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16. O Foco Principal da Fé Professada por Abrão (Gênesis 15:1-21)

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Introdução

No capítulo 15 de Gênesis, chegamos a uma das revelações mais importantes do Antigo Testamento, resumida no versículo seis: “Ele creu no SENHOR, e isso lhe foi imputado para justiça”.

Até este ponto, a fé demonstrada por Abrão tinha sido de caráter mais geral. Ela residia principalmente no chamado de Deus registrado no capítulo 12:

Ora, disse o SENHOR a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra. (Genesis 12:1-3)

Deus, no entanto, raramente permite que a nossa fé continue assim, por isso, enfrentamos tempos de crise, os quais levam nossa fé do abstrato ao concreto, do geral ao particular. E foi assim com Abrão neste capítulo.

Abrão Espera por um Herdeiro (15:1-5)

As palavras de Deus a Abrão1 estão longe de ser as esperadas naquelas circunstâncias: “Não temas, Abrão, eu sou o teu escudo, e teu galardão será sobremodo grande” (Gênesis 12:1).

Por que Abrão temeria? Ele tinha acabado de conquistar uma grande vitória sobre Quedorlaomer e os outros três reis orientais (Gênesis 14:14-15). Devido a isso, sem dúvida, ele tinha recebido considerável reconhecimento, até mesmo do rei pagão de Sodoma (14:17, 21-24). Que tipo de temor poderia assaltar sua fé numa ocasião como essa?

Talvez ele temesse futuras represálias militares por parte de Quedorlaomer e seus aliados. Ele tinha ganho a batalha, mas teria vencido a guerra? A Palavra de Deus, “eu sou o teu escudo”, pode muito bem ter sido intencionada para aquietar o temor de um possível confronto militar.

Mas esta não podia ser sua maior preocupação, especialmente em virtude dos versículos seguintes. Sua vitória não parecia tão doce à luz de uma pergunta que parecia obscurecer tudo o mais: “Que sucesso é bom, sem um sucessor?”.

A confirmação está na resposta de Abrão a Deus: “Respondeu Abrão: SENHOR Deus, que me haverás de dar, se continuo sem filhos e o herdeiro da minha casa é o damasceno Eliézer? Disse mais Abrão: A mim não me concedeste descendência, e um servo nascido na minha casa será o meu herdeiro” (Gênesis 15:23).

No antigo Oriente Próximo havia uma prática reconhecida para garantir um herdeiro, mesmo que um homem não tivesse filhos2. O casal sem filhos adotava um dos servos nascidos em sua casa. Esse “filho” cuidava deles na sua velhice e herdava todos os seus bens e propriedades quando eles morressem. Nessa época de crise na fé, Abrão achou que isso era o melhor que poderia esperar.

Deus havia lhe prometido muito mais do que ele poderia conseguir por si mesmo. E Eliezer não era o herdeiro prometido. Os descendentes de Abrão deveriam vir das suas próprias células reprodutivas. Seu filho viria dele mesmo.

A isto respondeu logo o SENHOR, dizendo: Não será esse o teu herdeiro; mas aquele que será gerado de ti será o teu herdeiro. (Gênesis 15:4)

A fim de tranquilizar Abrão, Deus o levou para fora e lhe mostrou as estrelas do céu. Sua posteridade, que viria por meio de seu filho, seria tão numerosa quanto elas.

O versículo seis descreve a reação de Abrão à revelação divina: “Ele creu no SENHOR, e isso lhe foi imputado para justiça” (Gênesis 15:6).

A tradução da New American Standard Version (Nova Versão Padrão Americana) não é muito apropriada. A primeira palavra, “então”3, tenta transmitir a ideia de que Abrão reagiu com fé à promessa de um filho. Neste sentido, é uma boa tradução. A dificuldade, no entanto, está em que “então” talvez transmita mais do que deveria. O versículo seis é a primeira vez onde a palavra “crer” é utilizada. É também a primeira vez onde Abrão é reconhecido como justo. Seria fácil concluir que Moisés estivesse dizendo ter sido aqui que Abrão veio a crer em Deus, e quando ele foi “salvo” (para usar um termo do Novo Testamento).

No livro de Hebreus, lemos: “Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia” (Hebreus 11:8).

Nesta passagem, o escritor aos Hebreus pretende nos fazer entender que Abrão já “acreditava” em Deus antes do capítulo 15 de Gênesis, antes de deixar Ur e ir para Canaã.

