvez Pedro tivesse em vista tanto crentes judeus como gentios:
1 Pedro dirige-se aos cristãos dispersos pelas cinco províncias romanas da península da Ásia Menor. Hoje em dia, essa área corresponde ao norte da Turquia. Nessas províncias, as igrejas eram compostas de judeus e gentios. A epístola é abundante em referências e citações do Antigo Testamento. Os cristãos judeus encontrariam uma relevância especial no termo diasporas,, traduzido “dispersão”, usado na saudação (1:1). Os judeus que viviam fora de Jerusalém eram descritos como vivendo na diáspora.
À luz do seu passado de completa ignorância relativamente à Palavra de Deus (1:14), os leitores gentios iriam reparar na exortação de Pedro a uma vida santa. Os cristãos gentios também se sentiriam fortemente encorajados pelo facto de que, embora tivessem estado na ignorância, eram agora considerados “povo de Deus” (2:10). Claramente, Pedro incluiu com cuidado tanto cristãos judeus como gentios na sua carta de encorajamento às igrejas da Ásia Menor.20
A tradição eclesial associa Pedro na parte final da sua vida à cidade de Roma. Caso a referência à Babilónia em 5:13 seja uma referência críptica a Roma, esta carta foi escrita enquanto Pedro esteve em Roma, durante a sua última década de vida, por volta de 63 d.C., mesmo antes do surto da perseguição de Nero, em 64 d.C.. Pedro olha para o estado de forma harmoniosa ou quiçá conciliatória (veja 1 Pd. 2:13-17), algo que seria mais difícil (mas não impossível) numa data mais tardia, debaixo do despoletar das perseguições de Nero.
Embora 1 Pedro toque em diversas doutrinas e tenha muito a dizer sobre a vida e responsabilidades cristãs, o tema e propósito de 1 Pedro centram-se em torno do problema do sofrimento – particularmente sob a forma de perseguição devido à fé. Tem sido descrita como um guia ou manual, mostrando aos cristãos como deverão viver enquanto forasteiros e embaixadores de Cristo, num mundo estranho e hostil (1:1, 13-21; 2:11-12; 3:14, 17; 4:1, 13, 15, 16, 19).
Existem vários propósitos específicos neste livro. Destina-se a proporcionar orientação para os crentes perseguidos, (1) focando-se na revelação iminente de Cristo e sua salvação (1:3-12), (2) seguindo Cristo como exemplo perfeito no sofrimento (2:21 ss) e (3) vivendo no mundo de acordo com a sua vocação como povo especial de Deus, mantendo uma boa reputação no mundo gentio (2:4-12 ss; 4:1 ss.). Outros propósitos incluem demonstrar a ligação vital entre doutrina e prática (5:12) e encorajar à liderança piedosa e ao pastoreio do rebanho de Deus (5:1 ss), que é um elemento essencial na capacidade da Igreja para funcionar com eficiência num mundo hostil.
A palavra-chave e conceito é, obviamente, “sofrer por Cristo”. A palavra “sofrer” aparece sob várias formas cerca de dezasseis vezes no livro. Intimamente associado a isto, como grande fonte de esperança e conforto, encontra-se o conceito da revelação iminente e glória de Cristo, que será revelada ou manifestada aos crentes acompanhada pela libertação ou salvação derradeira (veja 1:5, 7, 12, 13; 4:13; 5:1, 10-11).
Talvez devido à sua extensa orientação sobre como lidar com a perseguição, o capítulo quatro é o capítulo-chave de 1 Pedro.
Este livro está imbuído da pessoa e obra de Cristo. Através da ressurreição de Cristo, os cristãos adquirem “uma esperança viva” e “uma herança incorruptível” (1:3-4). Em várias passagens, Pedro fala da iminente glória e revelação de Cristo (1:7, 13; 4:13; 5:1). Também fala (1) da pessoa e obra de Cristo enquanto Cordeiro de Deus, que nos redimiu suportando os nossos pecados na cruz (1:18-19; 2:24), (2) de Cristo como nosso exemplo perfeito no sofrimento (2:21 ss) e (3) de Cristo como pastor Supremo e Guardião dos crentes (2:25; 5:4).
1 Pedro pode ser facilmente dividida em quatro secções: (1) a Salvação dos Crentes (1:1-12), (2) a Santificação dos Crentes (1:13-2:12), (3) a Submissão dos Crentes (2:13-3:12) e o Sofrimento dos Crentes (3:13-5:14).
I. A Salvação dos Crentes (1:1-12)
A. Saudação (1:1-2)
B. Esperança Futura (Viva) e Provações Presentes (1:3-9)
C. Salvação Presente e Revelação Passada (1:10-12)
II. A Santificação dos Crentes (1:13-2:12)
A. Convocação à Santidade (1:13-21)
B. Convocação ao Amor Mútuo Fervoroso (1:22-25)
C. Convocação a Desejar o Leite Puro da Palavra (2:1-3)
D. Convocação a Oferecer Sacrifícios Espirituais (2:4-10)
E. Convocação a Abster-se dos Desejos da Carne (2:11-12)
III. A Submissão dos Crentes (2:13-3:12)
A. Submissão ao Governo (2:13-17)
B. Submissão no Trabalho (2:18-25)
C. Submissão no Casamento (3:1-8)
D. Submissão em Todas as Áreas da Vida (3:9-12)
IV. O Sofrimento dos Crentes (3:13-5:14)
A. Conduta Necessária no Sofrimento (3:13-17)
B. Exemplo de Cristo no Sofrimento (3:18-4:6)
C. Recomendações no Sofrimento (4:7-19)
D. Guardas (Pastores) no Sofrimento (5:1-9)
E. Conclusão ou Bênção (5:10-14)
A autoria desta epístola é a mais disputada do Novo Testamento. Contudo, não só o autor se identifica claramente como Simão Pedro (1:1), mas também um conjunto de outras evidências internas apontam para ele como autor. Numa secção muito pessoal, quase como o testamento final de um pai moribundo, usa a primeira pessoa do singular para se referir a si mesmo (1:14), declara-se testemunha ocular da transfiguração (compare 1:16-18 com Mt. 17:1-5), afirma que esta carta é a segunda que envia aos leitores (3:1) e mostra o seu conhecimento pessoal do apóstolo Paulo, a quem chama “caríssimo irmão” (3:15). A respeito da autoria de Pedro, Ryrie escreve:
Muitos têm sugerido que outra pessoa que não Pedro escreveu esta epístola após 80 d.C., devido a (1) diferenças de estilo, (2) sua suposta dependência da epístola de Judas e (3) referência ao facto de as cartas de Paulo estarem a ser compiladas (2 Pd. 3:16). Porém, usar um escriba diferente, ou mesmo nenhum, também resultaria em alterações estilísticas; não há nenhuma razão pela qual Pedro não pudesse inspirar-se em Judas, embora seja mais provável que essa epístola tenha sido escrita depois de 2 Pedro; e 3:16 não se refere necessariamente a todas as cartas de Paulo, mas somente às que tinham sido escritas até àquele tempo. Para além disso, parecenças entre 1 e 2 Pedro apontam para um mesmo autor e a sua aceitação no cânone requer autoridade apostólica subjacente. Assumindo a autoria petrina, a carta foi redigida logo antes do seu martírio, em 67 d.C., mais provavelmente em Roma.21
Em The Bible Knowledge Commentary, Kenneth Gangel escreve:
No século quarto, a autoria petrina de 2 Pedro era fortemente defendida. Dois dos grandes teólogos da Igreja primitiva, Atanásio e Agostinho, consideravam 2 Pedro canónica. O Concílio de Laodiceia (372 d.C.) incluiu a epístola no cânone da Escritura. Jerónimo colocou 2 Pedro na Vulgata Latina (cerca de 404 d.C.). Adicionalmente, o grande terceiro Concílio de Cartago (397 d.C.) reconheceu a autoridade intrínseca e valor de 2 Pedro, afirmando formalmente que fora redigida pelo apóstolo Pedro.