A solução não é tão difícil quanto parece. A gramática do versículo seis de Gênesis 15 mostra que Abrão não começou a ter fé naquele momento4. Ele não só já acreditava, como continuou acreditando. O “então” da tradução da NASV, portanto, talvez seja um pouco forte demais.

No entanto, por que Moisés esperou até este ponto para dizer que Abrão creu e foi justificado pela fé? A resposta de Lutero, a meu ver, parece a mais satisfatória. Sua fé ainda não tinha sido mencionada a fim de salientar que a fé salvadora é aquela focada na pessoa e na obra de Jesus Cristo5. Aqui, a fé professada por Abrão estava na promessa de um filho, por meio de quem viria bênção para o mundo todo. Embora não possamos determinar com clareza o quanto Abrão apreendeu de tudo isso, não podemos deixar passar as palavras do Salvador a esse respeito: “Abraão, vosso pai, alegrou-se por ver o meu dia, viu-o e regozijou-se” (João 8:56).

Mesmo que Abrão já acreditasse em Deus, neste ponto sua fé é realçada e definida com maior clareza. Sua fé está na promessa de Deus de abençoá-lo com um filho, e abençoá-lo por meio Dele. Foi aqui que Deus escolheu anunciar que sua fé era uma fé salvadora.

Observe três coisas a respeito da fé professada por Abrão:

(1) Primeiro, sua fé era pessoal. Com isso quero dizer que Abrão realmente acreditava no Senhor. Ele não se limitava a crer em coisas sobre Deus, Abrão cria nEle. Eis a diferença entre muitos que se dizem cristãos e aqueles que têm a Cristo — aqueles genuinamente nascidos de novo pela fé na pessoa de Cristo.

(2) Segundo, sua fé era fé proposicional. Embora Abrão cresse na pessoa de Deus, sua fé tinha como base Suas promessas. Muitas pessoas creem num deus definido por elas mesmas. Abrão cria no Deus da revelação. A aliança feita por Deus com ele (versículo 12 em diante) deu-lhe proposições específicas nas quais basear sua fé e vida prática.

(3) Sua fé também era uma fé prática. Com isso quero dizer que as convicções de Abrão requeriam ação. Nitidamente, suas obras não deram início à sua fé, mas elas a demonstraram (cf. Tiago 2:14 e ss). Além disso, sua fé estava relacionada a uma necessidade muito prática e perceptível — a necessidade de um filho. Deus não nos pede para crer em coisas abstratas, mas em coisas normais da vida.

Quando Moisés diz que a fé professada por Abrão foi-lhe imputada para justiça, ele não quis dizer que, de alguma forma, ela foi trocada por justiça. Sua fé, como a nossa hoje em dia, não era uma coisa invocada pelo poder mental ou espiritual. A fé, em si mesma, é um dom (Efésios 2:8-9). A fé professada por Abrão estava no filho que viria e em seus descendentes, um dos quais seria o Messias. Foi por Abrão confiar no Único que poderia prover sua justificação que Deus o declarou justo. Tecnicamente falando, a salvação (e a fé) é um dom, a justiça, no entanto, vem por meio de um processo legal de imputação. Abrão foi declarado legalmente justo por Deus porque confiou nAquele que era justo. A justiça de Cristo, imputada a Abrão devido à fé dada por Deus, o salvou.

O jeito de Deus salvar os homens não é novo. Nada mudou dos tempos do Antigo Testamento para o Novo. Deus sempre salvou os homens pela graça, por meio da fé. Não há outra forma. Enquanto Abrão foi salvo pela fé nAquele que viria, nós somos salvos pela fé nAquele que já veio. Esta é a única diferença.

Deus Tranquiliza Abrão Sobre a Posse da Terra que Um Dia Seria Sua (15:7-21)

Após cuidar da maior preocupação de Abrão ou seja, a de um herdeiro, Deus prossegue, fortalecendo sua fé quanto à terra que um dia seria sua: “Disse-lhe mais: Eu sou o SENHOR que te tirei de Ur dos caldeus, para dar-te por herança esta terra” (Gênesis 15:7).

A pergunta feita por Abrão não parece refletir algum tipo de incredulidade, só estranheza acerca de como isso se daria: “Perguntou-lhe Abrão: SENHOR Deus, como saberei que hei de possuí-la?” (Gênesis 15:8).