Embora 2 Pedro seja o livro menos confirmado do Novo Testamento, o seu apoio externo ultrapassa de longe o de muitos outros livros bíblicos. A ausência de tradição eclesial antiga de suporte a 2 Pedro poderá certamente ser devida ao carácter breve da carta e à falta de comunicação entre cristãos durante tempos de perseguição intensa. Consequentemente, o silêncio do segundo século e a prudência do terceiro não colocam nenhum problema intransponível à erudição cuidadosa dos concílios canónicos do quarto século.22
Esta epístola é intitulada Petrou B, “Segunda de Pedro”, de modo a distingui-la da primeira carta escrita por Pedro.
Esta é a segunda de duas cartas que Pedro escreveu a este grupo de crentes (veja 3:1) como uma espécie de testamento final, aviso e carta dos “últimos tempos” (1:14; 2:1 ss; 3:3), redigida no final da carreira do apóstolo (1:12-14). Escrevia a cristãos de fé preciosa, indubitavelmente a igrejas judias e gentias de “Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia” (1 Pedro 1:1).
Como uma espécie de carta de despedida, advertindo contra nuvens perigosas no horizonte, Pedro escreveu-a no final da sua carreira. De acordo com Eusébio, historiador da Igreja primitiva, Pedro foi martirizado durante as perseguições de Nero (por volta de 67–68 d.C.). É mais provável que a carta tenha sido redigida num desses anos.
Tal como o apóstolo Paulo advertia contra os perigos iminentes da apostasia nos últimos anos da sua vida e ministério (2 Timóteo), assim também Pedro advertia contra os perigos em permanente ascensão de falsos doutores, preditos pelos profetas, pelo Senhor e pelos Seus apóstolos (2:1; 3:1-3). O propósito desta carta breve encontra-se neste mesmo assunto, nesta ascensão de falsos doutores. Portanto, o propósito consiste em advertir contra estes perigos, com os quais a Igreja se depara.
Dado que Deus providenciou tudo o que é necessário para a vida e piedade (1:3), 2 Pedro é um apelo apaixonado para que o seu público cresça e amadureça em Cristo, para que não seja ocioso nem infrutuoso (1:8) e, com isto, como um alicerce, se guarde contra a corrente em ascensão de falsos doutores. Tal foi precipitado pelo facto de Pedro saber que o seu tempo na terra seria breve (1:13-15) e que o corpo de Cristo enfrentava perigo imediato (2:1-3). Assim, Pedro desejava refrescar as memórias deles e estimular o seu raciocínio (1:13; 3:1-2), de modo a que pudessem conservar, com firmeza, o seu ensinamento em mente (1:15). Para fazer isto, descreveu cuidadosamente qual deveria ser o aspecto dos crentes maduros, encorajando-os a crescer em graça e conhecimento do Salvador (confira 1:2-11; 3:18). Como apoio adicional para lidar com falsos doutores, recordou-lhes a natureza da Palavra de Deus enquanto seu alicerce seguro (1:12-21), avisando-os depois dos perigos iminentes dos falsos doutores, os quais também descreveu cuidadosamente, em conjunto com o seu julgamento certo (capítulo 2). Finalmente, encorajou os seus leitores com a certeza do regresso de Cristo (3:1-16). Com esta ênfase final no retorno do Senhor, Pedro deixou um último desafio. “Pelo que, amados, aguardando estas coisas, procurai que dele sejais achados imaculados e irrepreensíveis, em paz; vós, portanto, amados, sabendo isto de antemão, guardai-vos de que, pelo engano dos homens abomináveis, sejais juntamente arrebatados, e descaiais da vossa firmeza; antes, crescei na graça e conhecimento do nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. A ele seja dada a glória, assim agora, como no dia da eternidade!” (3:14, 17-18).
A palavra ou conceito-chave de 2 Pedro é o de advertir contra os falsos profetas ou doutores e escarnecedores com palavras falsas (2:1-3; 3:3).
O capítulo 1 é o capítulo-chave de 2 Pedro, pois nele somos presenteados com uma das mais claras passagens acerca da natureza da inspiração da Bíblia. Enquanto 2 Timóteo 3:16 declara claramente o facto da inspiração, 2 Pedro 1:19-21 descreve o “como” da inspiração, e ainda mais. Mostra-nos que (1) a Escritura é absolutamente confiável, uma palavra segura de profecia, (2) que nenhuma profecia da Escritura surge a partir da própria imaginação do profeta, isto é, este não a originou, mas, em vez disso, (3) o Próprio Espírito Santo é a origem da Escritura, assegurando a sua exactidão. Veja a nota de rodapé retirada da Bíblia NET.23
Pedro fala de Cristo como fonte de vida e piedade e, mantendo o foco, refere-se a Cristo como “Senhor e Salvador” quatro vezes, mencionando-O catorze vezes como “Senhor”. Adicionalmente, faz referência à gloriosa transfiguração na montanha santa e aguarda a segunda vinda do Salvador, ou parousia. Nesse momento, todo o mundo verá aquilo que Pedro e outros dois discípulos tiveram o privilégio de observar nessa montanha santa.