O tom é semelhante ao de Maria quando ela fica sabendo que iria ser a mãe do Messias: “Então, disse Maria ao anjo: Como será isto, pois não tenho relação com homem algum?” (Lucas 1:34).

Deus não repreende Abrão por sua pergunta, mas confirma Sua promessa com um pacto.

Respondeu-lhe: Toma-me uma novilha, uma cabra e um cordeiro, cada qual de três anos, uma rola e um pombinho. Ele, tomando todos estes animais, partiu-os pelo meio e lhes pôs em ordem as metades, umas defronte das outras; e não partiu as aves. Aves de rapina desciam sobre os cadáveres, porém Abrão as enxotava. (Gênesis 15:9-11)

No mundo antigo de Abrão, os contratos legais e vinculativos não eram documentos escritos por advogados e assinados pelas partes envolvidas. Em vez disso, as duas partes chegavam a um acordo mutuamente aceitável que depois era formalizado na forma de um pacto.

O pacto era selado dividindo-se um animal (ou animais) ao meio. Na verdade, o termo técnico literalmente significa “cortar um pacto”. O animal era cortado e as partes envolvidas passavam entre suas duas metades. Parece que nesse juramento os homens reconheciam que o destino do animal deveria ser o deles, caso quebrassem os termos do acordo.

Portanto, vemos que esses versículos não descrevem o processo de sacrifício de animais, mas o ato legal de concretizar um acordo vinculativo. Os versículos 9 a 11 preparam o terreno para a ratificação final do pacto.

Algum tempo parece ter se passado entre a preparação dos animais e a ratificação do pacto (cf. versículo 11). Em virtude dessa demora, Abrão cai num estado de transe profundo: “Ao pôr-do-sol, caiu profundo sono sobre Abrão, e grande pavor e cerradas trevas o acometeram” (Gênesis 15:12).

Em minha opinião, a causa do “grande terror e cerradas trevas” foi mais do que a consciência da presença de Deus. Creio ter sido uma reação normal ao horror gerado pela revelação do tratamento que seria dispensado aos filhos de Abrão nos quatrocentos anos seguintes. Seus descendentes iriam tomar posse da terra de Canaã, mas só depois de um tempo considerável e de muitas dificuldades:

Então, lhe foi dito: Sabe, com certeza, que a tua posteridade será peregrina em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos. Mas também eu julgarei a gente a que têm de sujeitar-se; e depois sairão com grandes riquezas. (Gênesis 15:13-14)

Com todo cuidado, o Egito não é mencionado como sendo a terra onde irá ocorrer a escravidão. Não só Abrão não precisava saber disso, como também um conhecimento prévio do cativeiro poderia ter sido prejudicial. Para quem leu as palavras de Moisés, no entanto, não foi problema saber que lugar era esse. Aliás, eles tinham acabado de sair do Egito. Que coisa mais estranha deve ter sido para aqueles israelitas lerem a profecia que descrevia com tanta precisão o seu sofrimento.

Parece haver duas razões para a espera de quatrocentos anos até a posse de Canaã. Primeira, os filhos de Abrão ainda não tinham condições (ou número suficiente) para tomar posse da terra. Segunda, o povo da terra ainda não era iníquo o bastante para ser expulso: “Na quarta geração, tornarão para aqui; porque não se encheu ainda a medida da iniquidade dos amorreus” (Gênesis 15:16).

Eis aqui um princípio importante, o que governa a posse do território de Canaã. Deus é o dono da terra (Levítico 25:23), e Ele a deixa para quem viver de acordo com a justiça. Quando Israel se esqueceu do seu Deus e praticou as abominações dos cananeus (cf. 2 Crônicas 28:3; 33:2), Deus também os lançou fora da terra.

À luz da atual discussão sobre quem tem direito legítimo sobre o território de Israel, devemos nos lembrar deste princípio. Deus é o dono da terra, não os judeus, nem os árabes. Deus não permitirá aos judeus tomar posse da terra e viver em iniquidade, assim como não permitirá aos gentios.

Durante os quatrocentos anos, ou mais, depois da época desta revelação, duas coisas ocorreram simultaneamente. Os cananeus se tornaram cada vez mais perversos, e o dia de seu julgamento, cada vez mais próximo, e a nação de Israel nasceu, cresceu rapidamente em número, e em maturidade espiritual, preparando-se para o dia da posse.