I. Saudações (1:1-2)
II. O Desenvolvimento ou Cultivo de um Carácter Cristão (1:3-21)
A. O Crescimento da Fé (1:3-11)
B. Os Fundamentos da Fé (1:12-21)
III. A Denúncia ou Condenação dos Falsos Doutores (2:1-22)
A. Seu Perigo e Conduta (2:1-3)
B. Sua Destruição e Condenação (2:4-9)
C. Sua Descrição e Características (2:10-22)
IV. O Plano e Confiança para o Futuro (3:1-18)
A. O Escárnio dos Falsos Doutores (3:1-7)
B. A Demora do Dia do Senhor (3:8-9)
C. A Dissolução Após o Dia do Senhor (3:10-13)
D. A Diligência Necessária em Vista dos Perigos (3:14-18)
Embora o nome do autor não se encontre na carta, tem sido tradicionalmente atribuída ao apóstolo João. Diversas referências por parte de escritores cristãos antigos, incluindo Ireneu, Clemente de Alexandria e Tertuliano, falavam de João como autor desta epístola. Da perspectiva de evidência interna, existem algumas diferenças estilísticas em relação ao evangelho de João, mas estas podem ser atribuídas às diferenças entre uma epístola e um evangelho. Para além disso, existem muitas similaridades sob a forma de palavras-chave (habitar ou permanecer) ou imagens contrastantes, tais como justiça e pecado, luz e trevas, vida e morte, amor e ódio, verdade e engano. Adicionalmente, o escritor foi uma das testemunhas originais do Salvador, conhecendo-O intimamente (1:1-5). Assim, há muitas expressões e frases similares: compare 1 João1:1 com João 1:1, 14; 1:4 com João 16:24; 1:6-7 com João 3:19-21; e 4:9 com João 1:14, 18; 3:36. Não existem boas razões para que este livro não seja atribuído ao apóstolo João.
Embora seja geralmente aceite que a mesma pessoa escreveu o evangelho de João e estas três epístolas, alguns acham que os textos não foram redigidos (ao contrário do que é tradicionalmente defendido) pelo apóstolo João, filho de Zebedeu, mas sim por outro João (o ancião ou presbítero, 2 João 1; 3 João 1). Argumenta-se que (1) um homem sem estudos (Actos 4:13) não poderia ter escrito algo tão profundo como este evangelho; (2) o filho de um pescador não conheceria o sumo sacerdote como o apóstolo João; e (3) um apóstolo não chamaria a si mesmo “ancião”. Porém, “sem estudos” não significava iletrado, mas somente sem treino formal nas escolas rabínicas; alguns pescadores eram abastados (confira Marcos 1:20); e Pedro, embora apóstolo, chamava a si mesmo “ancião” (1 Pedro 5:1). Para além disso, se João, o ancião, é o “discípulo predilecto” e autor do evangelho, porque não mencionou nesse evangelho João, filho de Zebedeu, uma figura importante na vida de Cristo? Toda a evidência aponta para que o ancião João seja a mesma pessoa que o apóstolo João, autor desta carta.24
Ao longo de toda a epístola, existem versículos indicativos de que João estava a escrever para fiéis (2:1, 12-14, 19; 3:1; 5:13), mas João não indica em nenhum local quem eram ou onde viviam. Este facto pode sugerir que se tratava de uma carta circular, a ser trocada entre várias igrejas, talvez em torno da cidade de Éfeso, já que escritores cristãos antigos colocavam João em Éfeso durante os últimos anos da sua vida.
O uso confirmado mais antigo de 1 João ocorreu na província da Ásia (actual Turquia), onde se localizava Éfeso. Clemente de Alexandria indica que João serviu em diversas igrejas, dispersas por essa província. Pode assumir-se, portanto, que 1 João foi enviada às igrejas da província da Ásia.25
É difícil datar com precisão esta e as restantes epístolas de João mas, uma vez que muitos dos temas e palavras são tão similares ao evangelho de João, é razoável assumir que foi escrita após o evangelho. Foi indubitavelmente redigida após o evangelho, mas antes das perseguições de Domiciano, em 95 d.C.. Por conseguinte, uma data razoável situa-se algures entre 85-90 d.C..
O tema do livro é comunhão com Deus através do Senhor Jesus (1:3-7). Em vista da heresia que estes crentes enfrentavam, quiçá uma forma primitiva de gnosticismo, João escreveu para definir a natureza da comunhão com Deus, que descreve como luz, amor e vida. Deus É luz (1:5), Deus É amor (4:8, 16) e Deus É vida (veja 1:1-2; 5:11-13). Assim, andar em comunhão com Deus significa caminhar na luz que conduz à experiência da Sua vida, amor pelos outros e justiça. O livro, portanto, fornece um conjunto de testes ou provas de comunhão, embora alguns os vejam como testes de salvação. Porém, de acordo com o tema, o ensinamento dos falsos doutores e a natureza crente do seu público, é melhor vê-los como testes ou provas de comunhão, testes relativos a permanecer e conhecer o Salvador numa relação íntima, na qual se experiencia a vida transformadora do Salvador nos crentes.
É difícil determinar a estrutura exacta da heresia com que estes cristãos se deparavam mas, de acordo com o conteúdo de 1 João, envolveria a negação da realidade da encarnação e a afirmação de que o comportamento pecaminoso não impediria a comunhão com Deus. Por conseguinte, João escreveu para os seus “filhinhos” (2:1, 18, 28; 3:7, 18; 5:21) devido a, pelo menos, cinco razões: (1) para promover a verdadeira comunhão (1:3 ss), (2) para experimentar a alegria completa (1:4), (3) para promover a santidade através da verdadeira comunhão (1:6-2:2), (4) para prevenir e guardar contra a heresia (2:18-27), e (5) para dar garantias (5:11-13).
O termo-chave é comunhão, conforme expressado nos termos comunhão (1:3, 6, 7), permanecer, permanece, etc. (2:6, 10, 14, 17, 27, 28; 3:6, 9, 14, 15, 17, 24; 4:12, 13, 15, 16). Outras palavras-chave são justo, justiça, luz, trevas, pecado e transgressão.
Certamente, uma das passagens-chave em 1 João, e até mesmo no Novo Testamento, é o capítulo 1, graças à sua verdade a respeito do pecado, mesmo na vida do cristão. Andar na luz significa reconhecer honestamente o problema do pecado. Mais do que negar o pecado, este capítulo mostra-nos a necessidade de confessar o princípio do pecado (1:8), os pecados particulares ou pessoais (1:9) e a prática do pecado (1:10).
O livro foca-se no actual ministério do Salvador na vida dos crentes, antecipando a Sua nova vinda. O Seu sangue limpa continuamente o crente de todo o pecado (1:7), bem como dos pecados pessoais e de toda a iniquidade, mediante a confissão do pecado (1:9). De facto, declara que Cristo é o nosso justo Intercessor diante do Pai (2:1), bem como a propiciação ou sacrifício expiatório, não só para os crentes, mas para todo o mundo (2:2); que Jesus é o Cristo que encarnou (2:22; 4:2-3); que veio pela água e pelo sangue, referência ao Seu baptismo e à cruz (5:6); e que virá novamente, altura em que O veremos e seremos como Ele (2:28-3:3).
I. Introdução e Propósito da Carta (1:1-4)
II. Condições Essenciais para a Comunhão (1:5-2:2)
A. Andar na Luz (1:5-7)
B. Confissão do Pecado (1:8-2:2)
III. Conduta Consistente Com a Comunhão (2:3-27)
A. O Carácter da Comunhão – Ser Como Cristo (2:3-11)
B. O Mandamento da Comunhão – Não Amar o Mundo (2:12-17)
C. As Precauções para a Comunhão – Guardar-se Contra o Anticristo (2:18-27)
IV. Características da Comunhão (2:28-5:3)
A. Pureza em Vista da Nossa Perspectiva (2:28-3:3)
B. Prática da Justiça em Vista da Morte de Cristo (3:4-24)
C. Provar (Testar) os Espíritos (4:1-6)
D. Modelo da Comunhão, Amar como Cristo Amou (4:7-5:3)
V. Consequências da Comunhão (5:4-21)
A. Vitória Sobre o Mundo (5:4-5)
B. Verificação das Credenciais de Cristo (5:6-12)
C. Verificação (Confiança) da Salvação do Crente (5:13)
D. Verificação da Oração Respondida (5:14-17)
E. Vitória sobre o Pecado Habitual (5:18-21)
Embora não seja declarado, o autor é indubitavelmente o apóstolo João. Refere-se simplesmente a si mesmo como “o ancião” (presbuteros, “ancião, velho”), o que vai de encontro à relutância do autor do Evangelho de João e de 1 João quanto a identificar-se. Esta é a mesma auto-designação usada pelo autor de 3 João. O facto de se identificar tão simplesmente como “o ancião” sugere que seria bem conhecido e aceite por aqueles a quem escrevia. Tratava-se de um título oficial para o cargo de um ancião, mas talvez seja mais provável que o estivesse a usar sob a forma de designação carinhosa, através da qual era bem conhecido pelos seus leitores.
As parecenças estilísticas entre esta epístola, 1 João e o Evangelho de João sugerem que os três livros foram escritos pela mesma pessoa. Um conjunto de passagens mostra as similaridades: compare 2 João 5 com 1 João 2:7 e João 13:34-35; 2 João 6 com 1 João 5:3 e João 14:23; 2 João 7 com 1 João 4:2-3; e 2 João 12 com 1 João 1:4 e João 15:11.
Embora João pudesse enviar uma carta pessoal mais curta, parecida com uma carta mais longa que escrevera previamente, é pouco provável que um falsificador tentasse produzir um documento tão curto, que acrescentasse tão pouco ao que se encontrava em 1 João. Para além disso, uma falsificação posterior de 2 João (ou 3 João) tê-la-ia despojado da sua autoridade sobre os leitores, uma vez que os conteúdos de 2 e 3 João indicam que conheciam pessoalmente o autor.26
Uma vez que o livro tem sido tradicionalmente associado ao apóstolo João como autor, tem sido intitulado no texto grego Ioannou B, Segunda de João.
A carta é dirigida “à Senhora eleita e a seus filhos” (v. 1; confira vv. 4-5).
Esta frase pode referir-se a um indivíduo ou a uma igreja (ou à Igreja em geral). Alguns têm sugerido que o destinatário é uma mulher cristã chamada “Electa” mas, no versículo 13, a mesma palavra é claramente um adjectivo, não um nome próprio. Outros consideram que a carta se dirige a uma senhora cristã chamada “Kyria” (explicação primeiramente proposta por Atanásio) ou a uma cristã anónima. Porém, a evidência interna de 2 João apoia claramente uma referência colectiva. No versículo 6, o destinatário é mencionado usando a segunda pessoa do plural, o que se repete nos versículos 8, 10 e 12. O singular só reaparece no versículo 13. É mais provável que as utilizações nos versículos 1 e 13 sejam colectivas. Alguns têm considerado uma referência à Igreja em geral, mas o versículo 13, referindo-se aos “filhos da tua irmã, a escolhida”, é difícil de compreender tendo a Igreja universal em mente. Assim, a explicação mais provável é a de que a “Senhora eleita” consiste numa igreja local particular, a alguma distância da localização do autor.
sn 2 João foi escrita para advertir uma igreja “irmã”, a alguma distância, referida como uma senhora eleita, relativamente aos esforços missionários dos falsos doutores separatistas (discutidos em 1 João) e aos perigos de os receberem quando chegassem.27
É difícil datar a carta, mas as circunstâncias e temas sugerem que terá sido escrita por volta da mesma altura de 1 João (85-90 d.C.). As parecenças acima mencionadas também são indicativas disso (veja a discussão da data em 1 João).