Este também não é um retrato dos nossos dias? Deus não disse que, nos últimos tempos, a iniquidade se tornaria cada vez maior (cf. 2 Tessalonicenses 2:1-12; 2 Timóteo 3:1-9; 2 Pedro 3:3 e ss)? Enquanto isso, Deus está nos purificando e preparando para a volta de Cristo (cf. Efésios 5:26-27; Colossenses 1:21-23; 1 Pedro 1:6-7). Os perversos irão receber o justo castigo pelo seu pecado, e os santos, o galardão de justiça.

Quando Deus falou com Abrão sobre sua morte em ditosa velhice, e sobre o destino da sua posteridade, Ele também ratificou Sua aliança quanto à terra que um dia seria de Israel:

E sucedeu que, posto o sol, houve densas trevas; e eis um fogareiro fumegante e uma tocha de fogo que passou entre aqueles pedaços. Naquele mesmo dia, fez o SENHOR aliança com Abrão, dizendo: À tua descendência dei esta terra, desde o rio do Egito até ao grande rio Eufrates: o queneu, o quenezeu, o cadmoneu, o heteu, o ferezeu, os refains, o amorreu, o cananeu, o girgaseu e o jebuseu. (Gênesis 15:17-21)

Este foi um pacto diferente, pois somente Deus, na forma de um fogareiro fumegante e uma tocha de fogo, passou por entre a carcaça dividida dos animais. Assim foi feito para significar que o pacto era unilateral e incondicional. Nenhuma condição foi exigida de Abrão para sua realização.

Os limites geográficos da terra foram claramente definidos, e até mesmo os povos que seriam despejados foram relacionados. Deus Se comprometeu com um curso muito específico de ação. Que mais poderia ser pedido?

Conclusão

O fator decisivo para Abrão foi que a promessa de Deus agora era muito mais específica. Ele teria um filho dele mesmo, por meio de quem as bênçãos seriam derramadas. Seus descendentes seriam muito numerosos e, no tempo certo, tomariam posse da terra. No entanto, antes disso, teriam de passar por um longo período de espera e muita dificuldade.

A essência da fé professada por Abrão foi sua satisfação com a presença de Deus enquanto esperava na promessa das bênçãos futuras. Ele não ficou com a pior parte. Seu grande galardão foi o próprio Deus: “Não temas, Abrão, eu sou o teu escudo, o teu grandíssimo galardão” (Gênesis 15:1, Almeida Corrigida e Revisada, Fiel).

Hoje em dia, nossa teologia tem sido muito distorcida. Somos convidados a aceitar a Cristo como Salvador por causa de tudo o que Ele pode e poderá fazer por nós. Nós O aceitamos pelas Suas dádivas, não pela Sua presença.

Abrão não foi tapeado ou ludibriado no tempo de Deus e nas dificuldades que ele e seus descendentes enfrentaram. Ele foi abençoado, pois Deus é a nossa porção, e isso foi suficiente.

Um dia antes de ministrar esta mensagem, realizei o funeral de uma jovem da nossa igreja. Era uma moça adorável, modelo de mãe e esposa. Ela tinha 28 anos e morreu enquanto dormia. Ainda não sabemos a causa da sua morte.

Para a mensagem do ofício fúnebre, escolhi o texto do Salmo 73. Nele, o salmista confessa sua perplexidade diante do fato tão frequente de que o justo parece sofrer (versículo 4) enquanto o ímpio prospera (versículos 3 a 12). No entanto, quando o escritor pondera sobre o destino eterno dos homens, ele percebe que no final Deus coloca as coisas em pratos limpos. As exigências da justiça nem sempre são plenamente satisfeitas até que chegue a eternidade. O céu e o inferno são, portanto, requisitos da justiça. Sem eles, a justiça não é satisfeita.

Isso leva o salmista a concluir que o melhor na vida não é ser livre da dor do sofrimento ou da pobreza, mas conhecer a Deus:

Todavia, estou sempre contigo, tu me seguras pela minha mão direita. Tu me guias com o teu conselho e depois me recebes na glória. Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terra. Ainda que a minha carne e o meu coração desfaleçam, Deus é a fortaleza do meu coração e a minha herança para sempre… Quanto a mim, bom é estar junto a Deus; no SENHOR Deus ponho o meu refúgio, para proclamar todos os seus feitos. (Salmo 73:23-26, 28)

Eis, então, a chave para o entendimento da bênção que pode ser encontrada na espera e na dificuldade: enquanto a prosperidade muitas vezes nos leva para longe de Deus (cf. Salmo 73:7-12), a aflição nos aproxima Dele (Salmo 73:25-26).