O tema de 2 João é a preocupação do apóstolo em relação a que os seus leitores continuassem a andar na verdade da doutrina apostólica e de acordo com os mandamentos (vv. 4-6). Uma vez que “muitos enganadores entraram no mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne” (v. 7), João escrevia para os proteger do engano perverso daqueles que se recusavam a permanecer no ensinamento de Cristo, mas que corriam além e para longe da verdade (v.9). Nesta linha de pensamento, vêem-se vários propósitos: (1) Escreveu para impedir que os seus leitores perdessem as coisas pelas quais haviam trabalhado juntos, incluindo uma recompensa plena (v.8), e (2) para lhes proporcionar instruções claras contra receberem esses falsos doutores nas suas casas ou igrejas, dando-lhes uma recepção cristã. Indubitavelmente, tal referia-se a reconhecê-los como doutores da verdade nas suas igrejas locais. João não estava a dizer-lhes para serem mal-educados ou se recusarem a dar-lhes testemunho.
As palavras-chave são “verdade” (nove ocorrências) e “mandamento” (14 vezes).
Uma vez que só existe um capítulo em 2 João, esta secção não é aplicável.
Uma vez mais, tal como em 1 João, 2 João preocupa-se com a protecção da doutrina bíblica da encarnação. O autor escreveu para refutar o erro que nega que Jesus Cristo tenha vindo em carne. De facto, a afirmação no versículo 7, a respeito da negação de que “Jesus Cristo veio em carne”, pode até referir-se à encarnação num sentido triplo. Em contraste com 1 João 4:2, onde usou o particípio perfeito, “veio em carne” (ele„luthota), João utiliza aqui o particípio presente (erchomenon), “está vindo” ou “vem em carne”. Uma vez que o particípio presente pode apenas enfatizar os resultados, sendo por vezes traduzido como presente, pode não existir aqui nenhuma distinção, mas talvez João quisesse alargar o foco para a relevância da encarnação.
Este particípio presente parece incluir a anterior vinda de Cristo em carne aquando da Encarnação, a continuação actual da Sua humanidade erguida, bem como a Sua futura vinda à terra. Em contraste, o particípio perfeito em 1 João 4:2 enfatiza somente a Sua encarnação.28
I. Prólogo e Saudação (1:1-3)
II. Elogio por Andar na Verdade (1:4)
III. Mandamento para Que Continuem a Amar-se Uns aos Outros (1:5-6)
IV. Precauções e Instruções Contra os Falsos Doutores (1:7-11)
V. Comentários Conclusivos e Saudações Finais (1:12-13)
Tal como acontece com 1 e 2 João, o apóstolo João é o autor desta epístola. Quer em 2, quer em 3 João, o autor identifica-se como “o ancião”. Adicionalmente, repare nas semelhanças encontradas em ambas as epístolas: “amo na verdade” (v.1 de ambas as cartas) e “andam na verdade” (v.4 de ambas as cartas). O estilo de ambas as epístolas é claramente o mesmo, e os esforços no sentido de negar que João seja o autor das três epístolas não possuem apoio ou evidência real.
A antiga opinião de que o Apóstolo João escreveu esta carta, bem como as outras duas, pode ser prontamente aceite. Em virtude dos laços estilísticos claros, os argumentos que apoiam a autoria apostólica de 1 João estendem-se a esta pequena epístola. Além disso, a autoridade auto-confiante do escritor de 3 João (confira v. 10) também beneficia a ideia de um apóstolo.29
Esta é claramente a carta mais pessoal de João. É dirigida a um homem que João denomina “caríssimo Gaio” (v. 1), a respeito de problemas eclesiásticos que Gaio enfrentava. Para lá da simples descrição acima referida, o destinatário não recebe uma identificação adicional, sugerindo que seria bem conhecido nas igrejas da Ásia Menor, onde João serviu nos últimos anos da sua vida. Gaio é um nome familiar no Novo Testamento. Aparece em Romanos 16:23 (Gaio de Corinto), Actos 19:29 (Gaio de Macedónia) e Actos 20:4 (Gaio de Derbe).
Uma vez mais, as semelhanças entre 1 e 2 João sugerem uma data similar, algures entre 85-90 d.C..
João escreveu a Gaio a respeito da questão de hospitalidade e apoio físico prestados a trabalhadores cristãos itinerantes (missionários), especialmente estrangeiros. O tema centra-se em torno do contraste entre o ministério de Gaio e sua generosa demonstração de amor cristão, enquanto alguém que anda na verdade, e o comportamento egoísta de Diótrefes que, em vez de andar na verdade, rejeitava o que João dissera e procurava preeminência pessoal (v. 9).
Vários propósitos distintos emergem nesta epístola: (1) elogiar Gaio (vv. 1-6a), (2) instruir e encorajar a continuação do seu apoio aos trabalhadores cristãos que João evidentemente enviara (vv. 6b-8), (3) admoestar Diótrefes pelo seu comportamento auto-centrado (vv. 9-11), (4) fornecer instrução para Demétrio (v. 12) e (5) informar Gaio a respeito do desejo e intenção de João quanto a visitá-lo e lidar com as dificuldades (vv. 10a, 13-14).
Embora nenhuma palavra se destaque por via da repetição como em 2 João, a ideia-chave é ministério fiel de serviço altruísta aos outros, enquanto trabalhadores companheiros na verdade (vv. 5-8).
Tal como em 2 João, esta secção não se aplica, pois existe apenas um capítulo.
Embora o nome de Jesus Cristo não seja mencionado directamente, é-Lhe feita uma referência na afirmação “Pois por amor do seu nome partiram”. Indubitavelmente, trata-se de uma referência ao ministério em nome do Senhor Jesus (veja Actos 5:40-41, onde encontramos uma construção idêntica do grego no v. 41). Paulo usa uma frase similar em Romanos 1:5 e, em 1 João 2:12, o autor escreveu “pelo Seu nome (Jesus) vos são perdoados os pecados”. O Evangelho de João também faz referência a crer “no nome de Jesus” (João 1:12, 3:18).
I. Saudação ou Introdução (1)
II. Elogio de Gaio (2-8)
A. A Sua Piedade (2-4)
B. A Sua Generosidade (5-8)
III. Condenação de Diótrefes (9-11)
A. A Sua Ambição Egoísta (9)
B. As Suas Actividades Egoístas (10-11)
IV. Elogio de Demétrio (12)
V. Comentários Conclusivos (13-14)
O autor identifica-se como Judas (v. 1). Em grego, é literalmente Judas. Tradicionalmente, as versões inglesas têm usado Jude, de modo a distingui-lo do Judas que traiu Jesus. Além disso, identifica-se como irmão de Tiago e servo (grego, doulos) de Jesus Cristo. Judas é listado como meio-irmão de Jesus em Mt. 13:55 e Marcos 6:3. A Bíblia NET traz uma nota útil sobre isso:
Embora Judas fosse meio-irmão de Jesus, associou-se humildemente a Tiago, seu irmão de mãe e pai. Começando por chamar a si mesmo servo de Jesus Cristo, torna-se evidente que não desejava que alguém valorizasse em excesso as suas ligações físicas. Em simultâneo, precisa de se identificar ainda mais: uma vez que Judas era um nome comum no primeiro século (dois dos discípulos de Jesus eram assim chamados, incluindo aquele que O traiu), era necessária mais informação, daí dizer irmão de Tiago.30
No texto grego, o título é Iouda, uma forma indeclinável usada para o hebreu Judah e para o grego Judas.
Judas não parece escrever para nenhum grupo específico de pessoas. Em vez disso, a carta é simplesmente endereçada “aos chamados, queridos em Deus Pai, e conservados por Jesus Cristo” (v. 1), dirigindo-se a eles mais tarde por “amados” ou “caríssimos” (v. 3).
Embora o assunto seja muito similar ao de 2 Pedro, uma das principais diferenças entre Judas e 2 Pedro reside no facto de que, enquanto Pedro alertou que “haverá falsos doutores” (2:1), Judas afirma que “certos homens infiltraram-se dissimuladamente no meio de vocês” (v. 4). Uma vez que 2 Pedro antecipa o problema e Judas fala do mesmo como actual, Judas foi aparentemente redigida algum tempo após 2 Pedro. Se 2 Pedro é datada por volta de 66 d.C., então Judas poderá ser colocada por volta de 70-80 d.C..
Judas tencionava escrever acerca da salvação comum mas, devido aos avanços da heresia e ao perigo que ameaçava a Igreja, viu-se obrigado a escrever para encorajar os crentes a batalhar seriamente pela fé e contra os falsos ensinamentos, que estavam a ser secretamente introduzidos nas igrejas. Evidentemente, estavam a ser feitos avanços definitivos por parte de uma forma incipiente de Gnosticismo – não ascética, como aquela que Paulo atacara em Colossenses, mas uma forma antinomiana.
Os gnósticos consideravam perversas todas as coisas materiais e boas todas as coisas espirituais. Assim, cultivavam as suas vidas “espirituais” e permitiam que a sua carne fizesse tudo o que desejasse, tendo como consequência tornarem-se culpados de todos os tipos de pecado.31
A partir disto, podem ser vistos dois propósitos principais em Judas: (1) Condenar as práticas dos libertinos pecaminosos que infestavam as igrejas e corrompiam os crentes, e (2) aconselhar os crentes a permanecerem firmes, continuando a crescer na fé enquanto batalhavam pela verdade apostólica que havia sido dada à igreja.
A ideia ou palavra-chave é “batalhar pela fé”.
Tal como em 2 e 3 João, dado que este livro tem um só capítulo, esta secção não é aplicável.
Judas foca a nossa atenção na segurança do crente em Cristo (v. 24), na vida eterna que Ele dá (v. 21) e na certeza de que virá novamente (v. 21). É Jesus Cristo, nosso Senhor, quem nos confere acesso à presença de Deus (v. 25).
I. Saudações e Propósito (1-4)
II. Descrição e Denúncia dos Falsos Doutores (5-16)
A. O Seu Juízo Passado (5-7)
B. As Suas Características Presentes (8-13)
C. O Seu Juízo Futuro (14-16)
III. Apologia e Exortação aos Crentes (17-23)
IV. Bênção (24-25)
©2018. Artigo original por J. Hampton Keathley III, Th.M.
Tradução de C. Oliveira
J. Hampton Keathley III, Th.M., licenciou-se em 1966 no Seminário Teológico de Dallas, trabalhando como pastor durante 28 anos. Em Agosto de 2001, foi-lhe diagnosticado cancro do pulmão e, no dia 29 de Agosto de 2002, partiu para casa, para junto do Senhor.
Hampton escreveu diversos artigos para a Fundação de Estudos Bíblicos (Biblical Studies Foundation), ensinando ocasionalmente Grego do Novo Testamento no Instituto Bíblico Moody, Extensão Noroeste para Estudos Externos, em Spokane, Washington.
1 Thiessen, p. 271.
2 Wilkinson/Boa, p. 450.
3 Ryrie, p. 1943.
4 Wilkinson/Boa, p. 454.
5 Walvoord/Zuck, versão electrónica.
6 Nota de Tradução – no inglês original, “James of God … to the twelve tribes.” Na ausência de uma versão bíblica portuguesa com sentido similar, o tradutor optou por uma tradução livre do versículo.
7 Nota de Tradução – no inglês original, “From James, a bond-servant of God … to the twelve tribes". Não estando a bíblia NET disponível em português, o tradutor optou por uma tradução livre do versículo.
8 Ryrie, p. 1966.
9 Nota de Tradução – No inglês original, "James, Jake and Jacob".
10 Zane Hodges, The Epistle of James: Proven Character Through Testing, Grace Evangelical Society, Irving, TX, 1994, p. 15.
11 Wilkinson/Boa, p. 465.
12 Walvoord/Zuck, versão electrónica.
13 Wilkinson/Boa, p. 465.
14 Walvoord/Zuck, versão electrónica.
15 Ryrie, p. 1966.
16 Escolhi utilizar aqui o plano geral de Ron Blue, retirado de The Bible Knowledge Commentary. Trata-se de um dos planos gerais do livro de Tiago mais exactos e inovadores que já vi. Ron foi um colega de turma no Seminário de Dallas, sendo isto típico do seu excelente trabalho.