Se a proximidade de Deus é o bem maior, então o sofrimento também é, se fortalece a nossa intimidade com Ele. E a prosperidade é ruim, se nos leva para longe do bem de conhecer a Deus.

Creio ser esta a chave do capítulo 15 de Gênesis. A fé professada por Abrão é fortalecida pela revelação específica a respeito de seu filho e da terra que será herdada pela sua posteridade. Mas, muito além disso, ele é levado a perceber que a fé não pode andar separada do sofrimento, pois Deus o usa para trazer os homens à íntima comunhão com Ele.

A fé raramente é fortalecida pelo sucesso (cf. o versículo 1), mas pela confiança em Deus enquanto esperamos e enfrentamos dificuldades.

Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor. (Romanos 8:31-39)

Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus. Considerai, pois, atentamente, aquele que suportou tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo, para que não vos fatigueis, desmaiando em vossa alma. Ora, na vossa luta contra o pecado, ainda não tendes resistido até ao sangue e estais esquecidos da exortação que, como a filhos, discorre convosco: Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor, nem desmaies quando por ele és reprovado; porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe. É para disciplina que perseverais (Deus vos trata como filhos); pois que filho há que o pai não corrige? Mas, se estais sem correção, de que todos se têm tornado participantes, logo, sois bastardos e não filhos. Além disso, tínhamos os nossos pais segundo a carne, que nos corrigiam, e os respeitávamos; não havemos de estar em muito maior submissão ao Pai espiritual e, então, viveremos? Pois eles nos corrigiam por pouco tempo, segundo melhor lhes parecia; Deus, porém, nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade. Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça. Por isso, restabelecei as mãos descaídas e os joelhos trôpegos; e fazei caminhos retos para os pés, para que não se extravie o que é manco; antes, seja curado. (Hebreus 12:1-13)

Tradução: Mariza Regina de Souza


1 Esta é a primeira vez que expressão “veio a palavra do SENHOR…”, encontrada no versículo 1, é empregada no Antigo Testamento. Em geral ela é usada para introduzir uma revelação divina a um dos profetas de Deus (por exemplo, 1 Samuel 15:10). Não podemos nos esquecer de que, mais à frente, Abrão é chamado de profeta (Gênesis 20:7). Isso parece indicar que Moisés entendeu que essa revelação foi dada a Abrão para o seu benefício e para o nosso.

2 A descoberta de uma porção de tábuas de adoção em Nuzi tem sido de grande auxílio para a compreensão das palavras de Abrão: “Uma das tábuas diz: ‘A tábua de adoção pertencente a {Zike}, filho de Akkuya: ele deu seu filho Shennima em adoção para Shuriha-ilu, e Shuriha-ilu, com referência a Shennima, (de) todas as terras… (e) seus ganhos de toda sorte deu a Shennima uma (parte) de sua propriedade. Se Shuriha-ilu tiver um filho dele mesmo, como (filho) principal ele terá dupla porção; Shennima será, então, o seguinte (e) levar sua parte adequada . Enquanto Shuriha-ilu viver, Shannima o venerará. Quando Shuriha-ilu {morrer}, Shennima se tornará seu herdeiro’”. Mesopotomian Legal Documents, traduzido para o inglês por Theophile J. Meek, in Pritchard, ANET, p. 220, como citado por John J. Davis, Do Paraíso à Prisão: Estudos em Gênesis (Grand Rapids: Baker Book House, 1975), p. 185.

3 NT: A palavra não ocorre na maioria das versões em português.

4 “A forma é incomum, perfeito com waw, não como seria de esperar, imperfeito com waw conversivo. Aparentemente, com esta deixa o autor estaria indicando que a permanência dessa postura deve ser salientada: não apenas: Abrão creu esta única vez, mas: Abrão provou constantemente a sua fé…” H. C. Leupold, Exposição de Gênesis (Grand Rapids Baker Book House, 1942), I, p. 477.

5 “Sentimos que a nossa resposta deve ter a mesma forma que a de Lutero, o qual salienta que a justificação pela fé é primeiramente revelada nas Escrituras em uma conexão onde o Salvador é claramente envolvido, a fim de que ninguém se aventure a dissociá-la dEle”. Leupold, Gênesis, I, p. 479.

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