17 The NIV Study Bible Notes, Biblioteca Electrónica Zondervan NIV.
18 Walvoord/Zuck, versão electrónica.
19 Nota de Rodapé proveniente de Bíblia NET, The Biblical Studies Press.
20 Walvoord/Zuck, versão electrónica.
21 Ryrie, p. 1984.
22 Walvoord/Zuck, versão electrónica.
23 tn O versículo 20 é interpretado de várias formas. Existem aqui três termos-chave que ajudam a decidir quanto à interpretação e tradução. De igual modo, a relação com o versículo 21 informa relativamente ao significado deste versículo. (1) O termo "provém" (givnetai [ginetai]) é frequentemente traduzido por "é um assunto", tal como em "é um assunto de interpretação própria". Mas a força progressiva deste verbo é muito mais comum. (2) O adjectivo ijdiva (idias) tem sido entendido como significando (a) do próprio indivíduo (isto é, do próprio leitor), (b) próprio de algo (isto é, próprio da profecia específica) ou (c) próprio do profeta. Os estudiosos católicos tendem a ver uma referência ao leitor (no sentido de que nenhum leitor individual pode compreender a escritura, mas precisa da interpretação disponibilizada pela Igreja), enquanto estudiosos protestantes mais antigos tendem a ver uma referência à passagem individual a ser profetizada (daí a doutrina da Reforma da analogia fidei [analogia da fé], ou da escritura interpretando a escritura). Mas nenhuma destas perspectivas se refere de modo satisfatório à relação entre os versículos 20 e 21, nem faz plena justiça ao significado de givnetai. (3) O significado de ejpivlusi (epilusis) é difícil de determinar, uma vez que é um hapax legomenon bíblico. Embora no grego extra-bíblico seja por vezes utilizado no sentido de interpretação, este não é de modo algum um significado necessário. A ideia básica da palavra é desprender, o que pode indicar uma explicação ou uma criação. Por vezes, tem o sentido de solução, ou mesmo de encantamento, podendo ambos os significados facilmente acomodar algum tipo de declaração profética. Para além disso, até mesmo o sentido de explicação ou interpretação se adequa com facilidade a uma profecia, uma vez que, frequentemente – se não mesmo usualmente –, os profetas explicavam visões e sonhos. Não existe qualquer exemplo no qual esta palavra se refira à interpretação da escritura; contudo, ao sugerirmos que interpretação é o significado, trata-se da interpretação que o profeta faz da sua própria visão. (4) No início do versículo 21, gavr (gar) proporciona a base para a verdade da proposição no versículo 20. A ligação que faz mais sentido é que os profetas não inventaram as suas próprias profecias (v. 20), uma vez que o impulso para profetizar veio de Deus (v. 21).
sn Jamais a profecia teve origem na vontade humana, 2 Pd.1:20-21, forma, assim, um inclusio com o versículo 16: a fé e esperança cristãs não se baseiam em fábulas engendradas com esperteza, mas sim na Palavra segura de Deus – proferida pelos profetas, inspirados pelo Espírito de Deus. A ideia de Pedro é a mesma que se encontra em outras partes do Novo Testamento, isto é, que os profetas humanos não originaram a mensagem, mas que a transmitiram, usando para isso as suas próprias personalidades.
24 Ryrie, p. 1990.
25 NIV Study Bible, Biblioteca electrónica.
26 Craig S. Keener, The IVP Bible Background Commentary: New Testament, InterVarsity, Downers Grove, 1997, c 1993, versão electrónica, Logos Library System.
27 Nota de Tradução, The NET Bible, The Biblical Studies Press, 1998, versão electrónica, Logos Library System.
28 Ryrie, p. 2000.
29 Walvoord/Zuck, versão electrónica.
30 NET Bible, versão electrónica.
31 Ryrie, p. 2005.
Com o livro da Revelação, temos a conclusão e consumação da Bíblia enquanto revelação de Deus ao homem. Do mesmo modo que Génesis é o livro dos primórdios, Revelação é o livro da consumação, antecipando os eventos do fim dos tempos, o regresso do Senhor, o Seu reinado final e o estado eterno. Ao avançar-se na Bíblia, vai sendo introduzido e desenvolvido um conjunto de grandes temas, começando com Génesis e ideias como o céu e a terra; o pecado, sua maldição e a tristeza; o homem e sua salvação; Satanás, sua queda e condenação; Israel, sua eleição, bênção e disciplina; as nações, Babilónia e o babilonianismo; os reinos e o Reino. Porém, em última análise, todos estes encontram o seu cumprimento e resolução no Livro da Revelação. Os evangelhos e as epístolas começam a unir estes pontos, mas é apenas quando chegamos a Revelação que todos convergem numa grande consumação. Podemos esquematizar isto como se segue:
De acordo com o próprio livro, o nome do autor era João (1:4, 9; 22:8). Era um profeta (22:9) e líder, conhecido nas igrejas da Ásia Menor, a quem escreveu o livro da Revelação (1:4).
Tradicionalmente, este João tem sido identificado como o Apóstolo João, um dos discípulos de Nosso Senhor. A diferença de estilo relativamente ao Evangelho de João deve-se apenas à diferença na natureza deste livro, enquanto literatura apocalíptica.
Um pai da Igreja primitiva, Ireneu, afirma que João se instalou primeiro em Éfeso, sendo mais tarde preso e banido para a Ilha de Patmos, no Mar Egeu, para trabalhar nas minas, e que tal ocorreu durante o reinado do imperador romano Domiciano. Isto apoia a declaração do próprio autor quanto a escrever a partir de Patmos por causa do seu testemunho de Cristo (1:9).
Domiciano reinou em Roma de 81 a 96 d.C.. Uma vez que Ireneu nos diz que João escreveu a partir de Patmos durante o reinado de Domiciano, e dado que tal é confirmado por outros escritores da Igreja primitiva, tais como Clemente de Alexandria e Eusébio, a maioria dos estudiosos conservadores acredita que o livro foi redigido entre 81-96 d.C.. Tal faria dele o último livro do Novo Testamento, logo após o Evangelho de João e suas epístolas (1, 2 e 3 João). Outros estudiosos conservadores crêem que foi escrito muito antes, por volta de 68, ou antes da destruição de Jerusalém.
A compreensão que se faz do tema depende, em certo grau, do método de interpretação de Revelação (confira abaixo). Segundo a perspectiva futurista de interpretação, o tema proeminente do livro diz respeito ao conflito com o mal, sob a forma de personalidades humanas energizadas por Satanás e respectivo sistema mundial, bem como à vitória triunfante do Senhor, que derrubará estes inimigos de modo a estabelecer o Seu reino, tanto no Milénio (os 1,000 anos de Revelação 20) como na eternidade.
Tal é conseguido levando o leitor e os ouvintes (1:3) aos bastidores, através das visões dadas a João, de modo a demonstrar a natureza demoníaca e a fonte do mal terrível que existe no mundo. Porém, Revelação demonstra ainda o poder conquistador que repousa no Leão da tribo de Judá, a Raiz de David. Este Leão é também o Cordeiro de pé, como que imolado, mas vivo, zangado, trazendo o julgamento da imponente santidade de Deus contra um mundo rebelde e pecaminoso.
Contudo, no estudo deste livro, a verdadeira questão é a forma como a pessoa o interpreta. Ryrie sintetiza as quatro perspectivas principais quanto à interpretação de Revelação, escrevendo:
Existem quatro pontos de vista principais a respeito da interpretação deste livro: (1) preterista, que olha as profecias do livro como já cumpridas durante a história antiga da Igreja; (2) histórica, que entende o livro como retratando o panorama da história da Igreja, desde os dias de João até ao fim dos tempos; (3) idealista, que considera o livro como sendo uma revelação ilustrada de grandes princípios em conflito constante, sem referência a eventos concretos; e (4) futurista, vendo a maioria do livro (Rv. 4-22) como uma profecia a aguardar cumprimento. A perspectiva futurista é a que se utiliza nestas notas, com base no princípio de interpretação literal do texto.1
Para mais acerca da interpretação deste livro e sua importância, consulte Studies in Revelation, disponível no website da Biblical Studies Foundation em www.bible.org.
Independentemente do método de interpretação, a maioria reconhece que foi redigido para assegurar os destinatários acerca do derradeiro triunfo de Cristo sobre todos os que se levantam contra Ele e o Seu povo.
Conforme declarado no título do livro, e uma vez que o mesmo revela a pessoa e obra de Cristo no Seu serviço à Igreja actual (capítulos 1-3) e futura (4-22), a palavra ou conceito-chave é a Revelação de Jesus Cristo.
Decidir quais os capítulos-chave num livro como Revelação não é fácil, mas os capítulos 2-3, contendo as mensagens de promessas e avisos enviadas às sete igrejas, são certamente capítulos-chave. Adicionalmente, os capítulos 4-5, que preparam o leitor para o grande conflito revelado nos capítulos que se seguem, são também fundamentais. Neles vemos como apenas o Senhor Jesus, o Leão e o Cordeiro, é digno de abrir o livro dos selos, derramando o seu conteúdo sobre a terra. Por fim, os capítulos 19-22 são importantes na medida em que nos apresentam o fim da história, radicalmente diferente daquilo que vemos hoje em dia.
...Em Revelação 19-22, os planos de Deus para os últimos dias e para toda a eternidade são registados com termos explícitos. O estudo cuidadoso e a obediência aos mesmos trarão as bênçãos prometidas (1:3). As palavras de Jesus, "Eis que venho cedo", deverão ser guardadas no lugar mais alto da mente e no fundo do coração.2
Dado os papeis que desempenham, há um conjunto de intervenientes-chave neste livro. Tais são, antes de tudo, o Senhor Jesus, seguido de João, o autor, e também as duas testemunhas, a besta que sai do mar e o falso profeta. Finalmente, estas personagens formam um grupo importante em conjunto com a esposa que, no capítulo 19, regressa com o Senhor.
Uma vez que Revelação é, de facto, "A Revelação de Jesus Cristo", demonstra a Sua glória, sabedoria e poder (1), retrata a Sua autoridade sobre a Igreja (2-3) e o Seu poder e direito de julgar o mundo (5-19). Enquanto revelação de Cristo, está carregada de títulos descritivos. Em particular, descreve Jesus Cristo (1:1) como a testemunha fiel, o primogénito de entre os mortos, o soberano dos reis da terra (1:5), o primeiro e o último (1:17), aquele que vive (1:18), o Filho de Deus (2:18), santo e verdadeiro (3:7), o Ámen, a Testemunha fiel e verdadeira, o Princípio da criação de Deus (3:14), o Leão da tribo de Judá, o Descendente de David (5:5), um Cordeiro (5:6), Fiel e Verdadeiro (19:11), o Verbo de Deus (19:13), Rei dos reis e Senhor dos senhores (19:16), Alfa e Ómega (22:13), a Estrela Radiosa da Manhã (22:16) e o Senhor Jesus Cristo (22:21).
I. Prólogo (1:1-8)
II. As Coisas Passadas (1:9-20)
III. As Coisas Presentes (2-3)
A. A Mensagem para Éfeso (2:1-7)
B. A Mensagem para Esmirna (2:8-11)
C. A Mensagem para Pérgamo (2:12-17)
D. A Mensagem para Tiatira (2:18-29)
E. A Mensagem para Sardes (3:1-6)
F. A Mensagem para Filadélfia (3:7-13)
G. A Mensagem para Laodiceia (3:14-22)
IV. As Coisas Preditas (4:1-22:5)
A. O Período de Tribulação (4:1-19:21)
1. O Trono no Céu (4:1-11)
2. O Livro Selado com Sete Selos e o Leão Que Também É um Cordeiro (5:1-14)
3. Os Juízos Selados (6:1-17)
4. Interlúdio: Os Redimidos da Tribulação (7:1-17)
5. Os Primeiros Quatro Juízos da Trombeta (8:1-13)
6. A Quinta e Sexta Trombetas e os Primeiros Dois Ais (9:1-20)
7. O Anjo e o Pequeno Livro (10:1-11)
8. O Templo, as Duas Testemunhas e a Sétima Trombeta (11:1-19)
9. O Conflito Angélico (12:1-17)
10. A Besta e o Falso Profeta (13:1-18)
11. Anúncios Especiais (14:1-20)
12. Prelúdio às Últimas Sete Pragas (15:1-8)
13. Os Juízos das Taças (16:1-21)
14. O Juízo da Babilónia Religiosa (17:1-18)
15. O Juízo da Babilónia Comercial (18:1-24)
16. A Segunda Vinda de Cristo (19:1-21)
B. O Reinado de Cristo (Milénio) e o Grande Trono Branco (20:1-15)
1. Satanás Aprisionado (20:1-3)
2. Santos Ressuscitados (20:4-6)
3. Pecadores em Rebelião (20:7-9)
4. Satanás Condenado (20:10)
5. Pecadores Julgados (20:11-15)
C. O Estado Eterno (21:1-22:5)
1. A Descida da Nova Jerusalém (21:1-8)
2. A Descrição da Nova Jerusalém (21:9-27)
3. As Alegrias da Nova Jerusalém (22:1-5)
D. Epílogo (22:6-21)
1 Ryrie, p. 2009.
2 Wilkinson/Boa, p. 513.